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O influenciador americano iShowSpeed virou um fenômeno na China na semana passada. Ele esteve no país e fez uma série de transmissões ao vivo visitando cidades como Pequim, Xangai e Hong Kong.
O youtuber, que tem 38,4 milhões de inscritos em seu canal de vídeos e 32,5 milhões de seguidores no Instagram, é conhecido pelo estilo caótico e espontâneo.
Ele atraiu milhões de visualizações enquanto interagia com moradores, provava pratos típicos e conhecia pontos turísticos —tudo sob aplausos entusiasmados do público local.
A repercussão positiva fez veículos estatais como o Global Times e a rede de televisão CCTV exaltarem o jovem como “exemplo de amizade entre China e Estados Unidos“.
- Clipes de iShowSpeed tentando falar mandarim e visitando pandas dominaram o Weibo (microblog chinês semelhante ao X/Twitter) com elogios à sua “energia genuína”;
- Fãs chineses afirmaram que o streamer “mostra um outro lado dos americanos”, enquanto analistas apontam interesse oficial em promover vozes estrangeiras simpáticas ao país.
A celebração do youtuber acontece em um momento de tensões diplomáticas entre Washington e Pequim, em que autoridades chinesas buscam novas formas de suavizar sua imagem no exterior.
Por que importa: a mobilização em torno de iShowSpeed mostra como Pequim ainda consegue explorar fenômenos virais para moldar a forma como o país é percebido no cenário internacional.
Embora a visita pareça ter sido espontânea (ou seja, sem financiamento direto pelo governo chinês), ela tem sido útil ao humanizar a imagem da China sem soar como propaganda oficial —e atinge audiências que campanhas tradicionais de soft power raramente alcançam.
Pare para ver
“Vendedor de brinquedos da Dupont Street, Chinatown de São Francisco”, tela pintada pelo artista sino-americano Mian Situ. Nascido em Guangdong em 1953, ele se notabilizou pelo trabalho retratando a imigração chinesa na construção dos EUA. Veja outras pinturas dele aqui.
O que também importa
O governo do Canadá acusou um popular canal de notícias no WeChat de espalhar narrativas falsas sobre o primeiro-ministro Mark Carney para influenciar a eleição de 28 de abril. Segundo Ottawa, o perfil Youli-Youmian, ligado ao Partido Comunista Chinês, estaria manipulando eleitores de origem chinesa no país, atacando a experiência e as credenciais de Carney. A embaixada da China em Ottawa negou envolvimento, classificando as acusações como “absurdas” e “infundadas”. Autoridades canadenses afirmam que a operação não deverá impactar o resultado do pleito.
Os Estados Unidos decidiram proibir diplomatas e funcionários públicos norte-americanos em missão na China de manterem relações românticas com cidadãos chineses. A medida, anunciada após casos de diplomatas serem alvo de “honeypots” (armadilhas românticas para espionagem), visa aumentar a segurança e integridade das operações americanas no país. Segundo a AP, a regra também inclui treinamentos obrigatórios e protocolos mais rígidos de segurança pessoal para os funcionários destacados em território chinês.
A China apresentou na quarta (2) um novo trem intermunicipal inteligente de alta velocidade, capaz de chegar a 200 km/h. Segundo o portal estatal ECN, o modelo tem alta capacidade de passageiros, aceleração rápida e janelas inteligentes para interação personalizada. Equipado com tecnologia 5G e comunicação digital, ele deve ser usado nas rotas entre Zhengzhou e Kaifeng, e até o aeroporto de Zhengzhou. O design aposta em materiais ecológicos, com 75% de reciclabilidade, buscando tornar o transporte mais eficiente e sustentável.
Fique de olho
A China afirmou na segunda (7) que retaliará a nova ameaça de tarifas adicionais feita por Donald Trump, e intensificou medidas para apoiar seus mercados financeiros, elevando o risco de uma guerra comercial prolongada entre as duas maiores economias do mundo.
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O presidente dos EUA ameaçou impor tarifas extras de 50% sobre produtos chineses, além dos 34% que entram em vigor em 9 de abril e de um aumento de 20% aplicado no início do ano, elevando o total de tarifas anunciadas para 104% em 2025.
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O yuan recuou ao menor valor desde setembro de 2023, enquanto as ações de grandes empresas chinesas listadas em Hong Kong subiram até 3,7% após terem registrado a maior queda desde a crise financeira de 2008.
Apesar da retórica dura, Pequim reiterou o apelo ao diálogo para resolver as disputas. Trump e Xi Jinping conversaram neste ano, mas a recente escalada nas tensões torna improvável uma nova reunião a curto prazo.
Por que importa: o aumento das tarifas e a deterioração das relações comerciais entre EUA e China ameaçam aprofundar o desacoplamento econômico entre os dois países, com impactos sobre cadeias globais de produção, inflação e crescimento mundial.
A tensão também alimenta incertezas políticas e econômicas num momento de transição global, com possíveis repercussões para aliados e mercados emergentes.
Para ir a fundo
A Observa China publicou um longo artigo em que analisa os efeitos do Corredor Econômico China-Paquistão, um dos mais vultosos investimentos em infraestrutura já realizados por Pequim no exterior. A análise está disponível aqui (em português)
O Centro de Estudos Globais e China da PUC-Minas transmite hoje pelo YouTube uma palestra sobre o sistema financeiro e o modelo de desenvolvimento chineses. A live terá início às 20h, no horário de Brasília. Os interessados podem acompanhar neste link. (gratuito, em português)
Estão abertas as inscrições para o curso “Geopolítica Global e Trump: EUA, Rússia, UE e China no Tabuleiro da Guerra” da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Ministrado pelo professor Alexandre Coelho, o treinamento começa em maio. Mais informações aqui. (pago, em português)