Israel está avaliando a possibilidade de anexar partes da Cisjordânia ocupada como resposta ao reconhecimento do Estado da Palestina pela França e outros países, segundo três autoridades israelenses.
A extensão da soberania israelense sobre a Cisjordânia —que, na prática, significa anexar territórios tomados durante a guerra de 1967— estava na pauta da reunião do gabinete de segurança do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu.
Ainda não está claro exatamente como e quando uma eventual medida desse tipo seria aplicada: se atingiria apenas os assentamentos israelenses ou apenas alguns deles, se envolveria áreas específicas como o Vale do Jordão, e se possíveis ações concretas —que exigiriam trâmite legislativo demorado— seguiriam após as discussões.
Qualquer avanço visando a anexação da Cisjordânia provavelmente geraria forte repúdio dos palestinos, que almejam o território para um futuro Estado, assim como de países árabes e do Ocidente. Não se sabe ainda qual é a posição do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre o tema. A Casa Branca e o Departamento de Estado não responderam aos pedidos de comentário.
A assessoria do ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Sa’ar, não comentou se ele tratou do assunto com seu homólogo americano, Marco Rubio, durante visita a Washington na semana passada. O gabinete de Netanyahu também não se manifestou sobre se o premiê é favorável à anexação ou, caso seja, de quais áreas.
Uma promessa anterior de Netanyahu de anexar assentamentos judaicos e o Vale do Jordão foi abandonada em 2020 em troca de um acordo para normalizar relações com Emirados Árabes Unidos e Bahrein, no chamado “Acordo de Abraão”, mediado por Trump em seu primeiro mandato.
O gabinete do presidente palestino Mahmoud Abbas também não comentou imediatamente o assunto. Os Estados Unidos anunciaram, na última sexta-feira, que não permitiriam que Abbas viajasse a Nova York para a Assembleia Geral da ONU, na qual vários aliados americanos devem reconhecer o Estado palestino.
Israel, que enfrenta crescente pressão internacional por causa da guerra em Gaza, ficou irritado com o anúncio de França, Reino Unido, Austrália e Canadá de que pretendem reconhecer formalmente a Palestina como Estado durante uma cúpula da Assembleia da ONU em setembro.
Em 2024, o tribunal mais alto da ONU declarou que a ocupação israelense dos territórios palestinos, incluindo a Cisjordânia e os assentamentos na região, é ilegal e deveria ser encerrada o quanto antes.
Israel afirma que os territórios não estão sob ocupação do ponto de vista jurídico, pois estariam em áreas disputadas, mas a ONU e a vasta maioria da comunidade internacional consideram esses territórios como ocupados.
As anexações, por Israel, de Jerusalém Oriental e das Colinas de Golã, feitas décadas atrás, continuam sem reconhecimento internacional.
Integrantes da coalizão de governo de Netanyahu defendem, há anos, que Israel formalize a anexação de partes da Cisjordânia, território ao qual o país atribui vínculos históricos e bíblicos.