Um dia após Erik Menendez, 54, ter um pedido de liberdade condicional negado pela Justiça da Califórnia, seu irmão, Lyle, 57, passou pela mesma situação na noite desta sexta, no horário local, já madrugada (23) de sábado no Brasil. Ambos cumprem prisão perpétua por terem assassinado os pais em uma mansão de Beverly Hills em 1989, em um caso que gerou comoção nos Estados Unidos.
O assassinato voltou a ganhar atenção nos últimos anos, depois que documentários lançaram luz sobre possíveis abusos parentais que teriam motivado apelos pela libertação dos irmãos. Eles ainda têm outros caminhos potenciais para a liberdade, embora a condicional fosse a opção mais direta.
Apesar de ter tido um resultado semelhante à de Erik, a audiência por videochamada desta sexta com o Departamento de Correções e Reabilitação da Califórnia, que durou 11 horas, foi diferente. Segundo a advogada de Lyle, Heidi Rummel, o órgão não fez muitas perguntas sobre o trauma que os irmãos dizem ter sofrido.
Da prisão em que está em San Diego, na Califórnia, Lyle foi questionado sobre a influência do abuso sexual que ele diz ter sofrido no assassinato. “Me causou muita vergonha”, disse. “Isso praticamente caracterizou meu relacionamento com meu pai.”
Lyle também usou estratégias diferentes das de seu irmão, que ouviu do comissário Robert Barton que o assassinato da mãe demonstrou falta de empatia e que não havia perigo iminente de vida no momento do crime, refutando a alegação de que os irmãos agiram por temer que os pais os matassem primeiro. Barton também disse acreditar que havia uma motivação financeira para o crime.
Ao falar de seu relacionamento com a mãe, Lyle deixou claro que ela o havia abusado sexualmente, uma revelação que havia sido levantada já na década de 1990. Ele disse ainda que não acreditava mais que seus pais o matariam, mas que, na época, tinha essa crença sincera.
A audiência ocorre 36 anos após os irmãos entrarem na sala de estar com espingardas e abrirem fogo contra os próprios pais, José Menendez, um imigrante cubano que se tornou um importante executivo da música, e Mary Louise Kitty.
Ao longo da década seguinte, eles passaram por dois julgamentos. O de 1993, que terminou sem um veredito, foi um dos primeiros transmitidos para todo o país, o que aumentou a comoção pelo caso. No segundo, em 1996, eles foram condenados à prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional.
Na ocasião, o Ministério Público os acusou de terem matado os pais para ficar com uma herança de US$ 14 milhões, enquanto a defesa apresentou os irmãos, que tinham 21 e 18 anos quando o crime ocorreu, como vítimas de abuso sexual e psicológico nas mãos de um pai controlador e de uma mãe negligente.
A versão dos advogados dos irmãos ganhou força graças a recentes produções audiovisuais sobre o assassinato, como a minissérie “Monstros: A História de Lyle e Erik Menendez” e o documentário “O Caso dos Irmãos Menendez”, ambos da Netflix.
Assim como Erik, Lyle ouviu questionamentos sobre seu histórico criminal, incluindo roubos, sua compra de armas e suas preocupações com dinheiro. Ele também foi interrogado a respeito do uso ilegal de celulares na prisão —violação que os comissários citaram para negar a liberdade condicional ao seu irmão.
Lyle ofereceu uma nova explicação para o motivo de ter usado celulares na prisão: ele queria privacidade para suas ligações porque estava preocupado que os funcionários da prisão que monitoravam suas conversas vendessem informações para a imprensa.
Julie Garland, membro do conselho de liberdade condicional que analisou o caso, disse que Lyle ainda representa um risco para a comunidade, mas o incentivou a não perder as esperanças, pois a negação “não é o fim”. A maioria dos presos é rejeitada na primeira tentativa, embora a porcentagem de concessões de condicional tenha aumentado nos últimos anos, à medida que reformas na justiça criminal abriram novas oportunidades.
“Minha mãe e meu pai não precisavam morrer naquele dia”, disse Lyle, emocionado, ao conselho, explicando que a decisão de matar seus pais foi exclusivamente sua e não de seu irmão mais novo. “Sinto muito a todos e me arrependerei para sempre”, acrescentou em suas considerações finais ao painel.