A Rússia afirmou nesta sexta-feira (4) que matou 85 pessoas em bombardeio ao que chamou de reunião militar em Krivii Rih, cidade natal do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski. De acordo com Moscou, há oficiais estrangeiros entre os mortos.
“Como resultado do ataque, as perdas inimigas totalizam até 85 militares e oficiais de países estrangeiros, bem como até 20 veículos”, disse o ministério da Defesa russo no Telegram.
A Ucrânia, no entanto, até a última atualização desta reportagem, não confirmava que o ataque ocorrido na cidade atingiu militares. Kiev sustenta que bombardeios ocorridos no local nesta sexta atingiram civis, matando ao menos 16, incluindo 6 crianças, e ferindo cerca de 50 pessoas.
Vídeos publicados nas redes sociais, que não puderam ser checados de maneira independente, mostram uma coluna de fumaça subindo ao céu e feridos sendo socorridos em uma área aberta próxima ao que parecem ser edifícios residenciais. Em imagens divulgadas pela Ucrânia, também é possível ver carros destruídos e um parquinho infantil isolado por fitas.
O chefe da administração militar de Krivii Rih, Oleksandr Vilkul, publicou no Telegram, que a cidade foi alvo de um ataque massivo de drones após os bombardeios. “Há incêndios em quatro locais devido aos impactos dos Shaheds”, disse, em referência ao modelo iraniano de drones suicidas.
Krivii Rih, na região central de Dnipropetrovsk, está a 60 km da linha de frente do conflito, mas costuma ser atacada com drones e mísseis russos.
Em seu discurso por vídeo de noite no horário local, Zelenski afirmou que os esforços de resgate ainda estavam em andamento em sua cidade natal. Ele pediu a aliados ocidentais que exercessem mais pressão sobre Moscou.
“Todas as promessas russas terminam com mísseis, drones, bombas ou artilharia. A diplomacia não significa nada para eles”, disse. “É por isso que a Rússia deve ser colocada sob pressão suficiente para que sinta as consequências de cada mentira, cada ataque, todos os dias em que tira vidas e prolonga a guerra.”
Acordos parciais de cessar-fogo tiveram a concordância das duas partes na semana passada, em negociações mediadas pelos Estados Unidos na Arábia Saudita. As tréguas, envolvendo o mar Negro e infraestrutura energética, foram o primeiro passo em direção a um acordo mais amplo para encerrar a guerra.
Nesta sexta, Kiev e Moscou acusaram-se de violar esses acordos. O Ministério da Defesa da Rússia acusou a Ucrânia de atacar instalações de energia russas seis vezes nas últimas 24 horas.
Zelenski afirmou, por sua vez, que Moscou lançou um ataque de drones em uma usina termelétrica em Kherson nesta sexta.
“Precisamos pôr fim a este terror, proteger as pessoas e forçar a Rússia a buscar a paz”, disse o Ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sibiha.
Kiev afirma que chegou a concordar com uma proposta dos EUA para um cessar-fogo total e incondicional de 30 dias, mas o Kremlin rejeitou tal medida em seu lado das discussões com Washington.
Na terça-feira (1º), o vice-chanceler russo Serguei Riabkov disse que Moscou não pode aceitar as propostas de paz dos EUA “no formato atual”.
“Levamos muito a sério os modelos e soluções propostos pelos americanos, mas não podemos aceitar tudo em sua forma atual”, disse Riabkov à revista russa International Affairs, segundo a mídia estatal.
“Hoje, tudo o que temos é uma tentativa de encontrar algum tipo de estrutura que permita, primeiramente, um cessar-fogo –pelo menos como imaginado pelos americanos. Pelo que podemos ver, não há espaço hoje para nossa principal exigência, que é resolver os problemas relacionados às causas-raiz deste conflito”, afirmou Riabkov.
O presidente russo, Vladimir Putin, afirma desejar que a Ucrânia abandone ambições de se juntar à Otan, que a Rússia controle a totalidade das quatro regiões ucranianas que anexou durante o conflito, e que o tamanho do Exército ucraniano seja limitado. Kiev diz que essas condições equivalem a exigir sua capitulação.
Na quarta-feira (2), um bombardeio com míssil balístico russo matou pelo menos 4 pessoas e feriu outras 17 na Ucrânia. Segundo o jornal The Moscow Times, a ofensiva ocorreu após bombardeio de drones na véspera nas regiões de Zaporíjia e Kharkiv, que juntos mataram 1 pessoa e feriram pelo menos outras 7, de acordo com autoridades.
Na segunda-feira (31), Zelenski pediu que a Rússia seja punida por mais de 183 mil supostos crimes de guerra documentados por seu país desde a invasão em 2022. Segundo o ucraniano, a justiça é necessária para evitar que “o mal se prolifere”.
Ele fez seus comentários em uma cúpula de autoridades europeias em Bucha, a noroeste da capital ucraniana, onde tropas russas foram acusadas de atrocidades, incluindo execuções, estupros e tortura durante o início da invasão em 2022 e breve ocupação do local.
Enquanto aliados ocidentais discutem a presença de tropas estrangeiras em território ucraniano para assegurar o cumprimento de acordos de cessar-fogo, Putin sugeriu nesta semana um novo governo de transição em Kiev, algo que a Ucrânia rejeita e que foi criticado pelo presidente americano, Donald Trump.
“Poderíamos discutir com os EUA, com países europeus e, claro, com nossos parceiros e amigos, sob a tutela da ONU, a possibilidade de estabelecer um governo de transição na Ucrânia”, disse Putin.