A Coreia do Norte enviará milhares de militares e especialistas em remoção de minas para a região de Kursk, na Rússia, para ajudar na reconstrução da região após uma incursão ucraniana que as tropas norte-coreanas ajudaram a repelir este ano, segundo um alto funcionário de segurança russo.
Sergei Shoigu, secretário do Conselho de Segurança da Rússia e ex-ministro da Defesa com estreitos laços com o presidente Vladimir Putin, falou após negociações com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, em Pyongyang, o segundo encontro dos dois em apenas duas semanas. Ele disse que estava cumprindo o que chamou de “instruções especiais” de Putin.
Sua visita ocorreu em um momento em que os laços entre Moscou e Pyongyang —que se aproximam diante do que chamam de hostilidade do Ocidente— estão se desenvolvendo rapidamente. Poucos dias antes, Shoigu anunciou que o primeiro trem direto desde 2020 entre Moscou e a capital norte-coreana já havia partido.
Shoigu disse esperar que voos diretos entre Moscou e Pyongyang também sejam retomados pela primeira vez em mais de 30 anos.
A visita dele provavelmente será observada de perto no Ocidente, já que os Estados Unidos, a Coreia do Sul e a própria Ucrânia acusaram a Coreia do Norte de fornecer assistência militar em massa à Rússia para continuar sua guerra contra Kiev, algo que Moscou e Pyongyang não reconheceram publicamente. Shoigu disse que as negociações duraram mais de duas horas.
Em uma entrevista coletiva, Shoigu afirmou que a Coreia do Norte começará em breve a reconstruir Kursk, depois que Moscou —com a ajuda de milhares de tropas norte-coreanas— expulsou as forças ucranianas da região no início deste ano, após uma incursão surpresa em agosto de 2024.
“Kim Jong-un decidiu enviar mil homens à Rússia para desarmar minas no território russo, bem como 5.000 mil trabalhadores militares de construção para reconstruir as instalações de infraestrutura destruídas pelos ocupantes”, disse Shoigu, citado pela agência de notícias estatal russa Tass. “Acho que esse trabalho começará em breve.”
Shoigu, após visitas a Pyongyang em março e junho, entregou uma mensagem de Putin a Kim, discutindo relações EUA-Rússia, a Ucrânia, a situação na Península Coreana e outras questões de segurança. Ele foi recebido no aeroporto por uma guarda de honra e pelo marechal Pak Jong-chon, segundo no comando do Exército norte-coreano.
A publicação russa Rossiiskaya Gazeta divulgou um vídeo de Kim —vestindo um terno tradicional chinês— abraçando Shoigu na chegada antes de acompanhá-lo até uma sala com uma longa mesa de negociações.
“Passaram-se duas semanas e estamos nos encontrando novamente”, disse Kim, antes de sorrir.
“A instrução do presidente deve ser cumprida”, respondeu Shoigu, que concordou quando Kim disse que as visitas frequentes de Shoigu mostravam que os laços entre Moscou e Pyongyang estavam se fortalecendo.
Em uma mensagem da semana passada, Kim chamou Putin de “meu camarada mais querido” e elogiou as relações bilaterais como uma “verdadeira relação entre camaradas de armas”.
Shoigu disse que sua visita estava ligada ao tratado de parceria estratégica assinado por Kim e Putin que incluía um pacto de defesa mútua. Moscou mais tarde fez referência ao acordo ao explicar o envio de soldados norte-coreanos para Kursk.
Durante a reunião, Shoigu mencionou que ele e Kim discutiram planos para a construção de um complexo memorial em Pyongyang dedicado às tropas norte-coreanas.
A inteligência militar britânica informou esta semana que as tropas norte-coreanas sofreram mais de 6.000 baixas em Kursk. O país asiático não divulgou suas perdas.
Os EUA e a Coreia do Sul afirmam que a Coreia do Norte enviou mísseis balísticos, foguetes antitanque e milhões de cartuchos de munição para a Rússia usar em sua guerra contra a Ucrânia. Moscou e Pyongyang negam.
Uma investigação da Reuters em abril de 2025 descobriu que milhões de projéteis norte-coreanos haviam chegado à linha de frente em grandes remessas por mar e depois por trem.