O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu neste domingo (22) que “uma mudança de regime” no Irã é possível apesar de vários funcionários de seu governo terem insistido em que os ataques americanos contra instalações nucleares iranianas não tinham esse objetivo.
“Não é politicamente correto usar o termo ‘mudança de regime’, mas sim, o atual regime iraniano não pode fazer com que o Irã volte a ser grande. Por que não haveria uma mudança de regime? MIGA!!! [sigla para Make Iran Great Again]”, publicou Trump em sua plataforma Truth Social, ao fazer um trocadilho com seu famoso acrônimo Maga, como é conhecido o movimento ultraconservador americano “Make America Great Again” (faça a América grandiosa novamente).
Mais de 200 locais em Teerã foram atacados por Israel desde o início da guerra em 13 de junho, indicou neste domingo o governador da capital iraniana.
Sozinho, o Irã tem alguns caminhos. Um seria aceitar a capitulação proposta por Trump, que disse estar satisfeito com o que chamou de obliteração da “fortaleza nuclear” de Fordow, além das centrais de Natanz e Isfahan.
A história da República Islâmica, cujo ato fundador em 1979 foi a tomada da embaixada americana e a subsequente crise dos reféns, desautoriza em tese essa opção.
O aiatolá Ali Khamenei é o segundo líder supremo do país desde a Revolução Islâmica de 1979 e ocupa o cargo mais alto desde 1989. Ele está no centro de uma complexa rede de núcleos de poder concorrentes, tem poder de veto sobre qualquer questão de política pública e seleciona candidatos para cargos públicos.
Como chefe de Estado e comandante-chefe das Forças Armadas, incluindo a Guarda Revolucionária Iraniana (IRGC, na sigla em inglês), sua posição o torna todo-poderoso. Por anos, ele viveu na clandestinidade ou esteve na prisão. Foi preso seis vezes pela polícia secreta do xá, sofrendo tortura.
Um ano após a Revolução Islâmica de 1979, o aiatolá Ruhollah Khomeini o nomeou líder da oração de sexta-feira da capital, Teerã. Khamenei foi eleito presidente em 1981, antes de ser escolhido por anciãos religiosos em 1989 como sucessor do aiatolá Khomeini, que havia morrido aos 86 anos.
A crise atual tem causas mais profundas, mas seu gatilho foi o programa nuclear iraniano. Trump havia deixado em 2018 acordo que trocava a promessa de Teerã de não buscar a bomba atômica pelo relaxamento de sanções econômicas.
O Irã passou a acelerar o ritmo do enriquecimento de seu urânio, e especialistas falam que o país poderia fazer rapidamente até seis bombas —Israel estima 15. Trump então reabriu as negociações sob coerção militar, reforçando suas posições na região, e exigiu o fim total do programa.
Khamenei não topou, pois isso tiraria a principal carta para negociações. Ter as centrífugas de enriquecimento significa tanto ser pacífico como poder ser uma potência nuclear, se for essa a opção. O impasse e um relatório da ONU considerando o Irã em violação de compromissos de transparência de seu programa deram a senha para Israel agir, mesmo sem os EUA.
Agora o ataque de Trump, protelado por uma semana, foi desenhado para encerrar o conflito em termos favoráveis aos EUA e a Israel, sem buscar mudar o regime em Teerã —Binyamin Netanyahu até quer isso e o americano sugeriu matar Khamenei, mas a confusão seria enorme e tragaria Washington.
Tudo o que o republicano não quer é ser acusado, como já está sendo, por sua base fiel de ter traído o princípio de não se envolver em conflitos distantes. Num mundo globalizado, por óbvio, isso não existe, daí o formato de ataque em prestações proposto por Washington.