Quatro pessoas foram mortas nesta quinta-feira (16) em Nairóbi, capital do Quênia, depois que forças de segurança dispararam tiros e bombas de gás lacrimogêneo para dispersar uma multidão que velava o corpo do líder da oposição Raila Odinga em um estádio, informaram veículos de mídia locais.
Odinga, uma figura central da política queniana por décadas —ex-preso político e candidato derrotado à Presidência em cinco eleições—, morreu na quarta-feira (15), aos 80 anos, na Índia, onde recebia tratamento médico.
Seu funeral de Estado foi anunciado pelo presidente William Ruto, que também decretou sete dias de luto nacional. Ele foi “um dos maiores filhos da África e um gigante da democracia”, afirmou o chefe de Estado.
Com milhares de apoiadores nas ruas desde as primeiras horas do dia, a confusão começou quando uma multidão rompeu o portão principal do principal estádio de Nairóbi, levando soldados a dispararem tiros para o alto, segundo uma testemunha da Reuters.
Uma autoridade policial disse à Reuters que duas pessoas foram mortas a tiros no estádio. Mais tarde, as emissoras KTN News e Citizen TV informaram que o número de mortos havia subido para quatro, com dezenas de feridos.
Após os disparos, a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar o público, mostraram as duas emissoras, deixando o estádio completamente vazio.
Mais cedo, milhares de pessoas haviam invadido brevemente o aeroporto internacional de Nairóbi, interrompendo uma cerimônia em que o presidente Ruto e outras autoridades recebiam o corpo de Odinga com honras militares. O episódio levou à suspensão das operações do aeroporto por duas horas.
Multidões também tomaram as estradas próximas e tentaram avançar sobre o Parlamento, onde inicialmente o governo havia programado o velório público.
Embora amplamente conhecido como figura de oposição, Odinga foi primeiro-ministro de 2008 a 2013, após um acordo de divisão de poder com o então presidente Mwai Kibaki, que buscava conter a onda de violência pós-eleitoral de 2007. No ano passado, firmou um pacto político com Ruto —um entre tantos movimentos que marcaram sua trajetória de alianças.
Odinga despertava devoção fervorosa entre seus apoiadores, especialmente entre os luos, grupo étnico majoritário no oeste do país, muitos dos quais acreditam que ele tenha sido impedido de chegar à Presidência por fraudes eleitorais.
O resultado das eleições de 2007, contestado pela oposição, desencadeou episódios de violência entre as comunidades luo, kalenjin e kikuyu, grupo ao qual Kibaki pertencia, deixando mais de 1.100 mortos.
Nascido em 7 de janeiro de 1945, Odinga foi preso diversas vezes e viveu no exílio durante o regime autocrático de Daniel arap Moi (1978–2002). Foi eleito deputado em 1992 e concorreu à Presidência em 1997, 2007, 2013, 2017 e 2022.
Após a divulgação da notícia do falecimento, centenas de simpatizantes de Odinga se reuniram diante de sua residência em Nairóbi.
“Como vamos sobreviver sem ele? Estamos em choque”, declarou à AFP Anima Ferrari, chefe de protocolo de Odinga, com lágrimas nos olhos.