Um edifício governamental inativo na capital dos Estados Unidos pode parecer um cenário improvável para a assinatura de um acordo de paz. Mas quase nove meses depois de o governo de Donald Trump ter assumido o controle da sede do Instituto da Paz dos EUA em um extraordinário confronto público e praticamente fechá-lo, o centro agora ressurge, renomeado em homenagem ao próprio Trump.

Na manhã anterior à cerimônia de assinatura de acordo com os presidentes de Ruanda e da República Democrática do Congo (RDC) com Trump, nesta quinta-feira (4), trabalhadores chegaram ao edifício no National Mall para instalar o nome de Trump em grandes letras prateadas em dois lados do exterior do edifício, posicionando seu nome à esquerda de onde o nome do instituto já estava gravado na fachada.

O resultado foi a renomeação do edifício como “Instituto da Paz dos Estados Unidos Donald J. Trump”.

A Casa Branca confirmou na quarta-feira à noite que o instituto havia sido renomeado em homenagem ao presidente “como um poderoso lembrete do que uma liderança forte pode realizar para a estabilidade global”, afirmou Anna Kelly, uma porta-voz.

“Parabéns, mundo!”, acrescentou ela.

Renomear o instituto, que tem décadas de existência e havia sido celebrado por presidentes como Ronald Reagan, e incluir seu nome à fachada parece ser uma continuação dos esforços de Trump para se posicionar como um grande negociador diplomático e de uma renovada campanha para um Prêmio Nobel da Paz.

No último ano, Trump reivindicou crédito por encerrar uma série de conflitos, incluindo a guerra de três décadas entre Ruanda e RDC. A Casa Branca afirmou anteriormente que seu trabalho em diplomacia é mais impressionante do que o do Instituto da Paz, que a Casa Branca chamou de “entidade inchada e inútil”.

A sede do instituto ficou vazia desde que o governo federal assumiu o controle do prédio em março, em meio às medidas do chamado Departamento de Eficiência Governamental do bilionário Elon Musk para desmantelar instituições do país que trabalham com política externa.

Nas semanas após a tomada do edifício, o governo demitiu a maioria da equipe, desmantelou a organização e chegou a desmontar uma instalação interna com o nome e o logotipo do instituto, uma representação de uma pomba e um ramo de oliveira.

George Foote, um ex-advogado do instituto que agora faz parte de um processo contra a gestão federal, disse em um comunicado na quarta-feira que “renomear o edifício do instituto acrescenta insulto à injúria”.

O edifício é parte central do processo na Justiça. O instituto foi criado pelo Congresso e recebeu dinheiro federal para seus programas, mas ex-membros da equipe argumentaram que não faz parte do poder Executivo e, portanto, não está sujeito à autoridade do presidente.

O proeminente edifício com teto de vidro, projetado como um símbolo nacional de paz, foi construído em 2012. Pago com uma mistura de fundos privados e federais, está localizado em um terreno de propriedade da Marinha, que transferiu a jurisdição para o instituto há mais de duas décadas.

Uma pessoa com conhecimento da situação, que não estava autorizada a falar publicamente, disse o governo havia recontratado alguns funcionários antes do evento desta quinta-feira.

Depois que a antiga equipe do instituto entrou na Justiça, a instiuição recuperou temporariamente o controle do edifício em maio, depois que um juiz federal decidiu que a tomada de controle pela gestão Trump foi uma “grave usurpação de poder”, e restaurou tanto o edifício quanto a liderança que havia sido demitida.

O governo, no entanto, apelou da decisão, e um tribunal superior devolveu o edifício ao poder Executivo federal enquanto analisa o caso. O atual chefe do instituto, um alto funcionário do Departamento de Estado que foi demitido de um cargo na Casa Branca durante a primeira gestão Trump, não apresentou publicamente nenhum plano para a organização ou para o edifício.

No mês passado, o tribunal rejeitou um último pedido da antiga equipe do instituto para recuperar o controle do edifício. Mas ex-funcionários, muitos dos quais continuam com o trabalho internacional do instituto de forma independente, disseram que planejavam protestar contra o que chamaram de roubo do edifício nesta quinta-feira, durante a cerimônia de assinatura que será organizada por Trump.

A expectativa é de que qualquer decisão do tribunal de apelações sobre o destino do instituto e do edifício só ocorra a partir do ano que vem.

“Os legítimos proprietários prevalecerão no final e restaurarão o Instituto da Paz dos EUA e o edifício para seus propósitos estatutários”, disse Foote na quarta-feira.