‘Fiquei sem chão’, diz d. Jaime, que vai virar cardeal – 07/12/2024 – Mundo

'Fiquei sem chão', diz d. Jaime, que vai virar cardeal


Dom Jaime Spengler, 64, diz ter ficado bastante surpreso quando soube que se tornaria cardeal. Aconteceu no fim da manhã de 6 de outubro, um domingo, quando ele estava em Roma, para participar da assembleia do Sínodo dos Bispos.

“Terminei a leitura de um livro no quarto onde estava e de repente o meu celular começa a disparar: ‘parabéns’, ‘sucesso’, ‘coragem’. Eu respondi: ‘Não é meu dia de aniversário’. E aí me disseram que o papa tinha citado meu nome na praça de São Pedro, na oração do Angelus”, disse d. Jaime à Folha. “Eu fiquei sem chão. Fiquei quieto, até me recompor da surpresa.”

Arcebispo de Porto Alegre e presidente eleito da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e do Celam (Conselho Episcopal da América Latina e do Caribe), dom Jaime se tornará o oitavo cardeal brasileiro, o sétimo com direito a votar na escolha do próximo papa –por ter mais de 80 anos, dom Raymundo Damasceno Assis, arcebispo emérito de Aparecida (SP), não é mais eleitor.

Francisco empossará 21 novos cardeais, entre eles dom Jaime, neste sábado (7), às 12h (horário de Brasília), na basílica de São Pedro, no Vaticano.

A escolha de seu nome se deve à confluência de dois fatores, segundo dom Jaime. É uma resposta ao próprio trabalho e à tragédia climática deste ano no Rio Grande do Sul. Mais que reconhecimento, afirma, é sinal da “solicitação de um serviço ainda mais intenso”.

Em seu décimo consistório (reunião de cardeais com o pontífice), Francisco mantém a sua marca de ampliar a representação geográfica no Colégio Cardinalício. Incluindo os novos, os 253 cardeais são de 94 países, com aumento, desde 2013, de asiáticos, africanos e sul-americanos. Por outro lado, diminuiu a presença europeia, principalmente de italianos.

Uma diversidade regional que pode trazer dificuldades na hora de escolher o sucessor de Francisco, já que os cardeais estão espalhados por vários países e convivem pouco. “Vai exigir um esforço ainda maior no sentido de buscar consenso”, reconhece dom Jaime. Para ser eleito, é preciso que o futuro papa receba dois terços dos votos dos eleitores presentes.

“Eu não sei, por exemplo, quem é o cardeal de Tóquio, da Mongólia, das Filipinas. Mesmo aqui, no contexto latino-americano, não conheço todos. Creio que pode trazer dificuldade e exigir prudência, de não atropelar processos para que realmente se chegue a um consenso salutar”, diz dom Jaime.

Até completar 80 anos, em 2040, ele terá pela frente 16 anos com possibilidade de votar em conclaves. Um acontecimento que o arcebispo trata com reserva. “Espero não precisar participar. Porque eu imagino a responsabilidade. Nós nos guiamos por um princípio de fé –quem elege [o papa] são os cardeais ali reunidos, mas invocando o Espírito Santo de Deus.”

A missão dos cardeais num conclave, diz o arcebispo, é identificar os desafios presentes e o nome que demonstre maior capacidade de responder a eles. “Encontrar a pessoa certa para o tempo certo. E eu creio que aqui se faz necessário muita capacidade de escuta, perspicácia, sensibilidade e oração.”

Para dom Jaime, o sucessor ideal de Francisco será alguém que seja capaz de construir pontes para superar um mundo que parece sempre mais polarizado. E que esteja à altura do maior desafio da Igreja: o de transmitir a fé às novas gerações com uma linguagem apropriada.

Ao avaliar o legado de Francisco até hoje, dom Jaime cita a preocupação com a humanidade e a necessidade de atentar para problemas como a mudança climática. E acredita que o papa seja “a voz mais autorizada no mundo, em torno de questões não só eclesiásticas”, mas também em áreas como meio ambiente, relação entre os povos e a necessidade de pensar em um sistema econômico diferente.

“O sistema democrático está em crise. As instâncias de mediação da sociedade moderna se encontram em dificuldades. A OEA, a ONU, o Conselho da Europa parece que perderam a relevância”, diz. “Quem são os líderes globais no âmbito da política que atraem o nosso respeito, a nossa admiração? Me parece que hoje a voz que ainda ressoa de forma mais intensa é a voz do papa Francisco.”

Raio-X | Dom Jaime Spengler, 64

Nascido em Gaspar (SC), entrou na Ordem dos Frades Menores em 1982. Estudou filosofia e teologia. Foi ordenado sacerdote em 1990 e nomeado bispo auxiliar em 2010. Em 2013, foi nomeado arcebispo de Porto Alegre pelo papa Francisco. Desde 2023, é presidente eleito da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e do Celam (Conselho Episcopal da América Latina e do Caribe). Será anunciado como cardeal no consistório de 7 de dezembro, no Vaticano.



Fonte CNN BRASIL

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