A garçonete estava servindo água da torneira. Mas Natalie Winters foi rápida em pedir água engarrafada. “Nada de flúor para nosso querido convidado!”, disse ela, apontando para mim. “Somente água filtrada e limas sem pesticidas.”
Estávamos sentados no canto dos fundos do Butterworth’s, um bistrô em Capitol Hill que se tornou um destino para amigos e apoiadores do presidente Donald Trump em Washington. Steve Bannon, o atual chefe de Winters, já organizou eventos privados lá. Seu ex-chefe Raheem Kassam, editor-chefe do The National Pulse, é um dos investidores do local. O cardápio daquela noite incluía tartare de cordeiro, ostras brûlée e bochechas de porco.
Winters e eu tínhamos nos encontrado para jantar, ou assim eu pensava. “Sinceramente”, disse ela, “provavelmente não vou comer porque essa é a minha marca”. “Não como em restaurantes porque não gosto dos óleos de sementes que eles usam.”
Aos 24 anos, Winters é correspondente na Casa Branca desde 28 de janeiro. Ela faz reportagens para o podcast “War Room”, de Bannon, cujo público inclui grande parte da base republicana, funcionários de alto escalão e o presidente.
Ela faz parte de um grupo de jornalistas de veículos conservadores que ganharam projeção nacional nos últimos meses ao disputarem posições na apertada Sala de Briefing para a Imprensa James S. Brady. A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, descreveu as organizações de mídia tradicionais como cada vez mais irrelevantes e as acusou de espalhar mentiras.
A Associação de Correspondentes da Casa Branca, que inclui jornalistas de dezenas de veículos, criticou a maneira como o novo governo lida com a imprensa, dizendo que isso desestimula a reportagem independente e dá prioridade àqueles que favorecem a agenda de Trump. O relevo dado a veículos não tradicionais tem sido uma coisa boa para Winters e alguns outros jornalistas na Ala Oeste, como os que representam o Breitbart News e a Lindell TV, a plataforma fundada pelo vendedor conspiratório do MyPillow, Mike Lindell.
Quando Winters não está sentada ao lado de Bannon no estúdio do porão de sua casa perto do Capitólio, ela está frequentemente se reportando ao público fiel do “War Room” do lado de fora da Casa Branca, fazendo monólogos improvisados que ridicularizam os democratas e, às vezes, seus colegas repórteres. “É muito gonzo, o que eu gosto”, disse ela. “Penso nisso como um teste de QI todos os dias.”
Winters se descreve como uma “nacionalista populista”, como Bannon. Ela diz que detesta mais republicanos do que os admira. Ataca com frequência os líderes do partido, como o presidente da Câmara, Mike Johnson, e geralmente apoia Trump.
“Mesmo que eu concorde com a maior parte do que Trump faz”, disse Winters, “é porque concordo ideologicamente com ele”. “Não porque eu seja uma pessoa que o cultue”.
Ela considera Bannon não apenas seu coapresentador e chefe, mas também seu mentor. Quando foi para uma prisão federal no ano passado por desafiar uma intimação de um comitê do Congresso que investigava o motim de 6 de janeiro de 2021, ele a encarregou de apresentar o “War Room” em sua ausência.
Desde a reascensão de Trump, ela disse que é reconhecida em restaurantes e aeroportos. Afirmou que seus pais ficaram surpresos com sua personalidade frequentemente combativa na tela. “É uma versão tão diferente de mim no meu dia a dia”, declarou. “Eu nem me reconheço”.
Winters cresceu em Santa Monica, na Califórnia, filha de pai médico e mãe dona de casa. Estudou em Harvard-Westlake, uma escola preparatória de elite em Los Angeles, e era relativamente apolítica até o início da campanha de 2016.
Durante o último ano do ensino médio, depois de saber que havia entrado na Universidade de Chicago, praticamente parou de ir às aulas. Ela não compareceu ao dia da formatura do ensino médio porque estava viajando para Washington para começar a trabalhar como estagiária para Kassam, que na época era coapresentador do “War Room”. Tampouco foi a seu baile de formatura. “Foi a melhor coisa que já fiz”, disse.
Durante seu primeiro ano de faculdade, Winters tornou-se redatora da equipe do “War Room”. Ela frequentemente se deslocava para Washington em vez de assistir às aulas. “Meu melhor amigo da faculdade é, tipo, Steve”, disse, referindo-se a Bannon. Quando a Covid-19 se espalhou pelo mundo, ela fez sua primeira aparição na câmera.
“Foi na pandemia que ela começou a se destacar”, disse Bannon em uma entrevista por telefone. Ele usou um jargão do beisebol para descrever Winters, chamando-a de “uma jogadora de cinco ferramentas”.
Ela aumentou sua visibilidade com suas aparições no “Piers Morgan Uncensored“, um talk show do YouTube apresentado pela ex-personalidade da CNN. “Ela é sempre uma colaboradora animada e provocativa, mesmo que eu não concorde com muitas de suas opiniões”, disse Morgan por mensagem de texto. Mas Winters insiste que ela ficaria feliz em passar seus dias vasculhando bancos de dados federais. “Ela é no fundo essencialmente uma nerd”, disse Bannon.
Winters pode ser correspondente da Casa Branca, mas seu trabalho não é tanto cobrir a avalanche de decretos de Trump, mas sim relatar e comentar o que ela chama de “forças de oposição”, sejam elas políticos democratas, organizações liberais ou grandes veículos de notícias.
Hugo Lowell, correspondente do jornal The Guardian na Casa Branca, disse que Winters se diferencia dos outros repórteres porque ela “fala abertamente sobre suas próprias opiniões políticas e as insere claramente em sua cobertura”.
“Mas ela é boa na TV”, declarou Lowell, “e construiu um público com a base de Trump que se traduz em um grau de influência em um ecossistema de mídia fragmentado”.
Winters comparou a sala de reuniões da Casa Branca com o ensino médio. “Esta é a minha primeira vez em um ambiente profissional onde minha influência na realeza MAGA não significa nada”, disse ela.
Seu status de forasteira foi confirmado quando o National Press Club rejeitou seu pedido de aderir à entidade. Questionado sobre a recusa da candidatura de Winters, um porta-voz da organização, que foi fundada em 1908 e tem cerca de 2.500 membros, disse: “As decisões são tomadas de acordo com os padrões de jornalismo que defendemos. Não comentamos publicamente solicitações individuais por respeito a todos os envolvidos”.
Muitos repórteres da Casa Branca afiliados a grandes organizações de notícias não falam com ela, disse Winters, e vários deles contatados para este artigo se recusaram a comentar. Mas, em última análise, alguém que criticou grande parte da mídia de notícias como “o marco zero da oposição de esquerda a Trump” sempre teria uma recepção fria.
Ela adorou “Barbie” e concorda com o monólogo proferido por America Ferrera, no qual sua personagem diz: “É literalmente impossível ser mulher”. Mas, segundo Winters, “também é muito difícil ser homem”. Ela acrescentou que muitas mulheres mais jovens do que ela lhe pediram não apenas conselhos de carreira, mas também dicas de como ser como ela.
Como um contingente crescente da geração Z, ela é “anti-app”, ou seja, aplicativos de namoro. Um dia, ela gostaria de se estabelecer com um homem a quem pudesse ser submissa, disse. Considera-se injustiçada em relacionamentos anteriores, o que apenas alimentou suas ambições. “Eu pensava: Vou me vingar”, afirmou. “Você pode me ver na TV sendo o próximo grande acontecimento'”.