Esperança: Papa Francisco amarra sua vida à dos imigrantes – 05/02/2025 – Mundo

Esperança: Papa Francisco amarra sua vida à dos imigrantes -


Pode-se discordar do papado de Jorge Mario Bergoglio por uma infinidade de motivos, mas ninguém pode acusá-lo de falta de coerência.

Se estivéssemos falando de outro papa, seria inusitado começar uma autobiografia descrevendo em detalhes um naufrágio no qual nem ele nem seus familiares estavam presentes —mas Francisco não costuma dar ponto sem nó.

O desastre da embarcação italiana Principessa Mafalda, em 1927, é narrado pelo papa e seu coautor, o editor Carlo Musso, com tintas de “Titanic”.

Há músicos tocando sem parar no convés para tentar acalmar os presentes, navio inclinado num ângulo absurdo antes de finalmente afundar no oceano, botes salva-vidas insuficientes e passageiros mais humildes como as principais vítimas entre os 350 mortos.

O Principessa Mafalda foi a pique na costa da Bahia. Os avós paternos e o futuro pai do papa —Bergoglio só nasceria em 1936— originalmente viriam da Itália para a Argentina naquele navio, mas tiveram dificuldades para se livrar de seus bens no país natal e acabaram trocando a passagem.

A história poderia motivar apenas uma reflexão sobre a Providência Divina e seu lado inescrutável, mas Francisco a emprega para amarrar a experiência de seus familiares com a dos imigrantes do século 21, que hoje morrem no litoral de muitos países europeus, inclusive o da Itália. É assim que ele descreve o simbolismo de sua visita à ilha de Lampedusa, a sudoeste da Sicília.

“Poucas semanas antes eu ficara sabendo da notícia de mais um naufrágio, e então meu pensamento voltava a isso continuamente, como um espinho no coração”, diz ele. “Também nasci numa família de migrantes. Eu também poderia estar entre os descartados de hoje, tanto que sempre trago uma pergunta: por que eles e não eu?”

Os ataques de Francisco à “cultura do descarte” e à “globalização da indiferença” talvez pareçam mais inócuos do que nunca diante da resiliência política de figuras como Donald Trump, mas recuos estratégicos não são do feitio dele.

Ao narrar o passado da própria família na região italiana do Piemonte, por exemplo, suas lembranças destacam o incômodo e mesmo a revolta com a ascensão do fascismo de Mussolini (originalmente de grande virulência anticlerical, antes que o ditador fizesse as pazes com o Vaticano).

E o papa não se furta a fazer paralelos entre Mussolini e Hitler, de um lado, e os que estimulam “o medo do outro” e os “construtores de muros” do momento atual.

Numa escala bem menos sinistra, Francisco tampouco recua diante do crescimento (em termos demográficos, ainda pequeno) de comunidades tradicionalistas dentro da Igreja Católica, fascinadas pela missa em latim, por exemplo.

Ele reproduz o relato de um cardeal americano procurado por dois jovens padres, recém-ordenados, que queriam celebrar a Eucaristia na língua de Roma. Os dois dizem ao cardeal que não sabem latim, mas que vão estudar o idioma.

“Então façam o seguinte”, teria dito o cardeal. “Antes de aprender latim, observem sua diocese e vejam quantos imigrantes vietnamitas existem nela; então, antes de qualquer outra coisa, estudem a língua vietnamita.”

O lado irredutível do papa, mesmo diante de ventos políticos contrários, está longe de ser a única faceta de “Esperança”. Em grande medida, o livro também busca ser um pequeno tratado sobre a “banalidade do bem”.

Nesse ponto, tal como é possível ver em outros textos assinados por Francisco, fica claro como suas experiências diferem pouco de qualquer pessoa de sua geração que tenha crescido numa cidade sul-americana.

O papa celebra os laços familiares estreitos, as paróquias de bairro, a possibilidade de brincar na rua. Alguns de seus trechos mais líricos são dedicados ao futebol, a seu time do coração, o San Lorenzo de Almagro, e ao tango.

“Um belo tango sabe fazer até o silêncio dançar”, diz Francisco, que afirma ainda não ser o primeiro papa fã do ritmo portenho —segundo ele, um dançarino argentino famoso teria se apresentado diante de Pio 11 nos anos 1920.

Talvez seja preciso um milagre para assumir um posto como o dele e não se transformar numa caricatura de si mesmo conforme o tempo passa. Em trechos como esses, porém, é difícil não sentir o cheiro da autenticidade.



Fonte CNN BRASIL

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