O mar Negro voltou a entrar no foco das tensões da Guerra da Ucrânia, após um período de relativa calma em termos militares. A Romênia anunciou nesta quarta (3) ter destruído um drone naval da Ucrânia perto de sua costa.
O incidente ocorreu após ataques a três navios ligados à chamada “frota fantasma” russa de petroleiros, que levam commodities do país de Vladimir Putin para clientes mundo afora sendo operados por empresas que não estão sob sanção devido ao conflito.
O fato de a ação desta quarta ter sido executada por um membro da Otan aliado de Kiev mostra o grau de complexidade naquelas águas. A Romênia sempre se queixa de intrusões eventuais de drones russos lançados contra os portos ucranianos do rio Danúbio, que separa o país da Ucrânia, mas é a primeira vez que vai na mão contrária.
Segundo o Ministério da Defesa do país, a Marinha localizou um modelo Sea Baby, operado pelo SBU (Serviço de Segurança da Ucrânia, na sigla local), e enviou mergulhadores especializados para detoná-lo na água, a 66 km do porto de Constanta. A pasta dizia haver risco para a navegação.
Os Sea Baby são o principal tipo de lancha-robô usada pela Ucrânia, e já foram empregados como kamikazes e até para lançar mísseis contra helicópteros russos, com um sucesso conhecido.
Na sexta (28), dois petroleiros descarregados que iam para o porto de Novorossisk, na Rússia, foram avariados por drones do tipo. O SBU inicialmente confirmou o ataque à mídia ucraniana, mas depois buscou se afastar da autoria.
Na terça (2), foi a vez de um navio que transportava óleo de girassol russo ser atingido, desta vez junto à costa da Turquia, outra aliada de Kiev da Otan, mas que mantém boas relações com Putin.
Nesta quarta, o chanceler turco, Hakan Fidan, disse que os ataques eram “muito assustadores” e afetavam toda a segurança no mar Negro. Os países da região já lidam com o problema das minas marítimas que se afastam das áreas que deveriam proteger, ameaçando navios comerciais —só neste ano, foram 150 artefatos desativados.
No caso turco, Kiev foi mais peremptória ao negar a autoria da ação. O país também descartou qualquer ligação com uma explosão externa que atingiu, também na terça, um petroleiro ligado à Rússia na costa do distante Senegal (África).
Putin reagiu às ações de forma incisiva. Na terça, disse que elas constituíam pirataria e que poderia tomar medidas para interditar o acesso de Kiev ao mar Negro, retomando uma crise que havia arrefecido.
A Turquia chegou a mediar um acordo para permitir o escoamento de grãos pela região que colapsou, mas depois foi estabelecido um corredor mais seguro para navios de Kiev costeando os membros da Otan Romênia, Bulgária e Turquia.
ALEMANHA INAUGURA BATERIA ANTIMÍSSIL DE ISRAEL
Em outro desdobramento do conflito ucraniano, a Alemanha inaugurou nesta quarta sua primeira bateria do sistema antimíssil Arrow (flecha, em inglês), produzido por Israel com ajuda norte-americana.
É uma arma de longo alcance, desenhada para interceptar mísseis balísticos a até 2.400 km de distância e a uma altitude de 100 km, fora da atmosfera. Ela foi usada pelos israelenses para abater projéteis do Irã e dos rebeldes houthis do Iêmen nos conflitos decorrentes da guerra em Gaza.
Houve ecos históricos no anúncio. “Quem poderia imaginar que apenas 80 anos após a libertação de Auschwitz, o Estado judeu, por meio de tecnologias que desenvolve, iria ajudar a defender não só a Alemanha, mas toda a Europa“, disse o embaixador israelense em Berlim, Ron Prosor.
Em Israel, o Arrow atua na defesa de longa distância, deixando a média para o sistema Funda de Davi e a curta para o mais famoso Domo de Ferro. O papel será semelhante na Alemanha, que para os alcances menores têm americanos Patriot e domésticos Iris-T.
O país está se rearmando em ritmo acelerado, com uma carta de R$ 2,3 trilhões em projetos militares até 2035. Um dos pontos críticos é a defesa antimíssil, já que no campo ofensivo Putin se gaba das capacidades russas.
No ano passado, ele testou na Ucrânia um míssil balístico desenhado para guerra nuclear, com ogivas múltiplas, o Orechnik. A arma de alcance intermediário causa apreensão na Europa, por cobrir todo o continente —até aqui, a preocupação maior era com modelos de curto alcance Iskander-M, que voam 500 km e são usados na guerra.
Baseados no exclave báltico de Kaliningrado, eles podem atingir áreas próximas de Berlim, mas são assunto para os Patriot. Já o Orechnik ou modelos semelhantes, que voam fora da atmosfera —missão para o Arrow, instalado 60 km ao sul da capital alemã.
Sua compra constituiu a maior exportação militar de Israel até hoje, sendo fechada em 2024 por cerca de R$ 25 bilhões.




