EUA: sob pressão, universidades divulgarão dados raciais – 05/08/2025 – Mundo

EUA: sob pressão, universidades divulgarão dados raciais - 05/08/2025 -


Como parte dos acordos firmados com duas universidades de elite dos Estados Unidos nas últimas semanas, o governo Donald Trump terá acesso às notas de provas e médias de todos os candidatos, incluindo informações sobre sua raça, uma medida que pode alterar profundamente os processos seletivos de instituições de ensino superior.

Esse aspecto dos acordos com as universidades Columbia e Brown, que vai muito além das informações tipicamente fornecidas ao governo, foi amplamente ignorado em meio a notícias mais chamativas de que as universidades prometeram pagar dezenas de milhões de dólares para resolver alegações de violações das leis federais antidiscriminação, incluindo acusações de que toleraram o antissemitismo.

A divulgação desses dados está na lista de desejos dos conservadores que buscam evidências de que as universidades estão contornando uma decisão da Suprema Corte de 2023 que proibiu ações afirmativas e a consideração da raça nas admissões universitárias.

Mas dirigentes universitários e especialistas que apoiam o uso de fatores além das notas de provas temem que o governo —ou grupos privados ou indivíduos— use os dados para apresentar novas acusações de discriminação contra universidades e ameaçar seu financiamento federal.

O governo Trump está usando todas os meios possíveis para pressionar os departamentos de admissão de universidades de elite em direção ao que considera processos “baseados em mérito” que dão mais peso a notas e resultados de provas, argumentando que medidas mais subjetivas, como perguntar aos candidatos sobre seus desafios de vida ou considerar onde moram, podem ser maneiras ilegais de considerar a raça dos postulantes.

O escrutínio adicional provavelmente repercutirá em departamentos de admissão em todo o país. Isso poderia fazer com que algumas universidades reconsiderem técnicas como esforços de recrutamento focados em escolas de ensino médio cujos alunos são predominantemente não brancos ou aceitar estudantes que têm qualificações excepcionais em algumas áreas, mas notas de provas abaixo da média, mesmo que acreditem que tais ações sejam legais.

“A ambição do governo Trump aqui é enviar uma onda de temor pelos departamentos de admissão em todo o país”, disse Justin Driver, professor da Faculdade de Direito de Yale que acabou de escrever um livro sobre a Suprema Corte e ação afirmativa e que disse acreditar que a interpretação do governo sobre a decisão da Suprema Corte sobre ação afirmativa estava errada. “Eles estão tentando fazer com que as universidades reduzam a matrícula de negros e pardos.”

O governo Trump celebrou a obtenção desses dados como parte de sua guerra contra políticas universitárias “woke”, como ação afirmativa e programas de diversidade, equidade e inclusão que, segundo ele, promovem discriminação racial contra pessoas brancas.

“Graças ao acordo do governo Trump com a Universidade Brown, os estudantes serão julgados exclusivamente por seus méritos, não por sua raça ou sexo”, disse Linda McMahon, a secretária de educação, quando o acordo com Brown foi anunciado, ecoando comentários semelhantes que havia feito sobre Columbia.

“O woke está oficialmente MORTO em Brown”, proclamou o presidente Donald Trump na Truth Social ao anunciar o acordo.

Columbia e Brown terão que manter “políticas de admissão baseadas em mérito”, de acordo com seus acordos, que codificam os objetivos mais amplos do governo em linguagem jurídica.

As universidades “não podem, por quaisquer meios, dar preferência ilegal a candidatos com base em raça, cor ou origem nacional nas admissões em todos os seus programas”, afirmam ambos os acordos de forma idêntica. “Nenhum substituto para admissão racial será tolerado.”

As divulgações de admissões fornecerão ao governo dados sobre candidatos aceitos e rejeitados, detalhados por “raça, cor, média de notas e desempenho em provas padronizadas”. Embora não esteja claro o que os dados de Brown e Columbia revelarão, dados gerais mostram que sistemas de admissão focados em provas padronizadas geralmente beneficiam estudantes asiáticos e prejudicam as chances de estudantes negros.

Dos formandos do ensino médio que tiraram as notas cima de 1400 no SAT de 2024, exame nacional dos EUA, 1% eram afro-americanos e 27% eram asiáticos, de acordo com o College Board, a organização privada que administra a prova. Cerca de 12% dos estudantes que fizeram a prova eram negros e 10% eram asiáticos. Alguns especialistas consideram os exames injustos porque existem lacunas de pontuação por raça e classe.

