O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira (2) que Chicago é a cidade “mais perigosa do mundo”, um dia após milhares de pessoas irem às ruas protestar contra os planos do republicano de utilizar a Guarda Nacional e agentes federais em uma operação anti-imigração em larga escala ainda nesta semana.
“Vou resolver o problema da criminalidade rapidamente, como fiz em Washington”, disse Trump em um post em sua rede Truth Social, referindo-se ao envio de agentes federais para as ruas da capital do país. “Chicago estará segura e em breve.” Nesta segunda (1º), feriado do Dia do Trabalho nos Estados Unidos, cerca de 10 mil pessoas participaram da manifestação contra o governo Trump.
A declaração do presidente contrasta com as estatísticas mais recentes. Nos primeiros seis meses deste ano, os homicídios caíram 32%, e tiroteios, 37,4%, de acordo com a prefeitura.
Com 2,7 milhões de habitantes e quase 10 milhões na região metropolitana, Chicago é a terceira cidade mais populosa dos EUA (atrás de Nova York e Los Angeles) e tem sido governada pelo Partido Democrata de maneira ininterrupta há 90 anos, em uma das regiões mais alinhadas à legenda no país.
O atual prefeito, Brandon Johnson, assinou um decreto no sábado (30) ordenando que a polícia, controlada pelo município, “não colabore com agentes federais” em operações anti-imigração. Na manifestação desta segunda, Johnson discursou e afirmou que seu governo “defenderá o país”.
Desde que assumiu o controle da polícia de Washington e mobilizou a Guarda Nacional para combater o crime na capital americana, Trump vem ameaçando fazer o mesmo contra outras cidades governadas por políticos do Partido Democrata.
Trump fez uma série de ataques aos democratas de Chicago nos últimos dias, classificando a cidade de “uma bagunça”, “um lugar infernal” e “um campo de batalha”. O presidente muitas vezes usa dados defasados para tentar reforçar sua justificativa de enviar tropas às cidades. Pais negros veem filhos em perigo com o envio das tropas federais e sentem recuo em políticas contra a desigualdade racial. Famílias temem que agentes da Guarda Nacional não tenham a mesma compreensão cultural de seus bairros como a polícia local.
Antes de comprar a briga com Johnson, que é negro, Trump também travou um embate com a prefeita democrata de Washington, Muriel Bowser, também uma mulher negra.
Quando Trump descreveu Washington como cheia de “derramamento de sangue, caos e miséria e coisa pior”, houve críticas de que a declaração teve viés racista —a capital dos EUA é uma das cidades mais negras do país.
O governador de Illinois, o democrata J. B. Pritzker, chamou os planos da Casa Branca de enviar soldados da Guarda Nacional para Chicago de “uma invasão com tropas americanas”. “Ninguém no governo federal, o presidente ou qualquer pessoa abaixo dele, ninguém me ligou. É óbvio que estão planejando isso em segredo”, disse Pritzker no domingo (31).
Trump usou uma onda de tiroteios no fim de semana do feriado nos Estados Unidos para atacar Pritzker. “Seis pessoas morreram e 24 foram baleadas em Chicago no fim de semana, e J. B. Pritzker, o patético e fraco governador de Illinois, acha que não precisa de ajuda para acabar com o CRIME. Ele é MALUCO!!! É melhor ele resolver isso RÁPIDO, ou nós vamos entrar!”, escreveu o presidente americano no sábado (30).
A secretária de Segurança Doméstica do governo Trump, Kristi Noem, confirmou ter enviado agentes federais a Chicago em preparação para a ação anti-imigração, que deve começar na sexta-feira (5), de acordo com autoridades ouvidas em condição de anonimato pela emissora CNN.
Noem disse ainda planejar operações para cidades como San Francisco e Boston, outros dois bastiões democratas.
Em junho, uma operação do ICE (serviço de imigração americano) em locais onde imigrantes se reuniam para procurar emprego em Los Angeles desencadeou dias de protestos na cidade californiana.