FERNANDO CANZIAN
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O agronegócio brasileiro vem consumindo mais agrotóxicos e fertilizantes para aumentar a produção de soja -cultura em que é líder global. O crescimento ocorre em escala maior do que a ampliação da área plantada. Além dos riscos para o meio ambiente, isso tende a diminuir a rentabilidade no campo.
Na comparação com outros grandes produtores (EUA, Argentina, China e Índia), o Brasil lidera, proporcionalmente, no uso de defensivos, segundo dados oficiais compilados pelo Instituto Escolhas, entidade sem fins lucrativos mantida por fundações filantrópicas que busca promover o debate ambiental com dados sobre o setor.
No uso de fertilizantes para soja, o país só fica atrás dos chineses levando em conta o volume por sacas. Apesar do crescimento vertiginoso da área plantada do grão em 30 anos, de 11 milhões de hectares para 44 milhões, houve queda no total de sacas obtidas com o uso desses insumos.
O trabalho sustenta que em 1993 o país produzia 23 sacas de soja para cada 1 kg de agrotóxico empregado. Em 2023, foram apenas 7. Em relação a fertilizantes, a quantidade de sacas caiu de 517 para 333 para cada tonelada de fósforo e potássio empregada.
As fontes dos dados são Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), Ibama, a pesquisa de Produção Agrícola Municipal do IBGE e a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura).
Segundo o levantamento, enquanto nessas três décadas a produtividade da soja registrou crescimento anual de 2%, ela ficou abaixo do aumento da área plantada (5% ao ano), do uso de agrotóxicos (11%) e de fertilizantes (8%). Na última década, o custo de insumos subiu de 30% do valor bruto produzido para 44%.
No primeiro trimestre de 2025, enquanto o PIB brasileiro cresceu 1,4% ante os últimos três meses do ano passado, o agro saltou 12,2%. “São resultados que enchem os olhos. Mas o fato é que os produtores estão utilizando cada vez mais insumos. Dependendo do preço internacional [cerca de R$ 120 para a saca de 60 kg atualmente], isso deve afetar a sustentabilidade”, diz Jaqueline Ferreira, diretora de Pesquisas do Instituto Escolhas.
Ela afirma que os impactos negativos do uso de agrotóxicos e fertilizantes costumam ser relativizados pelos resultados expressivos do volume de soja colhida -grão estratégico para a produção de proteína animal, fonte de dólares nas exportações e parte importante da estrutura mundial de segurança alimentar. Nesta safra 2024/2025, o setor prevê recorde de 168 milhões de toneladas de soja, 13% a mais que na anterior.
Lucas Beber, presidente da Aprosoja do Mato Grosso e fazendeiro em Nova Mutum, afirma que, de fato, o Brasil consome mais defensivos que países como EUA e China, onde o clima frio e a neve contribuem decisivamente no controle de pragas. Sobre a perda de rentabilidade, diz que fertilizantes fosfatados e potássicos têm aumentado de preço nos últimos anos.
“Além do dólar [em alta nos últimos anos], o Brasil tem uma taxa de juros elevada por causa do descontrole fiscal, o que torna o crédito caro, tanto de recursos do Plano Safra quanto dos captados no mercado”, diz Beber.
Levando-se em conta todas as culturas plantadas no Brasil (algumas com mais de uma safra, o que eleva o uso de insumos), a comercialização de agrotóxicos subiu de 76 mil toneladas para 755 mil em três décadas, alta de 893%, muito acima dos 96% de aumento da área cultivada.
Jaqueline afirma que o aumento de custos relacionado a defensivos e fertilizantes deveria levar cada vez mais produtores a procurar os chamados bioinsumos, produtos ou processos que se utilizam de fontes biológicas, como microrganismos, enzimas e extratos de plantas.
Segundo Maurício Buffon, presidente da Aprosoja Brasil, cerca de 70% dos produtores já fazem uso, ao menos em parte, desses bioinsumos. Ele pondera que é preciso maior desenvolvimento desses produtos para que haja ganho de escala na aplicação. Segundo ele, o Brasil acaba de ser premiado internacionalmente pelo uso de um produto criado pela Embrapa que reduz a necessidade do uso de nitrogênio nas plantações, diminuindo custos e danos ambientais.
O produtor Antonio Brólio, de Campo Novo do Parecis (MT), é um dos que vêm migrando para os bioinsumos. “Isso tem resultado em uma maior qualidade e volume nas colheitas. No começo é mais caro. À medida que o tempo passa, vai ficando economicamente mais viável do que usar produtos tradicionais”, afirma.
Brólio usa esses produtos há cerca de sete anos em sua área de 2.200 hectares, onde planta, além de soja, milho e algodão. “Tudo o que é químico maltrata a terra, e os bioinsumos mantêm o solo vivo. É como uma pessoa: bem nutrida, não pega gripe”, compara.
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