O líder do golpe em Madagascar, coronel Michael Randrianirina, foi empossado como presidente nesta sexta-feira (17) no prédio da Corte Constitucional, na capital Antananarivo. A nomeação ocorre dias após a tomada de poder pelos militares no país.

Randrianirina substitui Andry Rajoelina, que foi destituído pelo Parlamento após manifestações lideradas por jovens contra a corrupção e as crônicas faltas de água e de energia elétrica na ilha. Os protestos se espalharam e deixaram ao menos 22 mortos.

Rajoelina, que fugiu para o exterior no último fim de semana, condenou a tomada de poder e se recusou a renunciar enquanto está no exílio, apesar das numerosas deserções nas forças de segurança e da ratificação do golpe militar pela Corte Constitucional.

A União Africana, que reúne 55 países do continente, anunciou na quarta-feira a suspensão de Madagascar do bloco, e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou o golpe. Trata-se do mesmo padrão aplicado nos últimos anos pelo bloco africano contra outros países em que militares assumiram o poder à força, incluindo Burkina Fasso, Gabão e Níger.

“Cumprirei plena, completa e justamente as altas responsabilidades do meu cargo como presidente da República de Madagascar”, afirmou Randrianirina durante a cerimônia na Corte Constitucional. Na véspera da posse, ele afirmou que a recente mudança no comando do país “não foi um golpe de Estado”

Rajoelina, o presidente destituído, é um ex-DJ e empresário que chegou ao poder em 2009 impulsionado por um movimento de jovens, tornando-se à época, aos 34 anos, um dos chefes de Estado mais novos em todo o mundo. No entanto, as promessas de combate à corrupção e de melhoria das condições de vida da população não se concretizaram.

Randrianirina era comandante da unidade de elite do Exército Capsat, com papel crucial no golpe de 2009 que levou Rajoelina ao poder. Durante os recentes protestos, ele rompeu com o presidente e se uniu às forças antigovernamentais.

Além da unidade Capsat, tanto a polícia quanto outras forças de segurança também retiraram apoio a Rajoelina nos últimos dias, o que acelerou o colapso do governo.

Embora muitos jovens tenham celebrado a queda do presidente, alguns já expressam preocupação com a rapidez com que o Exército interveio. Mesmo os manifestantes da chamada geração Z que compareceram para comemorar a posse do novo líder militar não consideraram sua luta concluída.

“Ainda não”, disse a estudante Mioty Andrianambinintsoa, 18, do lado de fora do tribunal, enquanto autoridades vestidas com as cores vermelha, verde e branca da bandeira malgaxe passavam. “Isto é apenas uma etapa. Nossos objetivos ainda não foram alcançados.”

Questionado sobre quais seriam essas metas, o manifestante Francko Ramananvarivo, 23, respondeu: “Nosso objetivo é sermos governados por um governo próximo do povo. Ainda não chegamos lá.”

Com cerca de 30 milhões de habitantes, Madagascar é um dos países mais pobres do mundo: três quartos da população vivem na pobreza. Segundo o Banco Mundial, o PIB per capita do país caiu 45% entre a independência, em 1960, e 2020.

A saída de Rajoelina é o segundo episódio em poucas semanas no qual jovens manifestantes derrubam um governo em meio a uma onda de revoltas da chamada geração Z pelo mundo. Em setembro, protestos em massa no Nepal começaram com a proibição das redes sociais pelo governo; após violência nas ruas e dezenas de mortes, terminaram com a renúncia do então primeiro-ministro.

Em seguida, a ex-chefe da Suprema Corte do país Sushila Karki foi nomeada governante interina com apoio dos manifestantes. O presidente do Nepal, então, dissolveu o Parlamento e marcou eleições para março de 2026.