Nos últimos anos, certas pessoas que defendem os direitos transgêneros desenvolveram uma linguagem pública de militância e conflito, na qual hábitos familiares do ativismo de esquerda —tentativas de silenciar discursos controversos, afirmações de que opiniões contrárias são fascistas ou genocidas— são complementados por uma iconografia armada e perigosa que geralmente é associada à direita americana.
Na esteira dos assassinatos de crianças numa escola católica em Minnesota, o segundo ataque em três anos feito por uma pessoa transgênero em uma instituição de ensino cristã, seria relativamente fácil escrever uma coluna responsabilizando tal militância pelas mortes.
Tudo o que eu teria de fazer seria adaptar os roteiros usados para culpar os conservadores pela violência, desde o assassinato de JFK (que os escribas de Camelot rapidamente atribuíram à retórica raivosa dos direitistas de Dallas) até as eras do “Tea Party” (movimento conservador dentro do Partido Republicano que se opôs principalmente a políticas econômicas do governo Barack Obama) e de Donald Trump. Se eu estivesse elaborando esse argumento, insistiria que palavras têm consequências: se você diz às pessoas que elas estão enfrentando um “genocídio trans” e que os conservadores religiosos são agentes de sua subjugação fascista, por que não esperaria que algumas almas perturbadas optassem por ações de justiceiros?
Da mesma forma, se eu estivesse atribuindo culpa, insistiria que imagens violentas inspiram ações violentas: se você usa uma camiseta com o slogan “Proteja Crianças Trans” abaixo da imagem de uma faca (como fez o vice-governador de Minnesota em 2023), ou se você coloca um escritor transgênero empunhando um AR-15 na capa da sua revista (como fez um semanário alternativo há apenas dois meses), você carrega alguma responsabilidade quando o criminoso puxa o gatilho.
Mas não estou elaborando esse argumento porque trairia um tema consistente desta coluna, que remonta à tentativa de assassinato da deputada Gabby Giffords, do Arizona, em 2011: a de que todas as tentativas de culpar a retórica política extrema por ataques a tiros devem ser tratadas com ceticismo, porque o fenômeno da violência de lobos solitários nos Estados Unidos raramente se vincula facilmente a ideologias de esquerda ou de direita.
No caso mais recente, por exemplo, o vídeo e os escritos da assassina de Minnesota parecem apontar para todos os tipos de motivações políticas —antissemitas, racistas, anti-Trump, com o adesivo “Defenda a Igualdade” sendo apenas um item na pantomima, não uma prova de uma cruzada ideológica.
De forma mais ampla, embora a tendência à retórica extrema e apocalíptica seja uma característica consistente da política americana (até mesmo um direito democrático de nascença), a maioria dos assassinos que atacam escolas e igrejas ou que têm políticos como alvo não são realmente participantes dessa polarização. Eles não estão levando o progressismo ou o populismo muito a sério ou longe demais; estão seguindo outras diretrizes e agindo com propósitos completamente diferentes.
Alguns desses propósitos são simplesmente impenetráveis, a lógica onírica dos doentes mentais. Outros são uma mistura de megalomania e mimetismo, em que o objetivo é alcançar a celebridade sombria de atiradores em massa anteriores.
Quando as motivações se conectam à política, elas geralmente não são extensões radicalizadas de lealdades progressistas ou populistas, estudos de caso sobre o poder aterrorizante do progressismo extremo ou do trumpismo militante.
Em vez disso, muitos atiradores parecem achar essas lealdades fracas demais para sustentar uma concepção significativa do eu ou do mundo, flácidas demais para competir com identidades mais bizarras ou sob medida, impotentes demais para sobreviver à força dissolvente da existência digital. Eles não estão sendo radicalizados por um programa ideológico; estão passando para uma terra incógnita.
Isso também significa que, mesmo quando parece haver algum propósito político em um ato de violência, como no suposto assassinato de um executivo de saúde por Luigi Mangione, ele vem cada vez mais misturado com uma bizarra miscelânea de significantes e gestos políticos.
O que, convenientemente, dá a todos que assistem algo para se agarrar, alguma motivação aparente para destacar, algum inimigo ideológico para culpar.
E acelerar esse ciclo de culpa parece ser um dos impulsos mais profundos por trás desses tipos de atrocidades. Isso é explicitado pela ideia de “aceleracionismo” à qual alguns atiradores têm sido atraídos (se a atiradora de Minnesota era um deles, permanece incerto), em que espasmos de violência são um meio de intensificar as contradições culturais, apressar um colapso civilizacional, derrubar o liberalismo e o cristianismo juntos e inaugurar um novo tipo de magia nazista satânica.
Mas mesmo quando não há um vínculo autoconsciente com uma visão apocalíptica, o espírito de divisão ainda está lá, o aspecto diabólico é palpável.
“Diabolos” em grego significa acusador, e nesse sentido o espírito sombrio que inspira esses crimes sofre uma derrota quando reagimos com unidade e solidariedade, em vez de recriminações imediatas.
Enquanto ele obtém uma vitória toda vez que respondemos culpando imediatamente nossos rivais políticos e tentando provar sobre os corpos dos mortos que, sim, nossos oponentes ideológicos são ainda mais malignos do que pensávamos.