Michael Cohen, ex-advogado de Donald Trump, admitiu nesta segunda-feira (13) que armou com seu antigo chefe e com o então editor do tabloide National Enquirer, David Pecker, um esquema para suprimir histórias que pudessem prejudicar sua campanha à Presidência de 2016.

A declaração foi feita quando ele depunha no julgamento contra o ex-presidente dos Estados Unidos no Tribunal Criminal Estadual de Nova York, em Manhattan.

Na ação, Trump é acusado de disfarçar em seus registros contábeis o pagamento de US$ 130 mil para impedir que a atriz pornô Stormy Daniels revelasse que tinha tido relações sexuais com ele. Segundo a Promotoria nova-iorquina, a omissão fere tanto a legislação eleitoral relativa ao financiamento de campanhas quanto as normas tributárias do estado.

Espera-se que Cohen confirme aos jurados que ajudou o ex-presidente a ocultar o pagamento ao tirá-lo do próprio bolso e depois, já durante o mandato do republicano na Casa Branca, ser reembolsado por meio de uma das empresas de Trump, que registrou o gasto como se fossem os honorários do advogado.

Cohen, 57, declarou-se culpado do crime em 2018 e foi condenado a três anos de reclusão, tempo que acabou sendo reduzido por bom comportamento. O advogado rompeu com o ex-chefe pouco depois de ele assumir a Presidência, e desde então tornou-se um de seus maiores críticos, tecendo acusações contra ele nas redes sociais e em entrevistas.

Trump se diz inocente das acusações, que ele classifica de perseguição política, e declara inclusive jamais ter feito sexo com Daniels. O caso é um dos quatro processos criminais que ele enfrenta na Justiça meses antes das eleições presidenciais.

No depoimento, Cohen afirmou que teve uma reunião na Trump Tower em 2015 com ambos Trump e David Pecker na qual discutiu-se o uso do tabloide em que Pecker era editor na época para impulsionar a candidatura do republicano e minar a credibilidade de seus rivais.

Segundo o advogado, Pecker teria concordado com a estratégia na ocasião. De fato, o editor disse em seu depoimento que pagou a ex-modelo da Playboy Karen McDougal para ter direitos exclusivos a seu relato e, assim, impedir que concorrentes publicassem versões dele prejudiciais ao republicano.

O testemunho de Cohen se alinha à narrativa da Promotoria de que o pagamento a Daniels fazia parte de um esquema mais amplo para enterrar notícias que prejudicassem a candidatura de Trump.

A declaração do advogado na manhã desta segunda pode ser importante para o andamento do caso no sentido que explicaria porque teria sido Cohen, não Pecker, o responsável por pagar Daniels —testemunhas sugeriram em momentos anteriores do julgamento que o editor começou a ficar frustrado por usar o próprio dinheiro para silenciar personagens e jamais recebê-lo de volta.

Trump ouviu a maior parte do testemunho até o início da tarde de olhos fechados, de acordo com relato do jornal The New York Times. Enquanto isso, seus assistentes, que costumam ficar mexendo em seus celulares durante os depoimentos, deixaram de lado os aparelhos para prestar atenção no depoimento de Cohen no momento em que ele começou a descrever o esquema.

Se condenado, o republicano poderia receber pena de até quatro anos de prisão. Segundo juristas, no entanto, o mais provável nesse caso é que ele receba pena de liberdade condicional.