Em mais um ataque à liberdade de imprensa, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou nesta quarta-feira (30) que sua equipe jurídica está “examinando atentamente” possíveis ações contra o jornal americano The New York Times.

Em sua plataforma, a Truth Social, Trump criticou duramente a cobertura do veículo a respeito do processo que a Casa Branca move contra a Paramount, proprietária da emissora CBS. “É vital que esses mentirosos e vigaristas sejam responsabilizados”, afirmou.

O presidente afirma que o jornal poderia ser responsabilizado por interferência ilícita, o que ocorre quando um contrato ou uma relação comercial é intencionalmente prejudicado pelas ações de um terceiro.

A ação de Trump contra a Paramount gira em torno de uma entrevista de Kamala Harris ao programa 60 Minutes, da CBS, em 2024, quando a democrata era rival de Trump na corrida pela Casa Branca. Segundo ele, a emissora editou de forma enganosa a fala da então vice-presidente para “influenciar a favor do Partido Democrata” nas eleições de novembro.

Nos últimos dias, diversos veículos de imprensa dos EUA noticiaram que a direção da Paramount estabeleceu condições financeiras aceitáveis para um possível acordo com Trump.

Ao informar sobre a possível conciliação, jornais como o New York Times apontaram para o que muitos analistas jurídicos vêm afirmando —que o processo de Trump não tem fundamento e provavelmente será rejeitado ou fracassará devido à proteção à liberdade de imprensa nos EUA.

“O caso que temos contra 60 Minutes, CBS e Paramount é um verdadeiro sucesso”, declarou o republicano nesta quarta. “Apesar de tudo isso (…) o fracassado New York Times, que publica notícias falsas tanto na Redação quanto em suas pesquisas, afirma que as pessoas disseram que o caso não tem fundamento.”

“Nunca antes algo assim foi feito: a criação ilegal de uma resposta para um candidato presidencial. Eles têm que pagar um preço por isso —e o Times também deveria ser responsabilizado por seu provável comportamento ilegal”, concluiu.

Bill Owens, produtor executivo de longa data do 60 Minutes, anunciou sua saída no início deste mês, citando preocupações com a independência editorial.

Em reação, o apresentador do programa 60 Minutes, Scott Pelley, criticou a empresa proprietária da rede ao vivo, na noite de domingo (27).

“A Paramount começou a supervisionar nosso conteúdo de novas maneiras. Nenhuma de nossas reportagens foi bloqueada, mas Bill sentiu que perdeu a independência que o jornalismo honesto exige”, disse. “Ninguém aqui está feliz com isso.”

O comentário foi feito em meio a especulações de que a Paramount, liderada por Shari Redstone, tenta controlar o bem-sucedido programa de notícias enquanto busca aprovação regulatória para uma fusão com a empresa Skydance.

Trump ataca os meios de comunicação americanos desde seu primeiro mandato, algo sem precedentes para o líder de um país onde a liberdade de imprensa está consagrada na Constituição. Em várias ocasiões, o republicano já chamou jornalistas de “inimigos do povo” e de “produtores de fake news”.

Desde que começou seu segundo mandato, em janeiro, ele tem pressionado os meios tradicionais de comunicação, incluindo a agência de notícias americana Associated Press, ao mesmo tempo que amplia o acesso à Casa Branca para veículos antes marginalizados, especialmente os de direita.