A Argentina volta às urnas neste domingo (26), para renovar metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. São 127 das 257 cadeiras da Câmara e 24 das 72 do Senado que estão em disputa.
As pesquisas indicam que o partido do presidente, A Liberdade Avança, deve crescer modestamente no Congresso. O avanço, porém, será insuficiente para transformar a atual minoria em maioria. Analistas projetam um ganho de até uma dúzia de cadeiras na Câmara, mantendo Javier Milei dependente de alianças ocasionais com forças de centro-direita.
Mas mesmo um resultado ligeiramente melhor não significará vitória política. A eleição tende a consolidar um governo sem base estável, em meio a uma economia que patina e a uma crescente insatisfação social.
A economia argentina vive um momento de exaustão. O país enfrenta uma combinação de recessão, câmbio instável e empobrecimento generalizado. A pobreza atinge 31,6% da população, e o desemprego é de 7,6%. O consumo doméstico caiu, o investimento encolheu, e o governo depende cada vez mais de exportações pontuais de energia e de alimentos para manter as contas externas equilibradas.
Milei vive o esgotamento do ajuste fiscal prometido como solução para todos os males. O superávit primário obtido no primeiro semestre se sustentou com cortes drásticos em subsídios, obras públicas e transferências às províncias. Mas a arrecadação estagnou, e o dólar paralelo voltou a subir nas últimas semanas. O Banco Central queimou reservas para conter a escalada, e a pressão política por uma desvalorização aumenta.
Diante desse quadro, o governo já concretizou um acordo de US$ 20 bilhões com os Estados Unidos. O pacote, apresentado como um swap cambial para fortalecer as reservas e estabilizar o peso, foi celebrado por Milei como prova de confiança. O gesto, no entanto, tem claros componentes políticos: o acordo é visto como um aceno ao aliado libertário em plena campanha eleitoral.
Na prática, o resgate americano funciona mais como um colchão temporário do que como solução de longo prazo. Algo já visto em outros governos, como o de Mauricio Macri —e que acabou selando o início de sua derrocada.
Nas últimas semanas, a percepção de instabilidade voltou a crescer. Na lista de calamidades que pesam sobre o governo destacam-se o escândalo das supostas propinas na Agência de Deficiência, envolvendo Karina Milei, irmã e braço-direito do mandatário, e o caso de financiamento eleitoral por um empresário procurado por vínculos com o narcotráfico, ligado ao ex-candidato libertário José Luis Espert.
A isso se soma o impacto negativo das medidas econômicas sobre a atividade, o emprego e a renda. A compressão do gasto público e a alta dos preços em setores essenciais atingem diretamente a classe média e os trabalhadores informais, principais bases de apoio inicial de Milei. Nada disso passou despercebido pela população, embora ainda seja incerto quantos transformarão sua irritação em voto neste domingo.
O presidente já anunciou que, logo após a eleição, fará uma ampla reforma de gabinete. No núcleo duro do governo, reconhece-se que será necessário ampliar a base de sustentação política para enfrentar a segunda metade do mandato. O gesto confirma a profundidade da crise e a percepção de que, mesmo antes do resultado das urnas, Milei já governa em modo de contenção de danos.




