Trump quer fazer de Gaza um ponto turístico para cristãos? – 16/04/2025 – Cotidiano

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Quando Donald Trump propôs transformar a faixa de Gaza em um resort de férias à beira do Mediterrâneo, a maior parte do mundo reagiu indignada. Buscaria lucro imobiliário? Uma nova cruzada contra os muçulmanos? Poucos falaram sobre seu alinhamento com cristãos ultraconservadores para promover o turismo religioso na Terra Santa.

A visita aos lugares santos corresponde a uma parcela significativa do turismo em Israel, pois o país concentra grande parte dos cenários das narrativas bíblicas, sobretudo em Jerusalém. Esta Folha noticiou na semana passada que Israel começa a organizar passeios turísticos nas Colinas de Golã, tomadas da Síria na Guerra dos Seis Dias. A Palestina e a Jordânia também atraem aqueles que querem ver de perto algumas paisagens da Bíblia: a cidade de Jericó, a tumba dos patriarcas em Hebron ou o Monte Nebo, de onde Moisés avistou a Terra Prometida.

A motivação religiosa está no centro dessa busca. Judeus do mundo inteiro visitam o Muro das Lamentações, parte do que restou do Segundo Templo, construído por Herodes. Muçulmanos consideram a mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, uma das três mais sagradas do mundo. Para os cristãos, que são de longe a maioria dos turistas, a região é o palco da vida e morte do Cristo.

Para os fiéis cristãos, a experiência oferece uma dimensão espiritual importante, de contemplação e celebração em locais com uma aura sagrada. Trata-se de um retorno às fontes, da possibilidade de caminhar por onde Jesus caminhou e de compartilhar de seu sofrimento acompanhando as procissões pela Via Dolorosa.

É também um negócio que movimenta bilhões em pacotes de viagem, transporte, hotelaria, visitas guiadas e venda de souvenirs. Se o leitor ainda não tem planos para as férias, pode escolher entre uma caminhada de 65 quilômetros da Galileia até Cafarnaum, chamada “Jesus trail”, ou um cruzeiro ao custo de alguns milhares de dólares, que inclui a visita a sítios arqueológicos e igrejas.

A viagem à Terra Santa está longe de ser um fenômeno moderno. Mesmo antes do cristianismo, Jerusalém e seu templo atraíam as peregrinações dos judeus que habitavam nas vizinhanças e mesmo daqueles dispersos pelo mundo antigo. As festividades, como a Páscoa, enchiam as ruas e, segundo os evangelhos, foi durante uma delas que Jesus veio à cidade pela última vez.

Foi, porém, a partir do século 4º que a região viu multiplicarem-se os lugares de memória do cristianismo. Com a legalização da religião por Constantino, o imperador e sua mãe, Helena, passaram a promover o culto dos lugares ligados à vida de Jesus.

Muitos desses locais foram identificados a partir de tradições locais ou simplesmente inventados artificialmente, mas deram origem a alguns dos lugares mais sagrados do cristianismo, como a Gruta da Natividade, em Belém, e a Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém.

Foi ainda no século 4º que uma peregrina chamada Egéria escreveu um dos primeiros relatos de viagem à Terra Santa, descrevendo suas passagens pelo Sinai, pela Galileia, pelo rio Jordão. O texto é uma longa carta dirigida a mulheres piedosas que gostariam, mas não tiveram a oportunidade, de uma viagem tão penosa e cara.

Desde então, as peregrinações religiosas cristãs viveram momentos de alto e baixo, dependendo do acesso que podiam ter à região, durante muito tempo ocupada pelos muçulmanos. Dentre os argumentos favoráveis às cruzadas, entre os séculos 11 e 13, a liberação dos lugares santos foi ideologicamente o mais influente.

Esse pequeno histórico mostra que, para além dos interesses econômicos e geopolíticos, a dimensão religiosa envolvida na ideia cristã de viagem à Terra Santa pode ser um fator decisivo na intervenção de Donald Trump no conflito entre Israel e Gaza. E, infelizmente, deve ser levado muito a sério.



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