Dianne Feinstein, que ganhou destaque por sua atuação no Senado dos Estados Unidos ao longo de três décadas, morreu na noite de quinta-feira (29) aos 90 anos. Ela era a parlamentar mais idosa da Casa.
A morte, confirmada por integrantes de sua família, ocorre meses após ela ter anunciado que pretendia se aposentar ao final de seu mandato em janeiro de 2025. A notícia encerrou especulações sobre se ela buscaria outro mandato no Capitólio e desencadeou uma corrida entre os democratas da Califórnia que pretendem sucedê-la.
A vida política de Feinstein se desenrolou em anos tensos no Senado, em que o ex-presidente Bill Clinton foi impugnado e absolvido, e os EUA entraram em guerra no Afeganistão e no Iraque. Ao longo do mandato tempo, ela defendeu de forma ferrenha os direitos civis e o controle de armas. Também denunciou abusos em medidas de segurança nacional contra acusados de terrorismo.
Candidata dura que abraçava com frequência ideias conservadoras, Feinstein foi prefeita de San Francisco de 1978 a 1988. Após perder uma disputa ao governo da Califórnia para Pete Wilson, um republicano, em 1990, ela venceu uma eleição especial para o Senado em 1992. Foi escolhida para ocupar novamente o cargo em 1994 e reeleita com largas margens em 2000, 2006 e 2012.
Quando Feinstein venceu o sexto mandato em 2018, ela já era a membro mais velha do Senado, tendo sobrevivido a quatro presidências nos EUA e testemunhado o início de uma quinta, a de Joe Biden.
Feinstein alcançou avanços políticos notáveis como mulher, tornando-se a primeira prefeita de San Francisco; a primeira a ser considerada candidata a vice-presidente, em 1984 (Walter Mondale escolheu Geraldine Ferraro); a primeira candidata de um grande partido para governadora da Califórnia; a primeira mulher eleita para o Senado pelo estado; e, com o tempo, ganhou destaque entre os membros mais antigos da Casa.
Ela presidiu as cerimônias de posse do ex-presidente Barack Obama, em 2009, outro feito inédito para uma mulher. E em novembro de 2022, após 30 anos no Senado, ela superou o recorde de Barbara A. Mikulski como a senadora com mais tempo de mandato na história americana.
Feinstein se considerava uma centrista política e às vezes mudava de opinião. Ela foi contra e depois apoiou o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a pena de morte. Suas mudanças mais notáveis, no entanto, ocorreram após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.
Ela votou a favor da guerra no Iraque e, por um tempo, apoiou as políticas do presidente republicano George W. Bush para detenção e interrogatório de suspeitos de terrorismo, a maioria dos quais foram transferidos para a prisão de Guantánamo, em Cuba, em 2006.
Mas em 2007, Feinstein defendeu o fechamento de Guantánamo e, em 2014, como presidente do comitê de inteligência do Senado, supervisionou um relatório que criticou e detalhou o programa pós-11 de setembro da CIA para detenção de suspeitos de terrorismo em prisões secretas ao redor do mundo e os submetendo a tortura, supostamente para descobrir e prevenir novos ataques.
Obama havia ordenado o fim de tais práticas depois de assumir o cargo em 2009, embora grupos de direitos humanos tenham afirmado que muitas continuaram por anos.
“Minhas palavras não me dão prazer”, disse Feinstein ao Senado quando o relatório foi divulgado. “No entanto, tais pressões, medo e expectativa de futuros complôs terroristas não justificam, atenuam ou desculpam ações impróprias tomadas por indivíduos ou organizações em nome da segurança nacional. A principal lição deste relatório é que, independentemente das pressões e da necessidade de agir, as ações da comunidade de inteligência devem refletir quem somos como nação e aderir às nossas leis e padrões.”
Feinstein tinha história de vida difícil, e seu rosto estava marcado por dificuldades: uma infância de abuso por uma mãe mentalmente instável e alcoólatra, um doloroso divórcio que a deixou como mãe solteira jovem, e as mortes de seu pai e de seu segundo marido após lutas prolongadas contra o câncer.
Aos 45 anos, ainda desconhecida fora de sua cidade natal, ela parecia ter fracassado na política. Feinstein era presidente do Conselho de Supervisores de San Francisco, a legislatura da cidade-condado, e uma candidata praticamente sem esperanças para prefeita. Ela já havia perdido duas vezes nas eleições não partidárias para prefeito da cidade, em 1971 para Joseph Alioto e em 1975 para George Moscone.
E sua vida havia sido ameaçada: uma bomba foi colocada em sua casa, supostamente por membros da Frente de Libertação do Novo Mundo, um dos vários grupos radicais clandestinos que operavam na área da Baía. A bomba não explodiu, mas as janelas de sua casa de férias foram alvejadas.
Em 27 de novembro de 1978, no limite de suas forças, Feinstein disse que pretendia abandonar a vida política. Duas horas depois, tiros explodiram no corredor próximo ao seu escritório. Ela correu em direção aos disparos e, momentos depois, ajoelhou-se ao lado de um prefeito moribundo. Moscone e Harvey Milk, o primeiro supervisor abertamente gay da cidade, que foi baleado em outro escritório, foram mortos por Dan White, um ex-supervisor insatisfeito, que foi rapidamente capturado e preso.