Desde a eleição presidencial em 5 de novembro, as buscas na internet americana sobre como se mudar para o exterior subiram mais de 1.000%, e o número de consultas sobre como obter residência no Canadá disparou 1.270%.
A empresa de cruzeiros Ville Vie Residences está oferecendo uma viagem contínua de quatro anos a 140 países para turistas endinheirados que preferirem evitar o segundo e último mandato de Donald Trump. Por um preço máximo de US$ 256 mil (cerca de R$ 1,5 milhão), um dos possíveis 72 milhões de eleitores de Kamala Harris pode alugar uma cabine a bordo do infelizmente batizado Odissey (odisseia) e torcer para o navio ter uma viagem mais curta e menos trágica do que a imaginada por Homero no poema épico homônimo.
A vitória de Trump foi decisiva, mas a rejeição a ele é a mais intensa a um republicano desde o segundo mandato de George Bush filho. Além disso, um movimento para oferecer resistência às políticas de Trump está em curso nas cidades e nos estados governados por democratas.
Na Califórnia, o mais populoso estado do país, a Assembleia Legislativa convocou uma sessão especial, após a eleição, para garantir um aumento nos fundos públicos de defesa jurídica. O governador democrata Gavin Newson quer preparar o estado para se proteger de eventuais medidas do governo federal hostis ao meio ambiente, aos direitos LGBTQIA+, aos direitos reprodutivos e à maior população imigrante dos EUA —mais de 11 milhões de habitantes da Califórnia são nascidos no exterior.
Cientes de que Trump volta ao poder mais radical e muito mais organizado, os democratas não esperaram para planejar a resistência jurídica e legislativa. O governador de Illinois, J.B. Pritzker, disse que tem mantido contato regular com seus colegas democratas para tornar seus estados “à prova de Trump.”
Procuradores-gerais de vários estados passaram este ano discutindo estratégias. Em 43 dos 50 estados americanos os procuradores são eleitos, e sua independência do governo federal os colocou na linha de frente do litígio com Trump durante o primeiro mandato do republicano.
No estado onde Trump nasceu e onde foi julgado e condenado duas vezes neste ano, a governadora Kathy Hochul anunciou, na semana passada, uma força-tarefa de “defesa de liberdades” junto com a procuradora Letitia James, a mesma que obteve contra Trump uma sentença de indenização de US$ 450 milhões por fraude fiscal.
Mas um democrata no governo da maior cidade americana, habitualmente falastrão e bombástico, passou a semana quieto. O prefeito de Nova York, Eric Adams, vai ser julgado em abril por crimes federais de corrupção que incluem fraude financeira, propinas e financiamento estrangeiro de campanha.
Trump já expressou simpatia pelo conterrâneo e colega de encrenca. Ao contrário do prefeito anterior, Bill de Blasio, que passou leis municipais para limitar o poder do primeiro governo Trump de caçar imigrantes sem documentos na cidade, Adams nada disse para acalmar a vasta população imigrante de Nova York, assustada com a ameaça de deportações em massa.
Em entrevista coletiva na terça-feira (12), Adams se contorceu verbalmente como um pão de pretzel quando foi interpelado sobre um cenário de batidas da imigração. Balbuciou evasivas, deixando evidente que sonha com um indulto presidencial.