Europa tenta comércio enquanto China joga com geopolítica – 24/10/2025 – Igor Patrick

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A Europa atravessa uma nova crise com a China. Depois de Pequim impor controles severos sobre a exportação de terras raras, minerais indispensáveis para carros elétricos, turbinas e sistemas de defesa, a tensão diplomática se intensificou.

O comissário europeu de Comércio, Maros Sefcovic, cancelou nesta semana uma reunião com o ministro chinês Wang Wentao e substituiu o encontro por negociações técnicas em Bruxelas. Em Berlim, o ministro das Relações Exteriores, Johann Wadephul, adiou sua visita a Pequim por falta de interlocutores confirmados. Ao mesmo tempo, a Alemanha protesta contra o bloqueio chinês de semicondutores e vê sua balança comercial ser dominada novamente por importações chinesas.

O cenário resume o impasse europeu, com a China controlando cadeias produtivas estratégicas e usando esse poder com cálculo político. A Europa ainda tenta responder com o vocabulário do comércio, enquanto a China joga o jogo da geopolítica. O poder de Pequim não depende de tarifas ou sanções, mas da capacidade de tornar indispensáveis os produtos que fabrica e as matérias-primas que controla.

O controle das terras raras é apenas o exemplo mais visível de uma estratégia construída ao longo de décadas. A China consolidou a liderança em setores-chave da transição verde e agora transforma essa posição econômica em influência política.

A reação europeia é hesitante. Bruxelas acusa os chineses de “coerção econômica”, mas evita medidas de retaliação concretas. O Instrumento Anticoerção, criado pelo bloco para responder a pressões desse tipo, continua no canto da gaveta, com um bloco muito hesitante para fazê-lo valer.

França e Polônia pedem ação, enquanto Alemanha e Holanda pregam moderação. A Comissão tenta equilibrar princípios e pragmatismo, mas acaba transmitindo fraqueza, com cada gesto de cautela sendo interpretado por Pequim como espaço para avançar.

A Alemanha, principal economia do bloco, simboliza o dilema. Durante anos, construiu sua prosperidade exportando para a China e importando produtos baratos que sustentaram sua indústria. Agora descobre que essa dependência virou vulnerabilidade.

A China aprendeu a usar o mercado como instrumento de poder e o faz de modo silencioso, com burocracia e licenças, mas ciente do efeito amplo. Acostumada à diplomacia baseada em normas comuns aos dois lados, a Europa parece desarmada diante de uma lógica de pressão calculada. A fé europeia no multilateralismo e nas “regras do comércio” já não basta num mundo em que as regras são reescritas por quem domina a produção.

Enquanto isso, Pequim segue agindo com método, ao passo que líderes europeus trocam comunicados sobre diálogo e cooperação mesmo quando fábricas alemãs e francesas enfrentam atrasos, custos e escassez de insumos e o discurso sobre “autonomia estratégica” distante da prática.

O continente que inventou o conceito de política comercial comum ainda não descobriu como defender seus próprios interesses num cenário de competição global, e o adiamento da visita de Wadephul é o retrato dessa hesitação.

Representativa do bloco, a Alemanha não quer confronto, mas tampouco consegue disfarçar o desconforto de depender de quem não compartilha suas regras. A China, por sua vez, não precisa brigar: em cada nova rodada de cautela europeia, os chineses consolidam o que já entenderam melhor que ninguém. Quem domina as cadeias produtivas, afinal, agora é quem manda.


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