Foi uma decisão judicial no ano passado que levou Paetongtarn Shinawatra ao cargo de primeira-ministra da Tailândia e, agora, mais uma vez, o destino da política novata de 38 anos está nas mãos do judiciário. O Tribunal Constitucional suspendeu Paetongtarn —a mais jovem primeira-ministra do país— do cargo nesta terça-feira (1), enquanto aguarda um processo que pede sua destituição devido a uma controversa ligação telefônica no mês passado com o ex-premiê cambojano Hun Sen.
“Quero pedir desculpas às pessoas que estão chateadas com tudo isso”, disse Paetongtarn a repórteres na escadaria da Casa do Governo em Bancoc, onde ela assumiu o cargo apenas em agosto passado, após a demissão de seu antecessor também por ordem judicial. “Vou continuar a trabalhar pelo país como cidadã tailandesa”, afirmou, “não tenho más intenções”.
A ordem de suspensão encerrou duas semanas tumultuadas na política tailandesa, desencadeadas pelo vazamento da ligação entre Hun Sen e Paetongtarn, na qual ela aparentemente se submete ao veterano político do Camboja e critica um alto comandante militar tailandês.
Para parte da população, as críticas ao exército, que detém uma influência expressiva sobre os assuntos internos, incluindo a política, ultrapassaram um limite e provocaram uma reação negativa, particularmente do campo conservador-monarquista.
O vazamento de 15 de junho e a divulgação subsequente da ligação completa por Hun Sen ocorreram em um momento delicado para Paetongtarn e seu partido governista Pheu Thai, que já enfrentava dificuldades com uma economia em crise e uma coalizão instável, além de uma disputa fronteiriça com o Camboja.
Embora Paetongtarn tenha se desculpado pela ligação e descrito seu conteúdo como uma tática de negociação, um importante parceiro da coalizão, o partido Bhumjaithai, deixou o governo poucas horas após o vazamento, deixando a maioria parlamentar de sua aliança muito fragilizada.
Ainda assim, Paetongtarn —filha do influente, mas controverso, ex-primeiro-ministro tailandês Thaksin Shinawatra— resistiu e conseguiu manter o restante de sua coalizão.
“O país deve seguir em frente”, disse ela em 22 de junho. “A Tailândia deve se unir e promover políticas para resolver os problemas do povo.” Naquela altura, um grupo de 36 senadores já tinha apresentado uma petição ao Tribunal Constitucional solicitando a demissão da primeira-ministra.
A pressão judicial coincidiu com o crescente descontentamento público contra a líder, que culminou em um enorme comício antigovernamental no último sábado (28). Milhares de pessoas reuniram-se no centro da capital tailandesa, enfrentando intensas chuvas, para manifestarem-se durante horas. “Ung Ing, saia”, gritavam em uníssono, chamando a primeira-ministra pelo apelido.
Em uma pesquisa de opinião divulgada no domingo, a aprovação de Paetongtarn ficou em 9,2% em junho, uma queda acentuada em relação aos 30,9% registrados em março.
A MENINA DO PAPAI
A caçula dos três filhos de Thaksin, Paetongtarn passou grande parte de sua vida à sombra da carreira política do pai, que começou em 1994 e o levou a se tornar primeiro-ministro em 2001.
Thaksin foi deposto em um golpe cinco anos depois, mas continuou a pressionar sua irmã mais nova, Yingluck, a assumir o cargo de primeira-ministra em 2011. Mas ela foi forçada a deixar o cargo por uma decisão judicial.
A luta pelo poder que durou décadas entre o campo conservador-monarquista da Tailândia e o clã Shinawatra foi destaque na campanha de Paetongtarn para ajudar sua família a reconquistar o poder nas eleições gerais de 2023, nas quais o Pheu Thai ficou em segundo lugar.
Depois que o partido Move Forward, vencedor das eleições, foi impedido de assumir o poder por legisladores nomeados pelos militares, o Pheu Thai conseguiu uma maioria parlamentar para formar um governo inicialmente liderado pelo primeiro-ministro Srettha Thavisin.
Foi a demissão de Srettha em agosto passado que permitiu a Paetongtarn assumir seu lugar —embora ela nunca tivesse ocupado qualquer cargo no governo antes.
Formada pela Universidade Chulalongkorn e pela Universidade de Surrey, no Reino Unido, ela estava envolvida principalmente nos negócios particulares da família Shinawatra.
Grande parte de seus 10 meses como primeira-ministra também foi ofuscada pela presença ameaçadora de Thaksin, que retornou à Tailândia em 2023 após mais de uma década e meia no exílio para evitar uma pena de prisão —e agora pode novamente enfrentar uma pena de prisão.
Para Paetongtarn, no entanto, isso parecia ser de pouca importância. “Sou a menina do papai”, disse ela ao parlamento em março, referindo-se a Thaksin. “Sou assim completamente. Sou a menina do papai, 100%.”