Países precisam aprender a andar em manada – 28/10/2025 – Rui Tavares

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O noticiário internacional é hoje dominado por uma grelha de leitura que parece ter saído do século 19. Nela, os principais atores são as grandes potências, cada uma com a sua esfera de influência.

As atenções do mundo estão voltadas para o encontro entre Trump e Xi Jinping, os homens fortes dos dois países mais poderosos do mundo. O multilateralismo parece um sonho do século 20, entretanto saído de moda. Haverá neste tempo algum espaço para as nações que não sejam impérios?

Olhemos com mais atenção, porém, para o cenário dos encontros entre Trump e Lula, primeiro, e Trump e Xi Jinping, depois. A verdade é que eles têm lugar no âmbito de reuniões de organizações multilaterais, a Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático) e a Apec (Comunidade Econômica da Ásia-Pacífico).

E a primeira delas, com mais de 600 milhões de cidadãos, distribuídos por 11 países (um deles de língua portuguesa, Timor Leste, que acabou de entrar) tem alguns ensinamentos sobre como sobreviver neste mundo de retorno ao imperialismo agressivo.

A Asean tem uma história que começa nos anos 60, mas só a partir da década passada deu passos rápidos em direção a uma maior integração econômica.

Cheguei a participar de encontros entre a União Européia e a Asean, em Jacarta, na Indonésia, e era então assumida por parte dos asiáticos a vontade de emular alguns dos passos que tinham já sido dados pela UE ou pelo Mercosul, como a criação de um espaço econômico comum.

Para nações tão populosas como a Indonésia e a Malásia, ou dinâmicas como Singapura ou o Vietnã, fazer parte de um bloco regional é uma forma de não ser dominado nem pela China nem pela Índia. Esses colossos de mais de um bilhão de habitantes cada dominam a nossa imaginação.

Mas as nações da Asean, funcionando por consenso num quadro de grande flexibilidade, conseguem aumentar os fluxos comerciais entre si, tanto em bens como serviços, e ter uma palavra a dizer nos seus destinos. E até, por serem terreno neutro, ser o palco de diálogos de importância global como os que tiveram lugar por estes dias.

É certo que os blocos são diferentes, que as relações entre Asean e Mercosul são interessantes num quadro Sul-Sul, e que a UE tem se mostrado demasiada temerosa em afirmar a sua independência em relação aos EUA. Mas entre si, esses três blocos regionais teriam em comum a vontade de afirmar nações pequenas e médias à escala global que não querem ficar sem voz neste século 21 de choques entre titãs.

A diversidade entre estes três blocos regionais é grande. Mas não é maior nem mais incongruente do que a que existe no seio do Brics, em que coexistem países que têm interesse em fomentar o multilateralismo e outros em regressar à política imperialista das esferas de interesse.

Com histórias e graus de aprofundamentos diferentes, Asean, Mercosul e UE têm sido as mais interessantes experiências de integração regional. Se juntássemos a Asean, a União Europeia e o Mercosul à mesa teríamos uma hipótese de reavivar o multilateralismo. No tempo de grandes predadores, vale a pena aprender a andar em manada.


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