As autoridades brasileiras que viajaram a Israel criticaram a nota do Ministério das Relações Exteriores em que o órgão afirmou que os prefeitos contrariaram a recomendação de não viajar à região. A delegação reclama do que veem como tom de reprimenda usado pelo ministério e diz que se reuniu com diplomatas que estavam cientes da viagem.
O comunicado do Itamaraty, publicado nesta segunda-feira (16), dizia que as comitivas de autoridades brasileiras “viajaram a Israel a convite do governo israelense, a despeito do alerta consular da Embaixada do Brasil em Tel Aviv”.
Em nota, delegação afirmou que “tal declaração contradiz frontalmente o que foi afirmado à própria delegação com a representação diplomática brasileira em Tel Aviv, realizada no último sábado”, quando diplomatas presentes confirmaram estarem informados com antecedência sobre a visita da delegação, de acordo com o grupo.
“Se a representação diplomática foi previamente avisada, como reconheceram seus próprios representantes, questionamos a ausência de qualquer advertência formal ou impedimento à realização da missão”, continua a nota.
As recomendações para que brasileiros não viajem a zonas avaliadas como perigosas pelo ministério não constituem impedimentos legais a quem decide se deslocar a despeito da recomendação.
“Mais grave ainda é que, em meio a um cenário de guerra, quando autoridades brasileiras —eleitas e em pleno exercício de suas funções— se encontram sob risco e buscam o apoio de seu país, recebam como resposta um comunicado que mais se assemelha a uma reprimenda do que a uma manifestação de solidariedade e proteção”, diz o texto.
“Reiteramos que nossa missão se deu com propósito institucional e de boa-fé, conforme as normas republicanas, com agenda oficial e objetivos públicos. O momento exige responsabilidade, unidade nacional e compromisso com a verdade”, afirma a nota.
Os políticos finalizam o comunicado agradecendo aos governos locais de Tel Aviv, Jordânia e Arábia Saudita pela ajuda humanitária.
O grupo de políticos teria sido convidado por Israel para comparecer à MuniExpo Israel 2025, uma feira internacional de tecnologia. Um primeiro grupo com 12 autoridades, incluindo dois prefeitos de capitais, começou a ser retirado da Jordânia na segunda por via terrestre rumo à Arábia Saudita, após mobilização do Ministério das Relações Exteriores e das embaixadas brasileiras de Amã, Tel Aviv e Riad.
Os prefeitos de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União Brasil), e João Pessoa, Cícero Lucena (PP), estão na comitiva. A reportagem também buscou a prefeitura de Macaé, devido à presença do chefe Welberth Porto de Rezende (Cidadania) no grupo e aguarda retorno.
A prefeitura de João Pessoa informou que as despesas do prefeito e das demais autoridades municipais foram custeadas pelo governo de Israel. O governo do Mato Grosso do Sul, que está com três servidores estaduais no território, também informou que o convite e despesas foram de responsabilidade de Tel Aviv.
Já o governo de Goiás, que enviou seu secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Pedro Leonardo Rezende, e o secretário de Estado da Saúde, Rasível Santos, disse ter arcado com as passagens aéreas dos dois, mas não especificou os valores.
Os estados de Rio de Janeiro e Sergipe, que também estão com representantes no território, informaram que os municípios tinham autonomia para definir suas agendas e não precisaram de autorização das gestões estaduais.
Agora, o restante das autoridades —cerca de 27 políticos— devem devem deixar o país até quinta-feira (19), segundo o Itamaraty.
Questionada pela reportagem, a CNM (Confederação Nacional de Municípios) disse não ter relação com a viagem dos gestores a Israel. A entidade diz que passou a atuar para auxiliar os gestores após o agravamento da crise no território e que articulou junto ao governo federal e à embaixada da Jordânia, solicitando apoio das autoridades locais com a possível saída das autoridades brasileiras.