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Um dossiê de 800 páginas com contratos e correspondências vazadas indica que a Rússia estaria ajudando a China a preparar suas forças armadas para uma eventual invasão de Taiwan. As informações são do Royal United Services Institute, um conhecido centro de estudos de defesa sediado em Londres.
Os documentos mostram que Moscou teria concordado em vender equipamentos e tecnologias militares à China em 2023, o que inclui veículos blindados anfíbios, canhões antitanque e transportes aéreos de tropas. Moscou também se comprometeu a treinar um batalhão de paraquedistas chineses para operá-los.
Os contratos preveem transferência de tecnologia para que Pequim possa produzir internamente equipamentos similares no futuro, um sinal de que a cooperação militar bilateral tende a se expandir.
Para o Royal United Services Institute, o acordo representa um ganho operacional significativo para o Exército chinês, que se tornaria mais eficiente operando veículos leves lançáveis por paraquedas e tropas treinadas para aterrissar discretamente.
A China poderia abrir frentes terrestres no interior de Taiwan antes mesmo de um desembarque anfíbio em larga escala, até agora considerada a estratégia mais provável em caso de incursão militar.
A China não se manifestou sobre as revelações até agora, e o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, não quis comentar o caso.
Por que importa: se confirmadas, as revelações indicam uma mudança estrutural no equilíbrio de poder na Ásia, com a Rússia atuando como fornecedora de capacidades críticas para a máquina de guerra chinesa.
Moscou, que tradicionalmente relutava em compartilhar sistemas avançados com a China por medo de espionagem industrial, agora parece considerar o fortalecimento militar de Pequim como forma de ampliar seu próprio peso estratégico frente à Europa e aos EUA. Isso alimenta os temores de que os países estão se alinhando formalmente em um eixo anti-ocidental.
pare para ver
“Com a grandiosa ajuda da União Soviética, faremos o máximo esforço para, pouco a pouco, alcançar a industrialização do país”, diz o pôster de propaganda de 1953, ilustrado pelo designer chinês Cai Zhenhua. Treinado na Academia de Belas Artes de Hangzhou, Cai logo se converteu em um dos mais famosos ilustradores do país, com trabalhos estampando materiais de propaganda e quadros nas sedes do poder comunista em Xangai e Pequim. Saiba mais sobre ele aqui.
o que também importa
★ O premiê chinês Li Qiang visitará a Coreia do Norte a partir de quinta (9) até sábado (11) para participar das celebrações dos 80 anos do Partido dos Trabalhadores, no mais alto nível de contato entre os dois países desde 2019. A China chamou o país vizinho de “amigo e parceiro tradicional” e afirmou que manter laços próximos é uma “política estratégica inabalável”. A visita ocorre em meio ao fortalecimento da cooperação entre Coreia do Norte, Rússia e China. Também participarão das comemorações os líderes do Vietnã e do Laos, o que marca uma rara convergência diplomática entre regimes comunistas asiáticos.
★ O Quênia converteu um empréstimo de US$5 bilhões (cerca de R$26,5 bilhões) tomado com a China de dólar para renmenbi. A medida deve gerar economia anual de cerca de US$215 milhões (R$1,14 bilhões), segundo o ministro das Finanças, John Mbadi. A mudança reduz os juros atrelados ao dólar, agora substituídos por taxas mais baixas vinculadas à moeda chinesa. Além de aliviar as contas públicas, a decisão busca reduzir a exposição do país às flutuações cambiais. O movimento também acelera a estratégia de internacionalização do renmenbi, uma meta longeva de Pequim.
★ O ex-ministro da Agricultura da China, Tang Renjian, foi condenado à morte por aceitar mais de ¥268 milhões (cerca de R$200 milhões) em propinas. O valor foi recebido de 2007 a 2024. As informações são da agência estatal Xinhua. A pena, dada por um tribunal em Jilin, pode ser comutada para prisão perpétua se ele não cometer novos crimes em dois anos. Renjian confessou ter recebido dinheiro, viagens e imóveis em troca de favorecimentos políticos e empresariais. Expulso do Partido Comunista em 2024, ele é mais um alto funcionário punido na campanha anticorrupção liderada por Xi Jinping, criticada por também atingir rivais políticos.
fique de olho
O presidente de Taiwan, Lai Ching-te, afirmou que Donald Trump merece o Nobel da Paz se convencer Xi Jinping a renunciar a qualquer ação militar contra a ilha.
- Lai destacou o aumento de exercícios chineses no Estreito de Taiwan e a expansão das forças no Mar da China Oriental e Meridional;
- O líder taiwanês chamou os movimentos de risco ao equilíbrio regional e aos interesses dos EUA;
- Ele defendeu elevar os gastos de defesa a 5% do PIB até 2030.
Por que importa: Trump não se faz de rogado ao declarar publicamente o quanto deseja o prêmio, recebido por Barack Obama ainda nos primeiros meses de mandato. Desde então, vários líderes têm usado o tema para convencê-lo a agir em torno de causas que talvez não estivessem no topo da agenda. Essa é a primeira vez que o tema surge em meio a temas relativos à China —e não deve ser a última.
para ir a fundo
- O Centro para a China e a Globalização, think tank com sede em Pequim, está contratando para duas vagas em tempo integral: pesquisa para projetos e livros e comunicação internacional (responsável por gerir redes sociais e produzir conteúdo bilíngue). Saiba mais e candidate-se aqui.
- O Balé Nacional da China apresenta no Brasil o espetáculo GuoNian, uma versão de O Quebra-Nozes em celebração ao Ano Novo Chinês. Com mais de 60 bailarinos, cenários grandiosos e trilha de Tchaikovsky, o show combina balé clássico e cultura oriental. A estreia aconteceu nesta segunda (6) em Brasília e também passou por Rio de Janeiro e São Paulo. Saiba mais aqui.
- A ONG britânica Sinification está com vagas abertas para analista e editor responsáveis por pesquisas e publicações sobre a China. O contrato inicial é de 12 meses, com possibilidade de extensão e a posição pode ser em tempo integral ou parcial, de forma remota. A remuneração varia de £35 mil (R$ 250 mil) a £55 mil (R$ 394 mil) anuais. Saiba mais aqui.