Embaixadora Reino Unido: COP30 é teste do multilateralismo – 18/10/2025 – Mundo

Embaixadora Reino Unido: COP30 é teste do multilateralismo - 18/10/2025


O Brasil e o Reino Unido comemoram, neste sábado (18), 200 anos de relações bilaterais. Em entrevista à Folha, a embaixadora britânica no Brasil, Stephanie Al-Qaq, 49, no cargo desde 2022, traça paralelos entre os dois países, como o crescimento de grupos de ultradireita e os desafios das lideranças do presidente Lula e do primeiro-ministro Keir Starmer, ambos de uma esquerda que se voltou ao centro para retornar ao poder.

A diplomata, que recebeu, em Brasília, um transplante de fígado no ano passado após agravamento de uma dengue, falou também da proximidade entre o SUS e o NHS, o sistema público de saúde britânico, das mudanças no sistema migratório do país e das expectativas do governo britânico para a COP30, que terá a presença do príncipe William.

SISTEMAS PÚBLICOS DE SAÚDE: O SUS E O NHS

“O Brasil e o Reino Unido estão entre os poucos países que possuem sistemas públicos de saúde, e claro que existem críticas. Mas posso dizer que em outros países sem sistemas públicos de saúde, a situação é muito pior para algumas das pessoas mais vulneráveis. Então devemos nos orgulhar de nossos sistemas. Isso não significa que eles não precisem melhorar.

O SUS foi inspirado no NHS, e isso é motivo de orgulho para nós. À medida que ambos os sistemas se modernizam, eles podem aprender um com o outro.

Uma das coisas que foi incorporada ao nosso plano de dez anos é um programa sobre atenção primária à saúde —o ministro [Alexandre] Padilha [Saúde] esteve no Reino Unido na semana passada. Muitas de nossas empresas também operam no Brasil há muito tempo: GSK, AstraZeneca, Halion, Reckitt, elas estão bem estabelecidas dentro do SUS.”

IMIGRAÇÃO

“Queremos continuar a incentivar trabalhadores talentosos a irem para o Reino Unido, como médicos, enfermeiros. Sabemos que temos um grande número de pessoas de origem estrangeira no NHS, e isso torna o sistema mais forte.

O que estamos tentando fazer com as novas regras [de imigração] é tentar impedir a migração ilegal. Inicialmente, combatemos as gangues de crime organizado que estão trazendo pessoas através do canal [da Mancha] em pequenos barcos.

Não estamos tentando fugir da nossa responsabilidade de aceitar pessoas que têm uma razão genuína para estar no Reino Unido; sempre fomos firmes nisso e continuaremos a ser. O que estamos tentando impedir são as pessoas que não têm um direito legítimo de estar no Reino Unido.”

REFORMA DAS INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS E CRISE DO MULTILATERALISMO

“Somos um dos precursores e defensores mais vocais da reforma do sistema internacional. Acreditamos que este sistema tem a melhor chance de representar o maior número de pessoas de forma justa, mas ele está sob forte ataque.

Agora, sabemos que há quem se oponha à reforma: preferem o status quo ou minar completamente o sistema multilateral e acabar com ele. Por isso, à medida que avançamos com a reforma, seja da ONU ou das instituições financeiras internacionais, precisamos fazê-lo de uma maneira que não destrua todo o sistema.

Está avançando tão rápido quanto gostaríamos? Não. Está avançando tão rápido quanto o Brasil gostaria? Não, certamente não. Precisamos fazer isso, e este é um caso em que o pragmatismo lento e paciente precisa prevalecer. E esse é um espaço em que o Reino Unido é muito bom. Somos pragmáticos e podemos ser pacientes.

É por isso que a COP30 é tão importante, porque este é um grande teste para o multilateralismo, em momento de grande incerteza global, e há muito peso sobre os ombros do Brasil para fazer isso funcionar. Não podemos sair da COP com o sistema multilateral enfraquecido.”

PREPARAÇÕES PARA COP30

“Sua Majestade, o rei [Charles 3º] tem uma relação muito próxima com o Brasil. Ele visitou várias vezes quando era o príncipe de Gales e mantém um interesse muito ativo no Brasil.

[A questão ambiental] também tem sido um trabalho de toda a vida para ele. Mas acho que ele também entende que chegamos a um ponto em que esta é a próxima geração que precisa estar engajada, e não podemos ser apenas pessimistas.

É aí que o príncipe William, o príncipe de Gales, entra, porque ele está igualmente ligado às questões de clima e natureza como seu pai, mas aborda isso de um ângulo ligeiramente diferente, que é sobre como usamos isso como uma oportunidade para iluminar, identificar, aprimorar e expandir as inovações que estão acontecendo globalmente. Sua decisão de realizar o prêmio Earthshot [láurea criada por William para reconhecer iniciativas ambientais] aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, e representar seu pai na COP não é algo pequeno.”

CRESCIMENTO DA ULTRADIREITA

“Eu estava lá [em Londres, quando uma grande manifestação da ultradireita tomou as ruas da capital, em setembro, e terminou com ao menos 25 detidos e 26 policiais feridos em meio a confrontos e gritos anti-imigração]. Fiquei chocada. E não penso que isso signifique que estou desconectada da maioria da população do Reino Unido. Acho que a maioria também ficou surpresa [com a agressividade da manifestação].

É por isso que o primeiro-ministro [o trabalhista Keir Starmer] se manifestou com tanta força para recuperar nossa bandeira [como símbolo]. Nossa bandeira representa todos no Reino Unido, independentemente da sua origem, da sua classe social.

Aqui no Brasil vocês tiveram problemas com a bandeira sendo sequestrada. Esse não é um problema exclusivo do Reino Unido, e houve alguma interferência estrangeira na narrativa —é público que Elon Musk falou na manifestação. De novo, o primeiro-ministro foi igualmente firme de que não aceitaremos interferência estrangeira de ninguém na nossa democracia.”

“Acho que o espaço para líderes progressistas como Starmer e como Lula, como [o premiê canadense Mark] Carney, entre outros, é pequeno e é realmente difícil permanecer nesse espaço. Você precisa ter valores muito fortes, uma moral muito forte e fincar o pé no chão [em meio a ataques dos dois lados do espectro político].

A coisa mais fácil a fazer é deixar esse espaço e se tornar mais extremo. Mas isso não vai entregar resultados, não funciona. São apenas frases de efeito.”


Stephanie Al-Qaq, 49

Nomeada em 2022 para a embaixada do Reino Unido em Brasília, foi também enviada do país ao Irã e diretora de Segurança Regional no Ministério de Relações Exteriores britânico. Ingressou no governo em 2002. Antes, atuou em trabalhou em organizações como Anistia Internacional, Human Rights Watch, Reuters, além da Câmara dos Comuns do Parlamento britânico. É graduada em política internacional pela Universidade de Birmingham e mestre em relações internacionais pela Universidade de Londres. É casada e tem três filhos.



Fonte CNN BRASIL

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