O julgamento criminal do homem acusado de tentar assassinar o presidente dos EUA, Donald Trump, em setembro do ano passado, na Flórida, teve um início contencioso nesta quinta-feira (11), quando uma juíza federal interrompeu a declaração inicial do réu Ryan Routh, que representa a si mesmo no processo.
O julgamento ocorre em momento de grave tensão político no país, apenas um dia após o assassinato a tiros do influenciador Charlie Kirk, um aliado próximo de Trump, durante debate em universidade em Utah.
A juíza federal da Flórida, Aileen Cannon, interrompeu a apresentação de Routh ao júri após apenas alguns minutos, depois que Routh começou a divagar e se aprofundar em tópicos como a origem da espécie humana, a colonização do Oeste americano e conflitos internacionais.
“Este caso não significa absolutamente nada”, disse Routh, levando Cannon a retirar o júri da sala de audiência. O réu disse à juíza que queria falar sobre o princípio da não-violência.
Cannon havia alertado anteriormente Routh que ela tinha paciência limitada para um argumento que “zombaria da dignidade do tribunal”. Routh, 59, declarou-se inocente de cinco acusações federais, incluindo tentativa de assassinato de um importante candidato presidencial. Ele enfrenta uma pena máxima de prisão perpétua.
Os promotores afirmam que Routh se escondeu com um fuzil próximo ao sexto buraco no Trump International Golf Club, em West Palm Beach, com a intenção de matar Trump enquanto ele jogava golfe no dia 15 de setembro de 2024.
“No ano passado, o réu Ryan Routh queria garantir que o povo deste país não pudesse eleger Donald Trump como presidente dos EUA”, disse o promotor John Shipley durante sua declaração inicial. “O réu decidiu tirar a escolha dos eleitores americanos.”
Shipley afirma que Routh planejou por semanas matar Trump, viajando de sua casa no Havaí para sua Carolina do Norte natal e eventualmente para West Palm Beach, na Flórida, em um carro de família com seis telefones celulares e placas roubadas. Ele ficou em um posto de caminhões por cerca de um mês, rastreando os movimentos de Trump e visitando o campo de golfe cerca de 17 vezes, disse Shipley ao júri.
Robert Fercano, um agente especial do Serviço Secreto, afirmou em seu testemunho que estava patrulhando em um carrinho de golfe à frente de Trump no dia do incidente e avistou um rosto e um fuzil apontando para ele através de uma cerca. Fercano disse que atirou na direção da arma, o que os promotores dizem ter levado Routh a fugir.
Durante o interrogatório, Fercano confrontou Routh sobre o episódio. “Mentalmente, tenho que viver com o fato de que você apontou uma arma para o meu rosto”, disse Fercano.
O incidente ocorreu cerca de dois meses depois que Trump havia sido ferido na orelha após outro ataque a tiros em um comício de campanha em Butler, na Pensilvânia, em julho do ano passado. O atirador foi morto a tiros no local.
Routh tinha vivido uma vida errática como empreiteiro de telhados e havia defendido a democracia em Taiwan e na Ucrânia. Ele também foi entrevistado em 2023 a respeito de um plano quixotesco para enviar refugiados afegãos para ajudar a Ucrânia a repelir a invasão da Rússia.
Em julho, ele disse a Cannon que não confiava em um “estranho aleatório” para falar por ele e que se defenderia sozinho. Seus dois ex-defensores públicos estão servindo como advogados de apoio para auxiliar em questões logísticas.
Apuração da agência de notícia Reuters descobriu que os EUA estão no meio do aumento mais prolongado de violência política desde a década de 1970, uma tendência que começou durante a primeira corrida presidencial de Trump em 2016.
Outros episódios de alto perfil incluem o ataque a tiros contra Steve Scalise, republicano da Câmara dos Representantes, em um jogo de beisebol do Congresso em 2017 e o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos EUA por apoiadores de Trump.
Democratas também foram alvos recentes de violência política. Em abril, um homem invadiu a residência do governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, e ateou fogo no local enquanto a família estava dentro da casa. Em junho, um atirador se passando por policial em Minnesota assassinou a legisladora estadual Melissa Hortman e seu marido e atirou no senador estadual John Hoffman e sua esposa.
O julgamento na Flórida ocorre no mesmo tribunal onde Trump enfrentou acusações criminais de reter ilegalmente documentos classificados após seu primeiro mandato. Cannon, que Trump nomeou em 2020 para o cargo, arquivou aquele caso antes que ele chegasse a julgamento.
