O Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, tem impedido de forma discreta a Ucrânia de usar sistemas de mísseis táticos de longo alcance, fabricados nos EUA, para atingir alvos dentro da Rússia. Esse método limita a capacidade de Kiev de empregar essas armas em sua defesa na guerra contra as forças de Moscou.
A informação foi divulgada neste sábado (23) pelo Wall Street Journal, que ouviu autoridades do governo dos Estados Unidos.
Uma determinação do Departamento de Defesa dos EUA, que não foi anunciada, tem impedido a Ucrânia de disparar qualquer sistema de mísseis de longo alcance fabricado nos EUA contra alvos na Rússia desde o final de junho, segundo o jornal americano.
Em pelo menos uma ocasião, a Ucrânia tentou usar o Atacms, como é chamado o sistema, contra um alvo em território russo, mas não obteve autorização, disseram dois oficiais americanos ao Wall Street Journal.
O veto dos EUA a ataques de longo alcance restringiu as operações militares da Ucrânia enquanto a Casa Branca tem buscado atrair o governo da Rússia para iniciar negociações de paz.
Elbridge Colby, subsecretário de política do Pentágono, desenvolveu um “mecanismo de revisão” para decidir sobre os pedidos de Kiev relacionados ao disparo de armas americanas de longo alcance, bem como aquelas fornecidas à Ucrânia por aliados europeus que dependem da inteligência e de componentes americanos.
A revisão dá ao secretário de Defesa, Pete Hegseth, a palavra final sobre se a Ucrânia pode empregar o Atacms, que tem um alcance de quase 305 km, para atacar a Rússia.
“O presidente Trump tem sido muito claro que a guerra na Ucrânia precisa acabar. Não houve nenhuma mudança na postura militar em relação à Rússia ou Ucrânia neste momento”, escreveu a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, em comunicado. “O secretário Hegseth está trabalhando em total sintonia com o presidente Trump.”
O Pentágono e autoridades ucranianas não comentaram o assunto.
A necessidade de aprovação pelo Pentágono reverteu uma decisão do ex-presidente Joe Biden, que em seu último ano no cargo permitiu que a Ucrânia atacasse o território da Rússia com o Atacms.
Em publicação nas redes na quinta, Trump disse que a Ucrânia não poderia derrotar a Rússia, a menos que pudesse atacar o território russo. “É muito difícil, se não impossível, vencer uma guerra sem atacar [o país invasor]”, escreveu. “Não há chance de vencer!”
Autoridades americanas disseram ao WSJ que a declaração de Trump não sinalizou uma mudança de política que dispensaria o mecanismo de revisão do Pentágono ou encorajaria o uso de Atacms e outros sistemas ocidentais de longo alcance pela Ucrânia. Mas um alto funcionário da Casa Branca afirmou ao jornal que Trump poderia mudar de ideia sobre facilitar operações ofensivas ampliadas contra a Rússia.
Como presidente eleito, Trump disse que foi estúpido da parte de Biden permitir que a Ucrânia atacasse o território da Rússia. “Estamos apenas escalando esta guerra e tornando-a pior”, disse o então presidente eleito em uma entrevista à Time em dezembro.
O Atacms americano e outras armas de longo alcance, como o míssil de cruzeiro Storm Shadow britânico, não foram decisivos para a Ucrânia, mas permitiram que o país do leste europeu ameaçasse quartéis-generais de comando e controle russos e aeródromos longe das linhas de frente.
Trump ameaçou aumentar as sanções contra o Kremlin e tarifas sobre seus principais parceiros comerciais, a menos que Moscou concordasse com um cessar-fogo. Mas uma decisão sobre isso foi adiada após o encontro com o presidente russo Vladimir Putin no dia 15.
Ainda segundo o jornal WSJ, Trump prometeu em julho fornecer a Kiev novas armas, desde que a Europa concordasse em pagar por elas.
Outros tipos de armas que governos europeus estão comprando dos EUA poderiam ajudar a Ucrânia dentro de suas próprias fronteiras. Eles incluem sistemas de defesa aérea e o Sistema de Lançamento Múltiplo de Foguetes Guiados, que tem um alcance de 145 km.