(FOLHAPRESS) – Nome cotado para concorrer ao Planalto nas eleições de 2026, Ratinho Junior (PSD) chega à reta final do seu segundo mandato no Governo do Paraná com uma gestão até aqui marcada por privatizações, como a venda do controle acionário da Copel (Companhia Paranaense de Energia), e a incorporação de pautas bolsonaristas, como as escolas cívico-militares.
Ratinho também quer ser lembrado pelo eleitorado por grandes obras de infraestrutura no litoral, como o alargamento da faixa de areia nas praias de Matinhos e a construção da ponte de Guaratuba, prevista para ser entregue em abril de 2026, período em que ele possivelmente se afastará do cargo, caso mantenha interesse na disputa eleitoral.
As obras no litoral renderam embates com o Ministério Público e críticas de entidades ligadas ao meio ambiente, área de maior desgaste de Ratinho ao longo dos mandatos.
Um projeto de lei flexibilizando e simplificando o licenciamento ambiental, por exemplo, foi aprovado no Paraná meses antes de proposta semelhante receber aval do Congresso Nacional -com 63 pontos vetados nesta sexta-feira (8) pelo presidente Lula (PT).
Na briga travada com o Ministério Público, Ratinho tem obtido vitórias no campo judicial.
A mais recente liberou outro projeto no litoral, a chamada Faixa de Infraestrutura, que é um conjunto de obras formado por uma rodovia de quase 25 km, um gasoduto e um ramal ferroviário. A faixa ficaria paralela à PR-412 e seria uma conexão direta para um porto privado ainda em construção em Pontal do Paraná.
Entre outras contestações à megaobra, o Ministério Público cita grande derrubada da Mata Atlântica e aponta ausência de consulta às comunidades tradicionais e indígenas diretamente impactadas.
Apesar da polêmica, o governador segue blindado por uma ampla base aliada na Assembleia Legislativa, contemplada com cargos na administração, e favorecido por uma bancada oposicionista miúda, com seis deputados petistas e dois filiados ao PDT, em uma Casa com 54 assentos.
Mesmo com a base numerosa, o Executivo costuma pedir regime de urgência nas votações de seu interesse. O mecanismo que acelera o trâmite dos projetos de lei e reduz o debate é imposto pelos deputados governistas em textos com potencial para gerar algum desgaste a Ratinho.
A legislação que permitiu a alteração no controle da Copel -a participação do estado na empresa passou de 31% para 16%- foi aprovada na Assembleia em menos de uma semana, no final de 2022.
Até o primeiro trimestre de 2026, Ratinho quer concluir o processo de desestatização da Celepar, primeira empresa pública de tecnologia da informação do país. Também pretende vender a Ferroeste, empresa criada no final da década de 1980 e que hoje administra a ferrovia entre Guarapuava e Cascavel.
O governador ainda aposta em parcerias com setores empresariais, inclusive na área da educação, em que tem propagandeado a pontuação no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) -em 2023, as redes estaduais de ensino médio do Paraná e do Espírito Santo ficaram na segunda melhor posição do país, atrás de Goiás.
Em junho de 2024, a Assembleia Legislativa aprovou a possibilidade da transferência da parte administrativa dos colégios públicos estaduais para o setor privado, o que gerou um dos momentos mais delicados deste segundo mandato -após um primeiro governo consumido pela crise hídrica e pelos efeitos da pandemia de Covid-19, avaliam aliados.
Batizada pelo governo Ratinho de Programa Parceiro da Escola, a ideia foi o estopim para um movimento grevista capitaneado pela APP-Sindicato, a entidade que representa os professores e funcionários da educação e que é conhecida pela forte capilaridade.
Um dos protestos terminou em confusão na Assembleia, após a multidão forçar a entrada na Casa. Na esteira disso, a PGE (Procuradoria Geral do Estado) chegou a pedir a prisão da presidente da APP-Sindicato, Walkiria Mazeto. O pedido da gestão Ratinho classificou a mobilização dos professores como “atos antidemocráticos” e “terrorismo”. A Justiça estadual abriu negociações entre as partes.
Na mesma época, a Secretaria da Educação enviou um polêmico vídeo sem assinatura para o celular de pais de alunos em que atacava o movimento grevista dos professores. Os disparos em massa partiram do mesmo número usado pela pasta para comunicados oficiais.
Ainda na área educacional, a gestão Ratinho também abraçou o modelo de escola cívico-militar proposto pelo governo federal em 2019, pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL). Hoje ele é adotado em mais de 300 colégios no Paraná.
Na área da segurança pública, também há aceno de Ratinho ao eleitorado bolsonarista. O governador diz querer o endurecimento de penas e faz a defesa da autonomia dos estados para legislar sobre o tema.
O Anuário de Segurança Pública 2025 mostrou que o Paraná teve no ano passado uma taxa de violência letal de 18,4 mortes intencionais para cada grupo de 100 mil habitantes, menor do que a média brasileira (20,8), mas pior na comparação com os demais estados da região Sul. O Rio Grande do Sul, com tamanho populacional semelhante, teve uma taxa de 15.
Além disso, o Paraná ficou dentro do grupo de 21 estados que apresentaram redução geral na taxa de violência letal na comparação com 2023, mas a fatia das mortes por intervenção policial cresceu de 15,1 para 18,4.
Alguns temas mais espinhosos da pauta bolsonarista são geralmente driblados pelo governador, que, ao longo dos mandatos, tem respondido a questionamentos sobre falas e atos do ex-presidente de forma genérica.
Ele diz ser “contra a brigaiada” e afirma que está concentrado em criar um ambiente de paz para investimentos no estado.
Na avaliação de aliados, a postura de Ratinho revela estilo prático, com capacidade para diálogo com diferentes políticos. Já a oposição vê uma retórica irresponsável quanto aos rumos do país.
“Ratinho Jr. foi solidário a Bolsonaro. Natural, são aliados. O que não dá para engolir é o governador taxar de ‘briga que não leva a nada’ o momento político e econômico mais delicado dos últimos tempos. Até onde vai a falta de comprometimento com o país?”, criticou o deputado federal Tadeu Veneri (PT) em resposta a uma declaração do governador em uma rede social, após a prisão domiciliar do ex-presidente.
Pesquisa Datafolha sobre as eleições presidenciais do ano que vem apontou Ratinho com 40% das intenções de voto em um eventual segundo turno contra Lula (PT), que aparece com 45%. O desempenho do paranaense é semelhante ao do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos), que obteve 41% contra o atual presidente no mesmo cenário.
Em especial sobre 2026, a prisão domiciliar ampliou a pressão de setores do mundo político e empresarial para a escolha de um candidato, mas ao mesmo tempo dificultou conversas nesse sentido com o ex-presidente -abordar o assunto agora, em momento de fragilidade, pode soar indelicado e oportunista
Folhapress | 05:00 – 11/08/2025