FELIPE BRAMUCCI
FLORIANÓPOLIS, SC (FOLHAPRESS) – Estado com o maior saldo migratório do país nos últimos anos, Santa Catarina tem atraído famílias russas, que se mudam para o Brasil para ter filhos e garantir o passaporte nacional -em busca de maior liberdade de circulação internacional.
O documento brasileiro garante acesso facilitado a mais países que sua versão russa, que ficou ainda mais restrita desde o início da guerra na Ucrânia.
Florianópolis é a cidade com mais registros de residência de imigrantes russos no Brasil, segundo o Observatório das Migrações Internacionais, ligado ao Ministério da Justiça. Desde 2021, foram emitidos 1.050 vistos na capital de Santa Catarina.
A população projetada no estado deve sair de quase 8,2 milhões de habitantes em 2025 para 10,4 milhões em 2070, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É o maior aumento esperado para o período.
“A maioria dos russos escolhe Florianópolis por oferecer segurança semelhante à Rússia. Poderíamos escolher o Rio de Janeiro, mas lá é considerado perigoso. Por isso optamos por aqui”, diz Aleksandra Fedianina, 26, artista nascida em São Petersburgo que vive com sua família em Santa Catarina há três anos.
Aleksandra veio para o Brasil ainda grávida de sua filha, preocupada com os desdobramentos da guerra. “Acho que é bom quando a pessoa pode escolher onde quer morar e não precisa ficar obrigatoriamente em um país só. Isso significa liberdade.”
Segundo ela, a maioria dos russos em Florianópolis trabalha remotamente para empresas do país de origem ou vive de investimentos. Seu marido segue esse perfil como engenheiro de software, enquanto ela empreende como tatuadora no centro da cidade.
Famílias russas interessadas no passaporte brasileiro conhecem Florianópolis principalmente por anúncios nas redes sociais, divulgados por pequenas empresas que oferecem doulas para parto e assessoria na retirada de documentos. Nas propagandas, a cidade é apresentada como paradisíaca e segura.
A Constituição brasileira assegura dupla cidadania aos nascidos no país e permite a naturalização dos pais em até um ano.
Os dados do Observatório não indicam com precisão quantos russos vivem atualmente em Florianópolis. Isso porque o visto pode ser emitido na cidade, mas o imigrante pode se mudar depois para outras regiões do país.
Apesar disso, os dados mostram que a capital catarinense concentra mais registros de residência do que Rio de Janeiro (732) e São Paulo (440).
Uma dessas famílias é a de Ekaterina Shutikova, 32, que decidiu deixar o país natal para empreender no Brasil há seis anos.
Inicialmente, o casal planejava morar na Espanha, mas não conseguiu obter autorização. Foi então que surgiu a ideia de ter o filho no Brasil.
Começaram a comprar imóveis em Florianópolis e logo perceberam uma demanda: ao ajudar amigos russos a investir em Santa Catarina, viram uma oportunidade de negócio. Hoje, a família atua em uma imobiliária especializada no atendimento a russos interessados em investir no país.
“Acredito que a maioria dos russos planeja voltar ao país de origem ou morar em algum lugar da Europa após obter os documentos brasileiros. Na prática, porém, apenas metade retorna. Apesar de barreiras como a língua e a infraestrutura, muitos acabam se acostumando e se sentem em casa aqui”, diz.
Stanislav Efimov, russo naturalizado brasileiro, vive no país há oito anos. Chegou sozinho a São Paulo aos 20 anos para trabalhar e acabou se mudando para Florianópolis, atraído pela segurança e pela comunidade que começava a se formar na capital catarinense.
Ele trabalha com marketing e mantém um canal no YouTube para falar sobre a relação entre os dois países. “Para os brasileiros, a Rússia é algo muito exótico; são muito curiosos para conhecer nosso país. Minha ideia era aproximar as duas culturas”, diz ele.
Segundo o Henley Passport Index, que mede a liberdade de viagem dos passaportes, o documento brasileiro está entre os mais vantajosos entre as nações emergentes.
O passaporte brasileiro permite entrada sem visto ou com trâmites simplificados em 171 países, enquanto o russo enfrenta restrições decorrentes do isolamento diplomático após a guerra na Ucrânia, incluindo o endurecimento das regras de acesso à União Europeia.
De acordo com advogado especialista em direito constitucional Henderson Fürst, crianças russas nascidas no Brasil têm direito à dupla cidadania.
“Ter um filho no Brasil também acelera o processo de naturalização dos pais. Sem filhos, o imigrante precisa comprovar quatro anos de residência e ausência de antecedentes criminais. Com um filho brasileiro, o prazo cai para um ano”, afirma.
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