O Exército israelense atacou a Faixa de Gaza pela terceira noite consecutiva, nesta quinta-feira (30). Duas pessoas morreram, segundo a agência de notícias oficial da Autoridade Palestina (Wafa), em mais um teste ao frágil cessar-fogo.

Um palestino foi morto por bombardeio israelense e outro foi baleado por forças israelenses, disse a Wafa nesta sexta-feira (31). Uma terceira pessoa morreu em decorrência de ferimentos sofridos em bombardeios anteriores, informou a agência.

Israel devolveu os corpos de 30 palestinos ao hospital Nasser nesta sexta-feira (31) em troca dos restos mortais de dois reféns israelenses entregues no dia anterior pelo grupo terrorista Hamas, informou o hospital, localizado no sul da Faixa de Gaza, à AFP.

“Os corpos de 30 prisioneiros palestinos foram recebidos do lado israelense como parte do acordo de troca”, declarou o hospital, situado em Khan Yunis. No total, 225 cadáveres de palestinos já foram devolvidos em troca de 15 corpos israelenses, de acordo com os termos do acordo de cessar-fogo em vigor desde 10 de outubro.

Desde então, o Hamas também devolveu os corpos de dois reféns não israelenses, um tailandês e um nepalês.

A devolução pelo braço armado do Hamas, na quinta-feira (30), ocorreu dois dias após o governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu ordenar novos ataques aéreos contra a Faixa de Gaza.

O cessar-fogo, mediado pelos Estados Unidos, deixou sem solução questões espinhosas, como o desarmamento do Hamas e um cronograma para a retirada israelense da Faixa de Gaza. A trégua tem sido testada por episódios de violência desde que entrou em vigor.

Entre terça (28) e quarta-feira (29), Israel retaliou a morte de um soldado israelense com bombardeios que, segundo autoridades de saúde de Gaza, mataram 104 pessoas.

Tel Aviv diz que o soldado foi morto em um ataque de homens armados em território dentro da “linha amarela”, onde suas tropas haviam se retirado sob a trégua. O Hamas rejeitou a acusação.

Apesar da retaliação, Israel afirmou na quarta-feira (29) que continua comprometido com o cessar-fogo.

Pelo acordo, o Hamas libertou todos os reféns vivos mantidos em Gaza em troca de quase 2.000 prisioneiros e detentos palestinos de guerra, enquanto Israel concordou em recuar suas tropas, interromper a ofensiva e aumentar a ajuda humanitária.

O Hamas também se comprometeu a entregar os restos mortais de 28 reféns mortos em troca de 360 militantes palestinos mortos na guerra.

O grupo afirmou que precisará de tempo para localizar e recuperar os corpos de todos os reféns restantes, enquanto Israel acusa o Hamas de violar a trégua ao demorar na entrega dos corpos.

Dois anos de conflito em Gaza deixaram mais de 68 mil palestinos mortos, segundo autoridades de saúde locais, e reduziram o território a ruínas. A guerra foi deflagrado após terroristas do Hamas atacarem o sul de Israel, em outubro de 2023, matando 1.200 pessoas e levando 251 reféns para Gaza.

O cessar-fogo em Gaza aliviou o trauma dos bombardeios e do bloqueio israelense, mas a escassez de dinheiro em espécie deixou os palestinos incapazes de gastar o pouco que têm.

Os bancos —muitos danificados ou destruídos junto com casas, escolas e outras instituições em Gaza durante dois anos de guerra— começaram a reabrir em 16 de outubro, seis dias após o anúncio do cessar-fogo. Filas logo se formaram, mas as pessoas saíram desapontadas.

“Não há dinheiro, não há liquidez no banco”, disse Wael Abu Fares, 61 anos, pai de seis filhos, em frente ao Banco da Palestina. “Você só vem, faz transações de papelada e vai embora.”

As pessoas precisam de dinheiro vivo para a maioria das transações cotidianas em Gaza —seja para comprar comida no mercado ou pagar contas de serviços—, mas Israel bloqueou as transferências de cédulas junto com a maioria dos outros bens após o ataque de 7 outubro de 2023.

A questão do fornecimento de dinheiro em espécie para Gaza não foi incluída no plano de paz de 20 pontos do presidente dos EUA, Donald Trump, que também deixou os detalhes da reconstrução e da segurança em aberto.

O Cogat, braço do Exército israelense que supervisiona o fluxo de ajuda para a Faixa de Gaza, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre se ou quando as cédulas poderão voltar a circular.

A escassez de notas e moedas agravou a crise para os palestinos que perderam parentes, empregos e casas, esgotaram suas economias e venderam seus pertences para comprar comida, barracas e remédios. Alguns recorreram à troca direta para sobreviver.