Os dados demográficos dos estudantes em Columbia e Brown já começaram a mudar à medida que a decisão da Suprema Corte de 2023 entrou em vigor.

Entre os calouros de graduação que entraram em Columbia no outono de 2024, 39% eram asiáticos e 12% eram negros. No outono de 2023, a turma de calouros era 30% asiática e 20% negra. (A matrícula de brancos e hispânicos caiu ligeiramente de 2023 para 2024).

Em Brown, a matrícula de calouros asiáticos e brancos aumentou do outono de 2023 para o outono de 2024, enquanto a matrícula de hispânicos e negros diminuiu. No entanto, nem todas as universidades de elite apresentaram o mesmo efeito.

Os candidatos a Columbia têm a opção de não enviar notas de provas padronizadas, complicando qualquer análise. De acordo com o Centro Nacional de Estatísticas Educacionais, uma agência estatística federal, cerca de 61% dos calouros de graduação de Columbia no outono de 2023 haviam enviado notas de provas. Brown voltou a exigir notas de provas dos candidatos.

Em uma carta ao campus, Christina H. Paxson, a presidente de Brown, disse que o governo federal já tinha direito aos novos dados de Brown ou de qualquer outra universidade como parte do cumprimento das leis de direitos civis.

Ela disse que não estava preocupada em divulgar o material, afirmando que isso “demonstraria as fortes qualificações acadêmicas das turmas que admitimos, mantendo o compromisso de receber estudantes de uma ampla variedade de contextos sociais”.

Columbia também explicou em uma recente ficha informativa que os dados seriam anônimos e que tinha a obrigação de cumprir a lei.

“Concordamos em fornecer dados aos quais o governo tem direito e que atualmente está solicitando de dezenas de instituições, incluindo a nossa”, disse Claire Shipman, presidente interina de Columbia, quando o acordo foi anunciado.

O governo Trump já parece estar solicitando dados semelhantes por meio de intimação. Em março, a secretária de Justiça, Pam Bondi, orientou a Divisão de Direitos Civis do Departamento de Justiça a revisar as políticas de admissão da Universidade Stanford e de três instituições da Universidade da Califórnia: UCLA, Berkeley e Irvine.

A linguagem usada nos acordos com Columbia e Brown reforça afirmações contestadas sobre o caso de admissões da Suprema Corte que o governo Trump vem fazendo desde fevereiro.

Ele insiste que a decisão vai além das admissões e proíbe qualquer consideração de raça na vida universitária. Muitos especialistas jurídicos discordam dessa interpretação e apontam que a decisão afirmou categoricamente que as faculdades ainda poderiam considerar, caso a caso, “a discussão de um candidato sobre como a raça afetou sua vida, seja por discriminação, inspiração ou de outra forma”.

“A lei é clara: tratar os estudantes de forma diferente com base na raça para alcançar objetivos nebulosos como diversidade, equilíbrio racial, justiça social ou equidade é ilegal de acordo com o precedente controlador da Suprema Corte”, argumentou o Escritório de Direitos Civis do Departamento de Educação em uma carta de orientação oficial a todas as instituições educacionais em fevereiro.

Sob esse pensamento, as faculdades não poderiam legalmente eliminar o uso de provas padronizadas nas admissões se isso fizesse parte de um esforço para alcançar um equilíbrio racial desejado ou aumentar a diversidade racial. A lei federal também não permitiria que a raça fosse considerada em decisões de contratação, promoção, bolsas de estudo ou moradia.

“Se uma instituição educacional trata uma pessoa de uma raça de maneira diferente de como trata outra pessoa por causa da raça dessa pessoa, a instituição educacional viola a lei”, dizia a carta de fevereiro.

A aplicação desse documento de orientação foi suspensa em abril devido a um desafio legal. Na semana passada, Bondi fez outra tentativa de tornar sua interpretação da decisão da Suprema Corte aplicável, fornecendo orientação semelhante que se aplica a todas as entidades que recebem financiamento federal.

A orientação de Bondi afirma que mesmo critérios aparentemente neutros em termos de raça, como perguntar a um candidato sobre “competência cultural” ou “experiência vivida”, ou direcionar o recrutamento com base na geografia, viola a lei federal se for projetado ou aplicado com a intenção de dar vantagem aos candidatos com base em características protegidas, como raça.

Mesmo um programa de bolsas de estudo que visa “áreas geográficas carentes” ou “estudantes imigrantes de primeira geração” não seria legal se esses critérios fossem escolhidos para aumentar a participação de grupos raciais ou baseados em sexo específicos, afirma a orientação.



Fonte CNN BRASIL

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