O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, dirigiu-se aos reféns que estão na Faixa de Gaza durante seu discurso na Assembleia-Geral da ONU nesta sexta-feira (26), afirmando que Tel Aviv havia cercado o território com alto-falantes e a inteligência, invadido os celulares dos palestinos para transmitir a fala.
“Eu quero fazer algo que nunca fiz antes. Eu quero falar deste fórum diretamente aos reféns por meio de alto-falantes”, afirmou o premiê. “Bravos heróis, aqui é o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, falando com vocês ao vivo das Nações Unidas. Nós não nos esquecemos de vocês, nem mesmo por um segundo. O povo de Israel está com vocês. Não vamos esmorecer nem descansar até trazermos todos vocês para casa”, concluiu, primeiro em hebraico e depois em inglês.
O escritório do premiê afirmou à imprensa israelense que “instruiu entidades civis, em cooperação com as Forças Armadas, a instalar alto-falantes em caminhões apenas no lado israelense da fronteira de Gaza” como parte de um ” esforço de diplomacia pública”. O Exército confirmou, dizendo que a medida é uma “campanha de influência”.
O jornal israelense Haaretz já havia antecipado os planos, mostrando que parte dos militares se opunha à ideia pelos riscos que a medida significava aos soldados. De acordo com mídia local, alto-falantes carregados por caminhões e guindastes foram levados para postos do Exército que ficam a até 1 km da fronteira para dentro do território.
Apesar dos esforços, o jornal americano The New York Times falou com diversos moradores de Gaza e ainda não encontrou alguém que tenha conseguido ouvir o discurso.
Familiares de soldados também se opuseram à estratégia, incluindo Viki Cohen, mãe do soldado Nimrod Cohen, sequestrado nos atentados de 7 de outubro. “O mundo, cansado de truques, exige, junto com a vasta maioria dos israelenses, o fim da guerra e o retorno de nossos filhos”, escreveu ela na rede social X.
O grupo “Ima Era” (“Mães Despertas”), que reúne mães de soldados, também criticou a ação. “Por quanto tempo você vai explorar nossos filhos para sua campanha pessoal? Eles não são figurantes em seu cenário de guerra. Eles não são acessórios em sua performance megalomaníaca”, afirmou o movimento.
Até agora, a guerra só teve duas tréguas, nas quais a grande maioria dos reféns foi libertada. A segunda durou dois meses e foi interrompida em março, após Tel Aviv romper o cessar-fogo com ataques ao território, no qual diz que o Hamas ainda é ativo.
Desde o início da guerra, Netanyahu repete que o objetivo de Tel Aviv é destruir o grupo terrorista, que publicamente se recusa a desmilitarizar Gaza. Analistas militares dizem que isso não é possível, uma vez que a facção, cuja capacidade de governar o território já foi desmantelada, agora atua como força de guerrilha e não deve aceitar um acordo que inclua sua desmilitarização ou dissolução.