Um desfile militar grandioso e outras festividades planejadas para ocorrer em Washington em junho custarão de US$ 25 a 45 milhões, disse um porta-voz do Exército dos Estados Unidos. Os eventos envolverão dezenas de aviões de guerra, centenas de veículos militares e milhares de soldados de todo o país, que dormirão em prédios governamentais no centro da cidade.

O desfile vai comemorar o 250º aniversário do Exército americano e será realizado em 14 de junho —mesmo dia em que o presidente Donald Trump completa 79 anos. O evento incluirá representação de todas as divisões ativas do Exército, disse Steve Warren, porta-voz da força.

A data do desfile, que coincide com o aniversário de Trump, provocou indignação entre alguns civis e veteranos, especialmente no momento em que seu governo corta recursos no Departamento de Assuntos de Veteranos.

Há algum tempo o presidente cogita colocar na capital soldados marchando, tanques percorrendo as ruas e aeronaves rugindo no céu, mas havia desistido da ideia em 2018, diante da resistência do Exército e de autoridades de Washington devido aos custos exorbitantes e aos danos que os tanques poderiam causar às estradas.

A tensão que cerca este evento deixa evidente a dupla identidade de Washington como sede do governo federal dos EUA —uma cidade profundamente democrata, que votou esmagadoramente contra Trump três vezes. Há expectativa de grandes protestos.

Cerca de 3.000 militares serão alojados em andares não utilizados de um edifício da Administração de Serviços Gerais, e 2.000 ficarão em um prédio do Departamento de Agricultura, disse Warren. Segundo ele, a maioria dos militares participantes chegará alguns dias antes do desfile e partirá em 16 de junho.

Os veículos chegarão à região por ferrovia e serão transportados de caminhão para a cidade, disse ele. As aeronaves chegarão voando.

No total, espera-se que 150 veículos, 50 aeronaves e 6.600 soldados participem das festividades, anunciou o Exército. Haverá um show de fogos de artifício e um festival de dia inteiro no National Mall com demonstrações militares, apresentações musicais e uma competição de aptidão física.

Após uma entrevista inicial com o The Post sobre o custo do desfile, Warren disse que a estimativa que ele forneceu para o desfile incluía outros eventos ocorrendo naquele dia. Declarou não ter conseguido fornecer um detalhamento dos custos de cada um dos eventos do dia.

O desfile fará parte de uma celebração de uma semana marcando o aniversário do voto do então Congresso Continental, em 14 de junho de 1775, para criar oficialmente o Exército Continental, com função de defender as antigas 13 colônias de possíveis ações dos britânicos. Outros eventos incluem uma corrida de aniversário do Exército em Fort Myer e uma nova exposição no Museu Nacional do Exército dos EUA.

Cada divisão é responsável pelo financiamento do transporte de pessoal e equipamento para a região de Washington.

“Eles financiarão, é claro, mas acho que a nota importante é que isso não afetará sua capacidade de treinar ou se abastecer”, disse Warren. “Quando as unidades precisam de mais dinheiro, nós damos mais dinheiro a elas.” Os planos do desfile estão em andamento há mais de um ano, disse ele.

Uma solicitação apresentada inicialmente previa que o desfile começasse no estacionamento norte do Pentágono às 18h, cruzasse a Arlington Memorial Bridge para Washington e continuasse pela Constitution Avenue NW, terminando na 15th Street. A solicitação foi apresentada pela America250.org, uma organização sem fins lucrativos.

Os Golden Knights do Exército saltarão de paraquedas até o Ellipse, onde haverá um “palanque presidencial”, arquibancadas e um palco para concertos, diz a solicitação.

“O cortejo contará a história do Exército, começando com a Guerra Revolucionária e concluindo com o Exército moderno”, disse anteriormente a porta-voz do Exército, Heather Hagan.

Enquanto isso, manifestantes de todo o país também estão fazendo seus próprios planos, pretendendo protestar contra Trump “e a máquina de guerra” em Washington, de acordo com uma solicitação de autorização apresentada ao Serviço Nacional de Parques na semana passada.

Andy Koch, um organizador de Minneapolis da Freedom Road Socialist Organization que está ajudando a planejar o protesto, disse que um grupo espera se reunir no Meridian Hill Park, no noroeste de Washington, e depois marchar em direção ao desfile militar.

“Como veterano do Exército, tenho orgulho do aniversário do Exército”, disse Naveed Shah, diretor político da Common Defense, uma organização progressista liderada por veteranos, “mas este desfile parece ser todo para o ego do presidente, e não para as tropas que sacrificam tudo para servir nosso país.”

Sete anos atrás, quando Trump, em seu primeiro mandato, propôs um desfile inspirado em um que ele viu na França, sua visão foi rapidamente recebida com zombaria de líderes locais e residentes preocupados com danos às estradas e custos.

O Conselho de Washington ofereceu uma mensagem simples nas redes sociais: “Tanques, mas Não, Obrigado!” A prefeita escreveu em um tweet que viralizou: “Sim, eu sou Muriel Bowser, prefeita de Washington DC, a política local que finalmente conseguiu fazer o astro da realidade na Casa Branca entender as realidades (21,6 milhões de dólares) de desfiles/eventos/manifestações na América de Trump (triste).”

Desde que Trump retornou ao Salão Oval, porém, Bowser adotou uma postura diferente em relação ao presidente, tentando equilibrar-se entre desencorajar a intervenção federal e usar prioridades compartilhadas por sya gestão e pelo governo federal para beneficiar o Distrito de Columbia.

Ainda assim, Bowser disse no mês passado, em um evento não relacionado, que suas preocupações sobre tanques militares nas ruas da cidade ainda se aplicam.

O Exército está trabalhando com a polícia local, o Serviço Nacional de Parques, o Departamento de Transporte do Distrito, a Administração Federal de Rodovias, a Polícia de Parques dos EUA e a DC Water, que avaliará as estradas e pontes, disse Hagan, a porta-voz do Exército.

A última vez que tropas desfilaram em Washington foi em 1991, quando 800 mil pessoas tomaram a capital do país para homenagear os militares da Guerra do Golfo e assistir a uma exibição de equipamentos militares com sete quarteirões de extensão.