O presidente do Nepal, Ramchandra Paudel, dissolveu o Parlamento do país e convocou novas eleições para março de 2026 nesta sexta-feira (12) após uma semana de protestos violentos que derrubaram o governo do ex-premiê K. P. Sharma Oli.
Paudel nomeou como primeira-ministra interina a presidente da Suprema Corte do Nepal, Sushila Karki. O nome da magistrada, a primeira mulher a governar o país, era uma exigência dos manifestantes que foram às ruas da capital, Katmandu, protestar contra um bloqueio de redes sociais em uma série de atos cada vez mais violentos.
Mesmo após Sharma Oli recuar da medida, cujo estopim foi uma campanha online contra a ostentação da riqueza de filhos de políticos, os protestos continuaram, passando a exigir o fim da corrupção e melhores condições para a juventude nepalesa. Nem a renúncia do premiê conseguiu impedir que manifestantes ateassem fogo ao Parlamento, outros prédios públicos e até mesmo casas de membros do governo.
As novas eleições foram convocadas para o dia 5 de março de 2026, uma quinta-feira. A decisão, bem como a escolha de Karki como primeira-ministra interina, veio depois de negociações entre líderes dos manifestantes e o comandante das Forças Armadas do Nepal, Ashok Raj Sigdel. O Exército do país retomou controle das ruas da capital na quarta (10), encerrando uma onda de violência que deixou 49 manifestantes e três policiais mortos e mais de 1.300 pessoas feridas.
“Parabenizamos sua Excelência Sushila Karki na ocasião da sua posse como primeira-ministra do governo interino do Nepal”, disse em nota Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, país vizinho do Nepal. “A Índia está comprometida com a paz, o progresso e a prosperidade dos nossos irmãos e irmãs do Nepal.”
A crise atual é a pior em décadas no país do Himalaia, que fica entre a Índia e a China e enfrenta instabilidade política e incerteza econômica desde que protestos levaram à abolição de sua monarquia e o estabelecimento de uma república democrática em 2008.
O Nepal, país de 30 milhões de habitantes, tem uma taxa de desemprego de 12,6% (no Brasil, foi de 5,8% no segundo trimestre de 2025), e o problema atinge principalmente os mais jovens. Muitos deixaram o país para trabalhar na construção civil ou agricultura em países como Malásia, Coreia do Sul ou as monarquias árabes do Golfo Pérsico —só em 2024, 740 mil pessoas emigraram.
Como resultado, a economia do país se tornou dependente das remessas dos nepaleses que trabalham no exterior: elas já são responsáveis por 26% do PIB, um fatia considerada exorbitante por economistas —no México, por exemplo, que enfrenta o problema há décadas e possui uma população de milhões de cidadãos vivendo nos EUA, as remessas representam menos de 5% do PIB.