O Serviço Secreto dos Estados Unidos encontrou e apreendeu em agosto deste ano uma rede ilícita de equipamentos na região de Nova York capaz de desligar a rede de celular nas proximidades da sede da ONU, onde líderes estrangeiros se preparam para a Assembleia-Geral da organização, anunciou a agência nesta terça-feira (23).
Autoridades disseram que a rede anônima, que incluía mais de 100 mil chips e 300 servidores, poderia interferir nos serviços de resposta a emergências e poderia ser usada para realizar comunicação criptografada. Segundo um funcionário, a rede era capaz de enviar 30 milhões de mensagens de texto por minuto anonimamente, uma operação que a agência nunca tinha visto antes.
No entanto, não há informações específicas de que a rede, agora desmantelada, representasse uma ameaça à conferência em si, de acordo com autoridades do Serviço Secreto que falaram com o jornal americano The New York Times sob condição de anonimato. A agência lidera as operações de segurança das reuniões da ONU desta semana.
A assembleia reúne mais de 100 líderes estrangeiros e suas equipes e tem sido descrita como o Super Bowl dos jogos de espionagem —a sofisticação dos equipamentos recentemente descobertos sugere que a rede poderia ser parte de uma operação de vigilância de uma nação, segundo especialistas.
A análise inicial dos dados em alguns dos chips identificou relação com pelo menos uma nação estrangeira, bem como conexões com criminosos já conhecidos pelas autoridades policiais dos EUA, incluindo membros de cartéis, disseram autoridades do Serviço Secreto a jornalistas nesta segunda, em uma ligação prévia ao anúncio de terça.
“Continuaremos trabalhando para identificar os responsáveis e suas intenções, incluindo se o plano deles era interromper a Assembleia-Geral da ONU e as comunicações do governo e do pessoal de emergência durante a visita oficial de líderes mundiais em Nova York e arredores”, disse Matt McCool, o principal agente do escritório do Serviço Secreto na cidade, em uma declaração em vídeo.
Os chips e servidores foram identificados em agosto em vários locais dentro de um raio de 56 quilômetros da sede das Nações Unidas. A descoberta ocorreu após uma investigação de meses sobre o que a agência descreveu como “ameaças telefônicas” anônimas feitas a três autoridades de alto escalão do governo dos EUA no primeiro semestre —um membro do Serviço Secreto e outros dois que trabalham na Casa Branca, disse um dos funcionários que falaram com os jornalistas.
A agência não forneceu detalhes sobre as ameaças feitas aos três funcionários, mas McCool descreveu algumas como “ligações fraudulentas”. “Esta rede tinha o potencial de desativar torres de celular e essencialmente desligar a rede celular”, disse ele.
Investigadores têm analisado os dados nos chips que faziam parte da rede, incluindo chamadas, mensagens de texto e histórico de navegação. McCool disse que é possível que outros funcionários de alto escalão do governo também tenham sido alvos.
A agência compartilhou fotos da cena do crime de servidores com antenas e chips. Em alguns casos, os servidores que guardavam os chips estavam em prateleiras do chão ao teto.
Anthony J. Ferrante, chefe global de cibersegurança na FTI, uma empresa internacional de consultoria, disse que a operação parecia ser sofisticada e cara. “Meu instinto é que isso é espionagem”, disse Ferrante, que anteriormente ocupou altos cargos de cibersegurança na Casa Branca e no FBI.
Além de bloquear a rede celular, ele disse, uma quantidade tão grande de equipamentos perto da ONU poderia ser usada para espionagem.
Já James A. Lewis, pesquisador de cibersegurança do Centro de Análise de Política Europeia em Washington, disse que poucos países poderiam realizar uma operação de tal magnitude, como Rússia, China e Israel.
Além do Serviço Secreto, o Departamento de Polícia de Nova York, o Departamento de Justiça, as Investigações de Segurança Interna e o gabinete do diretor de inteligência nacional estão trabalhando na apuração do caso. “Esta é uma investigação em andamento, mas não há absolutamente nenhuma razão para acreditar que não encontraremos mais desses dispositivos em outras cidades”, disse McCool.
Segundo outro funcionário que também falando sob condição de anonimato, os agentes encontraram 80 gramas de cocaína, armas ilegais, computadores e celulares quando descobriram a rede.