Centenas de milhares entraram em greve e foram às ruas em Israel neste domingo (17), dia útil no Estado judeu, para protestar contra a condução da guerra na Faixa de Gaza pelo governo de Binyamin Netanyahu e a favor de um acordo que traga de volta os reféns israelenses ainda em poder do Hamas.
De acordo com a imprensa israelense, pelo menos 220 mil manifestantes em todo o país, que tem pouco menos de 10 milhões de habitantes, lotaram ruas e praças em um dos maiores protestos contra o governo Netanyahu desde o início da guerra, em 7 de outubro de 2023. Cerca de 38 foram detidos pela polícia, que tentou dispersar aglomerações com canhões de água em algumas cidades.
Manifestantes agitavam bandeiras de Israel, faixas amarelas —a cor usada para representar as demandas dos familiares de reféns— e outros símbolos, com fotos dos sequestrados. Em algumas cidades, manifestantes bloquearam vias, incluindo a rodovia que conecta Jerusalém e Tel Aviv, as duas principais cidades do país.
Na praça do Museu de Arte de Tel Aviv, apelidada e hoje universalmente conhecida no país como praça dos reféns, manifestantes e familiares de sequestrados se reuniram ainda no sábado (16) em preparação para a greve geral. Em depoimento à Folha, a voluntária Shira Robas, 44, uma das organizadoras do Fórum de Familiares de Reféns e Desaparecidos, disse acreditar que o governo Netanyahu “desperdiçou uma série de acordos” que já poderiam ter trazido os sequestrados de volta.
“A guerra só persiste para que Netanyahu permaneça no poder. É preciso haver uma solução diplomática, com envolvimento dos Estados Unidos. Não acredito [em ocupar Gaza]. Precisamos sair de lá”, afirma Robas, que tem uma filha que se prepara para servir nas Forças Armadas do país.
Neste domingo, em reunião com seu gabinete, Netanyahu criticou quem pede o fim da guerra sem a derrota do grupo terrorista palestino, dizendo que esse posicionamento “apenas fortalece a posição do Hamas e atrasa a libertação dos reféns”.
“[Essas pessoas] também estão assegurando que os horrores do 7 de Outubro irão se repetir de novo e de novo”, afirmou o premiê, à frente do governo mais à direita da história de Israel.
Netanyahu disse ainda que seu governo está determinado a implementar o plano de ocupar a Cidade de Gaza, o maior centro urbano do território palestino conflagrado, onde cerca de 1 milhão de pessoas vivem em meio a infraestrutura destruída por bombardeios israelenses.
A decisão, que ainda não foi colocada amplamente em prática apesar de operações menores no entorno da cidade, é extremamente impopular entre israelenses e familiares de reféns, que veem a expansão da campanha militar no local como risco ainda maior aos sequestrados. São 50 os reféns ainda com o Hamas, dos quais acredita-se que 20 ainda estejam vivos.
A assistente social Galia, 46, e sua filha Ore, 15, foram juntas ao protesto por acreditar que o governo não trabalha para recuperar os reféns. “Sinto que preciso fazer alguma coisa. A guerra só continua, nunca termina, e já faz tanto tempo”, opinou Ore.
“Espero que haja um novo governo que possa pensar em um processo de paz [entre israelenses e palestinos], e não em um caminho de guerra, e possa verdadeiramente reconstruir Israel”, disse Galia.
A praça, localizada nos arredores da sede do Ministério de Defesa de Israel, tornou-se centro de protestos por um acordo de cessar fogo, e fotos dos israelenses em poder do Hamas ficam destacadas em tendas erguidas pelo movimento de famílias. Em um palco, os familiares gritaram palavras de ordem —a mais frequente, “tragam eles para casa agora”.
No domingo, o local foi visitado por políticos de oposição, como o ex-primeiro-ministro Yair Lapid, que disse que os reféns “não são peões que nosso governo pode sacrificar para avançar a guerra”. Celebridades como a atriz Gal Gadot (“Mulher-Maravilha”) também estiveram na praça.