A Casa Branca lançou nesta segunda-feira (1º) uma campanha para expor veículos de mídia e jornalistas por reportagens que desagradam ao governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, renovando medidas de ataque à imprensa profissional que têm sido habituais em seu segundo mandato.
A página, dentro do site do governo, lista os “infratores de mídia da semana” sob uma tarja em que se lê “Enganador. Enviesado. Exposto” e a marca de três veículos de imprensa, como o jornal The Boston Globe, a rede CBS News e o site britânico The Independent.
A página também nomeia os repórteres que assinam as reportagens que desagradam ao governo —cada jornalista citado tem uma página própria listando o que a Casa Branca chama de infrações.
Reportagens sobre o vídeo de congressistas democratas pedindo às Forças Armadas que não cumpram ordens ilegais foram classificadas, por exemplo, como deturpadas. Trump acusou os legisladores no vídeo de comportamento sedicioso que seria “punível com a morte”, em publicação na rede Truth Social —o site diz que as reportagens “subversivamente insinuam” que Trump deu ordens ilegais e que as notícias deturparam falas dele afirmando que ele pediu a execução dos rivais.
A publicação de Trump sobre o assunto, na ocasião, foi a seguinte: “COMPORTAMENTO SEDICIOSO, punível com a MORTE! Isso é realmente ruim e perigoso para nosso país. Suas palavras não podem ser permitidas. COMPORTAMENTO SEDICIOSO DE TRAIDORES!!! PRENDAM ELES???”
A campanha da Casa Branca tenta dar roupagem de checagem de fatos às acusações, categorizando veículos de imprensa e repórteres e listando o que seriam “acusações, infrações e a verdade”. Ao fim, há uma busca por sites, jornais e emissoras acusados, e uma tabela de classificação —nesta segunda-feira, o jornal The Washington Post encabeçava a lista.
“O Washington Post tem orgulho de seu jornalismo correto e rigoroso”, afirmou um porta-voz do jornal em texto sobre o assunto.
O presidente americano tem feito uma série de ataques pessoais a jornalistas e institucionais à cobertura da imprensa desde que retornou ao governo, em janeiro deste ano —uma prática comum do republicano desde sua campanha ao primeiro mandato, em 2016.
Vários dos veículos citados são também alvo de processos bilionários de Trump na Justiça, entre elas a BBC, cujo diretor pediu demissão após acusações de manipulação em reportagem sobre o presidente, e o New York Times, que o republicano processa em US$ 15 bilhões por difamação. Outros grupos de mídia têm cedido à pressão e feito acordos, caso da Paramount, controladora da CBS, que aceitou pagar US$ 16 milhões para encerrar processo.
Na semana passada, Trump chamou uma repórter de idiota após ela perguntar por que o presidente culpava seu antecessor, Joe Biden, pela entrada de afegãos no país, dias depois que um cidadão do Afeganistão que havia trabalhado para os EUA matou uma integrante da Guarda Nacional, em Washington, a poucas quadras da Casa Branca.
Em outubro, veículos de imprensa abandonaram a cobertura do Pentágono depois de o Departamento de Defesa obrigar as empresas de comunicação a assinarem nova política de imprensa que proíbe jornalistas de acessar ou solicitar informações que o departamento não disponibilize, além de revogar as credenciais de quem não a assinasse.
“Hoje, nos juntamos a praticamente todas as outras organizações de notícias ao recusar concordar com os novos requisitos do Pentágono, que restringiriam a capacidade dos jornalistas de manter a nação e o mundo informados sobre importantes questões de segurança nacional”, escreveram as redes de notícias ABC, CBS e NBC, além da Fox News, rede conservadora e amigável a Trump que, notavelmente, teve por anos como comentarista o atual secretário de Defesa, Pete Hegseth.
Em março, alguns meses após reassumir o cargo, Trump também chamou as redes CNN e a MSNBC de “corruptas e ilegais” e “braços do Partido Democrata”. Em fevereiro, o presidente barrou a Associated Press da cobertura do Salão Oval da Casa Branca porque a agência de notícias não passou a usar o termo “golfo da América” para se referir ao golfo do México.



