Ataques aéreos de Israel mataram dezenas de palestinos na Faixa de Gaza nesta quarta-feira (19), segundo autoridades do território, controlado pelo Hamas. Os bombardeios, que atingiram abrigos para famílias deslocadas, é mais uma demonstração da fragilidade da trégua entre Tel Aviv e o grupo terrorista.
Autoridades palestinas falaram em 25 mortes —número que não pôde ser verificado de forma independente. Médicos informaram que duas pessoas foram mortas no subúrbio de Shuja’iyya, a leste da Cidade de Gaza, dez no subúrbio vizinho de Al-Zaytun, e o restante em dois ataques separados em Khan Yunis, no sul do território.
Trata-se do ataque mais mortal ao território desde 29 de outubro, quando 104 pessoas foram mortas em outra ofensiva atribuída a Israel a despeito do cessar-fogo de quase seis semanas em vigor.
O Exército israelense disse nesta quarta ter atacado alvos do Hamas em todo o território depois que membros da facção abriram fogo contra suas tropas no sul, supostamente violando o cessar-fogo. Nenhum israelense ficou ferido e, segundo o Exército, “dois importantes comandantes do Hamas” foram mortos: o líder de um batalhão e um oficial superior da ala naval do grupo.
A facção condenou a ofensiva. “Consideramos isso uma escalada perigosa através da qual o criminoso de guerra [Binyamin] Netanyahu busca retomar o genocídio contra nosso povo”, escreveu o Hamas em comunicado sobre o primeiro-ministro israelense.
Devido às restrições impostas aos meios de comunicação em Gaza por Israel e às dificuldades de acesso no terreno, a imprensa internacional não pode verificar as informações de ambas as partes.
Incidentes do tipo mostram a vulnerabilidade do cessar-fogo que interrompeu uma guerra de dois anos em outubro. Desde então, Israel e Hamas trocam acusações de violação da trégua mediada pelos Estados Unidos —a primeira etapa do plano apresentado pelo presidente Donald Trump para o pós-guerra.
Segundo médicos, testemunhas e a mídia palestina, os três ataques ocorreram no interior do território, longe da chamada “linha amarela”. A fronteira imaginária acordada entre as duas partes no mês passado separa as áreas sob controle de Israel e de autoridades palestinas.
Enquanto o ataque em Zaytun foi contra um edifício pertencente a autoridades religiosas muçulmanas, o ataque em Khan Yunis foi contra um clube administrado pela ONU, ambos abrigando famílias deslocadas, de acordo com relatos.
Após o cessar-fogo de 10 de outubro, Israel retirou suas tropas de parte de Gaza, permitindo o aumento do fluxo de ajuda e que centenas de milhares de palestinos retornassem ao que havia sobrado de suas casas.
No entanto, a violência não cessou completamente. Autoridades de saúde palestinas dizem que 305 pessoas foram mortas por Israel em ataques a Gaza desde a trégua —cerca de um terço delas em 29 de outubro, quando Tel Aviv retaliou uma suposta ofensiva contra as suas tropas. O Estado judeu afirma que três de seus soldados foram mortos desde o início do cessar-fogo.
O pacto contemplava a libertação de 20 reféns capturados pelo Hamas e a devolução dos cadáveres dos 28 que morreram em cativeiro. O grupo terrorista ainda precisa devolver três corpos, e a implementação da segunda fase do acordo ainda não começou.
Nessa etapa, deveriam ser acordados os termos do desarmamento da facção palestina, a implementação de uma autoridade de transição e o desdobramento de uma força internacional de estabilização no território.
Segundo dados da ONU, até o final de setembro, o Exército israelense danificou ou destruiu 83% dos edifícios que existiam em Gaza antes da guerra. O território palestino, um dos mais densamente povoados do mundo, está coberto por 61,5 milhões de toneladas de escombros, quase 170 vezes o peso do Empire State Building de Nova York.
A guerra começou após um ataque do Hamas em Israel no dia 7 de outubro de 2023 matar cerca de 1.200 pessoas. A campanha militar israelense de retaliação, por sua vez, matou quase 70 mil, segundo números do ministério da Saúde do território controlado pelo Hamas, considerados confiáveis pela ONU.




