Unidades de assalto russas começaram a operar dentro de Pokrovsk, cidade que serve como centro logístico para as forças da Ucrânia na região de Donetsk, no leste do país invadido em fevereiro de 2022 por Vladimir Putin.
Kiev enviou reforços emergenciais para o local, mas o relato de blogueiros militares de ambos os lados é de uma situação bastante precária para as tropas de Volodimir Zelenski. Se Pokrovsk cair, a defesa do restante de Donetsk ainda em mãos ucranianas ficará bastante comprometida.
O avanço ocorre no momento em que as negociações por um cessar-fogo, promovidas por Donald Trump, estão travadas. O presidente americano cancelou uma reunião que anunciou que faria com Putin, alegando falta de perspectiva de sucesso.
Na quinta-feira (23), o republicano partiu para o ataque e editou as primeiras sanções contra a Rússia em seu novo mandato, visando pressionar Putin. As punições sobre as duas maiores petroleiras russas miram os compradores do óleo do país, principalmente como China e Índia, e podem atingir indiretamente o Brasil, que importa 60% do diesel que consome de Moscou.
Pokrovsk é vital para o suprimento das forças de Zelenski em Kramatorsk, o centro administrativo da região de Donetsk desde que a capital homônima da província foi capturada por separatistas pró-Rússia em 2014, logo depois de Putin anexar a Crimeia como represália pela derrubada do governo aliado de Moscou em Kiev.
Em agosto, pouco antes da reunião de cúpula entre o russo e Trump no Alasca, forças russas fizeram um avanço grande em sua direção, efetivamente cercando a cidade. Kiev reagiu e conseguiu conter a ofensiva, mas alto custo segundo analistas militares.
Segundo o Estado-Maior ucraniano disse nesta segunda-feira (27), mais de 200 soldados russos invadiram a cidade em pelo menos dois grupos distintos, e lutam no seu centro arruinado. Dos cerca de 60 mil habitantes que tinha antes da guerra, Pokrovsk hoje tem cerca de 1.300.
Kiev deslocou a 7ª Unidade de Resposta Rápida de suas forças aerotransportadas para tentar salvar a cidade. “Os ocupantes querem dispersar nossas forças e bloquear os corredores logísticos”, disse a força numa postagem do Facebook.
Segundo o referencial site ucraniano Deep State, um quinto da cidade já é uma zona contestada. No domingo (26), o chefe do Estado-Maior russo, Valeri Gerasimov, havia dito que 5.500 soldados ucranianos estavam cercados na cidade, informação que foi negada por Kiev. Ele também disse que outros 5.000 militares de Zelenski estavam presos num bolsão na região de Kupiansk, em Kharkiv (norte).
Nos objetivos explícitos da guerra, colocados em papel pela Rússia na tentativa de retomar as negociações com a Ucrânia, Putin exige o controle das quatro regiões que anexou ilegalmente em 2022.
Hoje, ele controla no leste toda a província de Lugansk e 75% de Donetsk, com proporções similares nas áreas ao sul de Zaporíjia e Kherson. Em conversas com Trump, Putin sugeriu que trocaria as frações que não domina dessas duas últimas regiões pela entrega de Donetsk, o que Zelenski rejeitou.
Já do lado ucraniano, a noite desta segunda foi marcada por um dos maiores ataques com drones contra posições russas. Moscou disse ter derrubado 193 aviões-robôs em 13 regiões do país, 36 dos quais se dirigiam para a capital.
Zelenski também tem escalado a guerra para mostrar força no momento em que pede a Trump o fornecimento de mísseis de cruzeiro Tomahawk, o que o americano se recusa a fazer por temer reação da Rússia.
PUTIN ELEVA RETÓRICA MILITARISTA
Com o escopo das sanções ainda sendo analisado, a Rússia tem avançado em campo e na retórica militarista. Na semana passada, promoveu exercício de ataque nuclear em paralelo à manobra anual da Otan, a aliança militar do Ocidente.
Na mesma reunião com Gerasimov no domingo, um Putin vestindo uma rara farda anunciou ter testado com sucesso pela primeira vez o míssil Burevestnik, um modelo de cruzeiro com propulsão nuclear que pode ficar meses a fio no ar.
Nesta segunda, Trump criticou o ensaio, dizendo que Putin deveria acabar com a guerra e não ficar testando mísseis. O Kremlin respondeu dizendo que a Rússia age “de acordo com seus próprios interesses”.
O armamento voou cerca de 14 mil km em 15 horas, provavelmente em círculos no Ártico russo. O míssil é definido pelo especialista russo em armas nucleares Pavel Podvig, do Instituto das Nações Unidas para Pesquisas de Desarmamento, como uma “peça de propaganda”, pois sendo subsônico ele é facilmente derrubável.
Os defensores da arma dizem que, como voa a até 25 metors do chão e é altamente manobrável, o Burevestnik conseguiria escapar da maior parte dos radares. A arma é desenhada para carregar uma ogiva nuclear de até 1 megaton.




