Uma autoridade do Irã afirmou nesta segunda-feira (30) que o vaivém do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em relação às sanções contra Teerã são uma tática que não visa resolver os problemas entre os dois países.
“Essas declarações devem ser vistas mais no contexto de jogos psicológicos e midiáticos do que como uma expressão séria a favor do diálogo ou da resolução de problemas”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Esmaeil Baghaei, em uma entrevista coletiva.
Na última sexta-feira (27), o republicano disse ter desistido dos planos para suspender sanções contra o Irã após o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, afirmar que Teerã “deu um tapa na cara dos EUA” ao lançar um ataque contra uma importante base americana no Qatar.
Dois dias antes, Trump havia sinalizado um possível relaxamento nas sanções para a nação persa se reerguer após os bombardeios americanos do fim de semana anterior. “Eles vão precisar de dinheiro para colocar aquele país de volta em forma. Queremos ver isso acontecer”, disse em uma entrevista coletiva na Holanda, onde participava da cúpula da Otan, a aliança militar que Washington lidera.
No dia 22 de junho, Washington bombardeou o Irã em apoio a Israel, que havia atacado o país adversário dez dias antes. A ofensiva americana atingiu três instalações nucleares iranianas, em Natanz, Isfahan e Fordow. Já a retaliação iraniana contra a base de Washington no Qatar foi considerada coreografada já que nenhum dano foi relatado e Teerã avisou sobre a ação com antecedência.
De acordo com um porta-voz do Judiciário iraniano citado pela mídia estatal do Irã nesta segunda, 935 pessoas foram mortas durante os 12 dias de guerra, incluindo 38 crianças e 132 mulheres. Os números não podem ser verificados por jornalistas independentes devido ao controle da República Islâmica à imprensa.
De qualquer forma, a cifra representa um aumento significativo em relação ao balanço anterior do Ministério da Saúde iraniano, que contabilizava 610 mortos antes do cessar-fogo entrar em vigor, na última terça-feira (24). O porta-voz também revisou o número de pessoas mortas em um ataque israelense à Prisão de Evin, em Teerã, para 79, acima dos 71 anteriormente relatados.
Israel iniciou a guerra aérea em 13 de junho, atacando instalações nucleares iranianas e matando comandantes militares de alto escalão e civis, no pior golpe contra o Irã desde a guerra com o Iraque, nos anos 1980.
Segundo Baghaei, da chancelaria iraniana, o “ato de agressão de Israel levou a muitos crimes de guerra”. “A ação do regime sionista [Israel] foi realizada sem qualquer razão ou justificativa, portanto não acreditamos em separar militares e civis” entre as vítimas, disse a jornalistas. Ele afirmou ainda que o Irã vai enviar as evidências de crimes de guerra para organizações internacionais que, segundo ele, deveriam responsabilizar Tel Aviv.
Após os ataques, autoridades iranianas reafirmaram sua intenção de reconstruiu as instalações para dar continuidade ao seu programa nuclear —a nação afirma que a iniciativa tem fins pacíficos, embora enriqueça urânio a 60%, segundo a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica da ONU).
No final de maio, um relatório do órgão afirmou que o Irã acelerou o ritmo de produção de suas reservas de urânio enriquecido com 60% de pureza —nível próximo dos 90% necessários para produzir armas nucleares e muito acima dos 3,67% exigidos em usinas nucleares comerciais.
“O nível disso pode ser discutido, a capacidade pode ser discutida, mas dizer que não se deve ter enriquecimento, que se deve ter enriquecimento zero, e, se não concordar, nós o bombardearemos —essa é a lei da selva”, afirmou à BBC News o vice-ministro das Relações Exteriores do Irã, Majid Takht-Ravanchi, nesta segunda.