Donald Trump retornou a Washington enfrentando reação política, mesmo de aliados, sobre sua conduta com Vladimir Putin, depois que o presidente americano não cumpriu a ameaça de “consequências severas” ao russo caso Putin se recusasse a concordar com um cessar-fogo na Ucrânia.
Trump voltou à capital após encontro de três horas no Alasca nesta sexta-feira (15), o primeiro encontro de Putin com um presidente americano desde a invasão da Ucrânia em 2022. De forma vaga, o republicano defendeu que algum progresso havia sido feito em direção a um acordo de paz definitivo, ignorando as propostas anteriores para um cessar-fogo.
Os combates, no entanto, continuaram na linha de frente no Leste Europeu. E, até mesmo entre aliados, o presidente dos EUA foi criticado por dar tratamento de gala a Putin, com tapete vermelho, mas sem resultados claros.
Bill O’Reilly, comentarista conservador, lamentou a falta de “ganhos concretos” da cúpula. “Neste momento, o presidente precisa aumentar a pressão econômica. O tempo não está do lado de Trump”, disse ele.
Lindsey Graham, senador republicano da Carolina do Sul, elogiou o presidente por se encontrar com o líder russo, mas disse que, na melhor das hipóteses, o cenário sugere um cessar-fogo “bem antes” do Natal.
Trump não fez o que os críticos temiam, ou seja, costurar um acordo de paz com Putin que acabasse imposto a Kiev e aos aliados europeus dos EUA, mais reticentes a diálogos com Moscou.
Mas a própria abertura para receber Putin já foi em si notada e criticada: com uma saudação entusiasmada, carona na limusine presidencial a sós e declarações sobre o “relacionamento fantástico” entre os dois.
Em breves comentários à imprensa após a reunião, Putin sugeriu que os dois presidentes haviam fechado um acordo —referindo-se a “acordos” que, segundo ele, eram um ponto de partida para resolver a “questão ucraniana” e melhorar as relações EUA-Rússia.
Trump, geralmente loquaz, não foi tão longe desta vez. O presidente disse que ambos concordaram em “muitos, muitos pontos”. Mas a conclusão do presidente americano terminou sendo mais sóbria: “Não há acordo até que haja um acordo”.
A Casa Branca não respondeu a um pedido de comentário do Financial Times sobre o conteúdo das conversas.
“Eu apoio o engajamento ativo e a diplomacia. Todos querem paz, mas a pacificação deve ser feita de maneira responsável”, disse o senador Jack Reed, o principal democrata no Comitê de Serviços Armados.
“Não gostei do tratamento de tapete vermelho dado a Putin ou do sinal que Trump enviou ao recebê-lo com aplausos. E acho que todos ficaram um pouco surpresos com a falta de detalhes e a entevista coletiva pouco ortodoxa após a reunião”, afirmou Reed.
Mike Quigley, um democrata de Illinois, disse: “Trump estendeu o tapete vermelho para Putin —literalmente— e ele [Putin] saiu com luz verde para continuar sua conquista.”
Mas mais importante para Trump, já há resmungos e cautela vindos também da direita.
Brian Fitzpatrick, um republicano da Pensilvânia, disse que era hora de reconhecer a importância dos aliados europeus. “Este fato simples permanece: segurança verdadeira e duradoura só pode ser alcançada com nossos aliados —mais importante, com a Ucrânia— à mesa.”
Defense Priorities, um think-tank de política externa não-intervencionista, disse que houve progresso na reunião, mas a realidade estava trabalhando contra o esforço de Trump.
“É provável que os combates continuem por algum tempo, já que Putin não tem incentivo para encerrar a guerra enquanto tiver vantagem militar, especialmente porque as linhas de frente da Ucrânia parecem estar à beira do colapso em alguns lugares”, disse Jennifer Kavanagh, diretora de análise militar da instituição.
Trump falou com Sean Hannity, um apresentador simpático a ele da Fox News, antes de deixar o Alasca, mas pareceu irritado com questionamentos feitos. Ele chegou a dizer que desejava não ter concordado com a entrevista.
O presidente observou que houve uma discussão e algum acordo com Putin sobre questões cruciais como trocas territoriais e garantias de segurança para Kiev, mas não elaborou. Os pontos já estão em debate entre líderes europeus, e o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, vai a Washington na segunda-feira (18).
Para os apoiadores da Ucrânia, dadas as recentes declarações de Trump sobre trocas de terras, poderia ter sido pior. “Alasca não foi Yalta 2.0. Essa é a boa notícia. Mas isso é uma régua bastante baixa”, escreveu Michael McFaul, ex-embaixador dos EUA na Rússia, em publicação no X.
Mais detalhes sobre o conteúdo das negociações podem mudar a percepção da cúpula, mas para Trump o resultado parece pouco expressivo.
Além disso, o republicano, que tem se apresentado como mestre em fechar acordos e promover a paz, sugeriu que talvez precise recuar nas negociações —um reconhecimento de que seus esforços podem estar chegando ao limite. “Agora realmente cabe ao presidente Zelenski concluir isso”, disse ele à Fox News.