O grupo terrorista Hamas reafirmou seu compromisso de devolver todos os corpos de reféns israelenses que ainda estão na Faixa de Gaza, dizendo que entregaria outro cadáver à Cruz Vermelha ainda nesta sexta-feira (17) em meio ao frágil cessar-fogo em vigor na região.
Israel acusa a facção palestina de mentir sobre supostos problemas logísticos que seriam a causa da demora na entrega dos corpos, dizendo que “o tempo está acabando” para o Hamas. Entretanto, o próprio presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, havia dito que poderia ser difícil encontrar todos os cadáveres, e o grupo terrorista diz que a destruição em Gaza torna a tarefa lenta.
O Hamas já devolveu nove dos 28 corpos de reféns em seu poder, mas diz precisar de maquinário pesado e retroescavadeiras para acelerar o processo de encontrar os restos mortais entre os escombros do território —cerca de 85% de todas as estruturas de Gaza foram destruídas em bombardeios israelenses, segundo estimativas da ONU.
Em entrevista coletiva em Ancara, o ministro de Relações Exteriores da Turquia, Hakar Fidan, disse que as acusações de Israel são preocupantes. “Israel usará a incapacidade do Hamas de localizar corpos sob os escombros como desculpa para violar o cessar-fogo? A comunidade internacional está preocupada”, afirmou Fidan. A Turquia, ao lado do Qatar e do Egito, mediou o acordo de cessar-fogo proposto pelos EUA.
Os países ainda aguardam a entrega de todos os reféns para implementação dos próximos passos do plano de Trump. Na sexta, o Hamas pediu que os mediadores pressionem Israel a cumprir com sua parte, permitindo a entrada desimpedida de ajuda humanitária, abrindo as fronteiras (o que permitiria também a entrada da imprensa internacional no território) e retirando seus soldados de Gaza.
A ONU disse que ainda tem dificuldade de entregar comida e suprimentos a algumas áreas do norte do território devido a estradas destruídas e obstrução de rotas. Desde o início do cessar-fogo, uma média de 560 toneladas de ajuda humanitária entraram em Gaza por dia, uma quantidade que a ONU afirma ser abaixo da ideal.
“Milhares de caminhões precisam entrar [em Gaza] toda semana se vamos reverter a desnutrição generalizada, a falta de moradia e o colapso da infraestrutura”, disse nessa sexta Tom Fletcher, subsecretário-geral para Assuntos Humanitários da ONU.
Enquanto isso, o Hamas evita falar sobre entregar as armas e deixar o governo de Gaza, outra exigência dos próximos passos do plano de paz de Trump. Em entrevista à agência de notícias Reuters, um dos líderes políticos do Hamas, Mohammed Nazzal, disse que não pode se comprometer com um desarmamento —a questão é uma das mais sensíveis das negociações e pode derrubar o acordo de paz.
Nazzal afirmou ainda que espera que o Hamas ainda tenha algum controle sobre a segurança de Gaza até que um governo tecnocrático seja instalado, e afirmou esperar que o cessar-fogo dure cinco anos para que o território possa ser reconstruído. “O que acontecer depois disso depende se os palestinos terão um horizonte para um Estado próprio”, disse, conversando com os jornalistas da Reuters em Doha, no Qatar.
O membro do grupo terrorista defendeu os assassinatos públicos de supostos colaboradores de Israel nas ruas de Gaza essa semana, afirmando que se tratavam de assassinos, e disse que o Hamas precisa de armas para proteger caminhões de ajuda humanitária de gangues e assaltantes.
Também nesta sexta, soldados israelenses mataram um menino de 10 anos de idade na Cisjordânia ocupada. Segundo as Forças Armadas de Israel, militares próximos à cidade de Hebron foram alvo de “confrontos e lançamento de pedras”, e responderam abrindo fogo. A família de Muhammad al-Hallaq disse que ele estava jogando futebol em uma escola próxima e que, quando viu os veículos israelenses, começou a correr.
Muhammad foi baleado na virilha e morreu antes de chegar ao hospital, segundo relatos ouvidos pela emissora britânica BBC. Pelo menos 200 palestinos foram mortos por Israel na Cisjordânia em 2025, segundo dados das Nações Unidas.
