A capital do Irã, Teerã, vive dias de caos, com longas filas em supermercados e postos de gasolina e rodovias lotadas de famílias tentando fugir da cidade, que se tornou alvo preferencial dos mísseis e caças israelenses na guerra entre o Estado judeu e o país persa.
Segunda maior cidade do Oriente Médio, a metrópole tem 9,8 milhões de habitantes, atrás apenas de Cairo, no Egito, em população. Além da ameaça de bombardeios de Israel, repetidas ordens de retirada emitidas por Tel Aviv —uma tática utilizada na Faixa de Gaza e que o Irã chamou de “terrorismo psicológico”— aumentaram o medo dos habitantes.
Ao todo, cerca de 300 pessoas, muitas delas civis, morreram em bombardeios israelenses contra o Irã desde o início do conflito, que começou com ataques de Tel Aviv contra a infraestrutura nuclear iraniana e altos comandantes das Forças Armadas do país. Em retaliação, mísseis iranianos mataram ao menos 24 pessoas em Israel.
Na segunda-feira (16), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, escreveu em sua rede social que “todos devem se retirar imediatamente de Teerã” —uma hipótese inviável para uma cidade do tamanho da capital iraniana, cujo esvaziamento provavelmente demoraria semanas para acontecer. O espaço aéreo do país continua fechado.
Milhares de pessoas lotaram as rodovias da capital em direção ao norte, procurando refúgio em cidades próximas ao mar Cáspio, e ao noroeste, tendo como destino as montanhas do Cáucaso. Especialistas apontam, entretanto, que muitos habitantes de Teerã que não têm carros provavelmente não terão escolha a não ser se refugiar em estações de metrô ou outros prédios improvisados para se proteger de bombardeios —ao contrário de Israel, não há bunkers ou abrigos antibomba públicos.
Além disso, Teerã é uma cidade cercada por terreno montanhoso, com as saídas limitadas a algumas rodovias principais. Segundo relatos ouvidos pela emissora qatari Al Jazeera, viagens para o mar Cáspio que normalmente duram sete ou oito horas estavam demorando até 24 horas na terça, com as estradas cheias de carros. O local se tornou um destino comum para famílias fugindo de Teerã por causa da grande quantidade de hotéis na região, uma área turística do país.
Na segunda, depois de emitir uma ordem de retirada para o norte de Teerã, Israel bombardeou a sede da emissora estatal iraniana, deixando o prédio da TV em chamas e interrompendo uma transmissão ao vivo.
Tel Aviv chamou a emissora estatal de “centro de comunicações do regime iraniano” —de acordo com o direito internacional, o ataque a jornalistas, mesmo aqueles que explicitamente defendem um governo, é um crime de guerra.
Mais tarde, outra ordem de retirada foi emitida por Tel Aviv para um bairro de classe alta da capital no qual estão localizadas muitas das embaixadas estrangeiras no Irã. Lugares turísticos famosos de Teerã, caso do Grand Bazaar, mercado histórico, foram fechados e estão vazios desde o início da guerra.
Ataques israelenses ao longo dos últimos dias também atingiram o Centro de Pesquisa Nuclear de Teerã e a sede do Crescente Vermelho, serviço médico equivalente à Cruz Vermelha em países de maioria muçulmana. Três socorristas morreram, e a organização condenou o ataque, dizendo que era uma violação da lei internacional.
O caos na cidade foi exacerbado pela escassez de combustível em postos de gasolina, com vários moradores tentando estocar o insumo —de acordo com o jornal americano The New York Times, muitos postos haviam limitado a compra de gasolina a dez litros por carro.
Os iranianos em Teerã também enfrentam problemas no sinal de celular e na internet —nesta quarta (18), o regime iraniano disse que reduziu o acesso à rede com o objetivo de “evitar que o inimigo possa ameaçar a vida dos cidadãos”.
