Cidade mais visitada da Itália, Roma vive dias ainda mais frenéticos devido a uma coincidência de eventos em poucos dias. Além da movimentação em torno da morte do papa, ocorrida na segunda-feira (21), e do seu funeral, neste sábado (26), a cidade está cheia porque o país está em meio a um feriado prolongado, com escolas fechadas, e grupos de peregrinos estrangeiros já tinham viagem programada para esses dias por causa da Páscoa.
Um dos eventos mais importantes dentro do Jubileu da Igreja, que ocorre a cada 25 anos, o Jubileu dos Adolescentes foi mantido e, mesmo que a canonização de Carlo Acutis, morto aos 15 anos, tenha sido adiada, muitos que já tinham passagem e hospedagem reservada mantiveram a vinda a Roma –eram esperados 80 mil participantes no domingo (27). Para completar, os dias têm sido de sol, e as temperaturas passam de 20ºC pela primeira vez no ano.
Na Itália, a segunda-feira de Páscoa também faz parte dos festejos, e nesta sexta (25) o país celebra 80 anos do Dia da Liberação, que marca o fim da ocupação nazista na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). As escolas ficaram a semana toda sem aulas, em um grande feriadão.
O funeral do papa acrescentou como ingrediente a chegada de autoridades internacionais nas próximas horas. Segundo o Vaticano, são 130 delegações confirmadas, incluindo 60 chefes de Estado e monarcas, de Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva a Volodimir Zelenski, dos reis da Espanha ao príncipe William, que representará o pai, Charles 3º. Estima-se que mais de 200 mil pessoas estarão na praça.
Para acompanhar o funeral, 4.000 profissionais de imprensa já se registraram na Santa Sé . Autoridades de Roma afirmaram que são previstos mais de mil ônibus fretados, com peregrinos e turistas, e a companhia italiana de trens vai acrescentar 260 mil lugares em direção à capital. Pelas calçadas ou dentro do transporte público, é uma miríade de idiomas falados ao mesmo tempo.
Desde terça, a atenção à segurança foi redobrada. O entorno do Vaticano está blindado, com diversos vetos à passagem de veículos e postos de controle de pedestres. É preciso abrir mochilas e bolsas grandes no primeiro dos acessos, e quem pretende entrar na praça ou na Basílica de São Pedro precisa passar por um detector de metais. Para o dia do funeral, foram escalados mais de 2.000 agentes de polícia. A vigilância é complementada por helicópteros, drones e atiradores de elite.
Um exército de organizadores se espalha pelas ruas, com agentes de proteção civil, bombeiros, socorristas e voluntários que tentam orientar o vaivém de fiéis e turistas em volta da São Pedro.
As filas estão por toda a parte, não só para ver o corpo do papa dentro da basílica. Com fluxo mais organizado nesta quinta (24), por volta das 9h30 de Brasília todo o percurso, fora e dentro da igreja, exigia cerca de 1h30min. Também era preciso esperar cerca de meia hora para entrar na Basílica Santa Maria Maior, a cerca de 4,5 km dali, onde Francisco será sepultado. Normalmente, a igreja não registrava filas.
Sorveterias e restaurantes de fast food de comida italiana também eram pontos disputados –o Pasta Asciuta, do lado do Vaticano, tinha 20 minutos de espera para comer um prato de massa em pé na calçada.
Mesmo para os romanos acostumados com o fluxo de turistas o ano todo, a semana tem sido disruptiva. Diversas ruas estão bloqueadas, obrigando a desvios e com veto a estacionamento. Linhas de ônibus foram reforçadas, e a linha de metrô que leva ao Vaticano está em circulação até 1h30. Para o sábado, a situação vai piorar, com mais bloqueios, em vista do cortejo fúnebre que atravessará a capital para levar o papa até a Santa Maria Maior.