O presidente Donald Trump disse nesta sexta-feira (17) que o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, “não quer se meter com os Estados Unidos“. Trump utilizou a expressão em inglês “fuck around”, que usa o palavrão para fazer referência ao comportamento de alguém que provoca ou se comporta de maneira estúpida.
O termo é recorrente nos discursos do secretário de Defesa, Pete Hegseth, que já disse em repetidas ocasiões que os inimigos dos EUA agora precisam se lembrar da frase “fuck around, find out”, algo como “vacilou, perdeu”.
Trata-se da tentativa de Hegseth e da gestão Trump de projetar um governo mais beligerante que os antecessores —outra medida nesse sentido foi a alteração do nome do Departamento de Defesa para Departamento de Guerra, que ademais ainda precisa de autorização do Congresso para se tornar oficial.
A fala de Trump desta sexta, feita durante encontro com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, é novo capítulo da escalada de tensões entre EUA e Venezuela. As relações atingiram nível tão baixo que levam especialistas a especular se o governo americano prepara uma invasão ou operação militar de larga escala contra o país sul-americano. A saída repentina e sem explicações do comandante das atividades militares dos EUA na América Latina, anunciada na quinta-feira (16), aumentou as preocupações.
Na quarta-feira (15), Trump confirmou a informação relatada pelo jornal The New York Times de que a CIA, a agência de espionagem americana com longo histórico de interferência na América Latina, agora está autorizada a realizar operações secretas na Venezuela com o objetivo de derrubar Maduro do poder.
O ditador reagiu, condenando “golpes de Estado dados pela CIA” e fazendo um apelo diretamente aos americanos: “Diga ao povo dos Estados Unidos: não à guerra. Não queremos uma guerra no Caribe e na América do Sul.” Em seguida, disse, em inglês: “Sem guerra, por favor, por favor, por favor. Me escutem”.
O governo Trump já destruiu uma série de embarcações próximas à costa da Venezuela nas últimas semanas, matando dezenas de pessoas e dizendo que os barcos transportavam drogas em direção ao território americano. Especialistas apontam que a principal rota de narcotraficantes passa pelo oceano Pacífico e pela fronteira com o México, não pelo Caribe.
Também na quinta, as Forças Armadas americanas explodiram mais uma embarcação, desta vez matando duas pessoas e capturando outras duas que sobreviveram ao bombardeio. A legalidade das ações é questionada dentro e fora dos EUA, uma vez que ataques do tipo só são legítimos quando há risco iminente a militares ou civis ou quando há um estado de guerra —uma classificação que somente o Congresso americano pode autorizar.
Recentemente, entretanto, o governo Trump comunicou formalmente ao Legislativo que os EUA estão “em situação de conflito armado” com narcotraficantes latino-americanos. Essa notificação permitiria ataques unilaterais em contextos em que não há perigo iminente, como é o caso dos barcos destruídos. Em paralelo, a Venezuela pediu oficialmente ao Conselho de Segurança da ONU que declare os ataques ilegais, uma medida sem chance de ser aprovada, dado o poder de veto dos EUA no órgão.
Senadores republicanos e do Partido Democrata trabalham para aprovar legislação que proibiria novas ações contra a Venezuela sem autorização do Congresso. Apesar da insistência do governo de que os barcos representam uma ameaça ao povo americano, os parlamentares dizem não ter recebido informação suficiente do Pentágono sobre quem estava a bordo e o que estava sendo transportado.
O senador democrata Tim Kaine, que assina a legislação em conjunto com o republicano Rand Paul (um dos poucos membros do partido de Trump que ainda é crítico do presidente), disse que o governo também não explicou a necessidade de explodir os barcos, matando quase 30 pessoas até aqui, em vez de interceptá-los. Trump já classificou essa estratégia de “politicamente correta” e ineficaz.
Na sexta, o presidente disse também que os EUA atacaram um submarino que transportava drogas no Caribe, mas não deu mais detalhes. O presidente disse à imprensa que Maduro “ofereceu tudo” para tentar aliviar a tensão, em aparente referência a relatos da imprensa americana de que o regime venezuelano ofereceu à Washington participação dominante na indústria de petróleo da Venezuela, país com as maiores reservas petrolíferas do mundo.
A Casa Branca teria recusado a oferta em favor de uma estratégia, envolvendo pressão militar e as operações secretas da CIA, de derrubar Maduro do poder. Essa é a posição preferida pelo secretário de Estado, Marco Rubio, e o diretor da agência de espionagem americana, John Ratcliffe.