O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, fez uma aparição defensiva e, por vezes, exasperada na televisão americana nesta sexta-feira (28) e disse que seu país não quer perder os Estados Unidos como parceiros horas depois do bate boca que protagonizou na Casa Branca com o presidente Donald Trump.
Em entrevista à emissora Fox News, simpática a Trump, Zelenski reforçou repetidas vezes que seu país precisa de garantias de segurança como parte de qualquer acordo de paz entre Ucrânia e Rússia, país que invadiu o vizinho em 2022. Quando questionado sobre um possível arrependimento da briga em público com Trump, disse que “às vezes é preciso discutir coisas fora da mídia”.
Em determinado momento, Bret Baier, o âncora da Fox News que conduziu a entrevista, perguntou a Zelenski o que foi que o deixou com raiva na conversa com Trump.
Respondendo sempre em inglês, sem erguer a voz mas visivelmente desconfortável, o ucraniano disse: “Não é sobre raiva. Mas quando eu estou nos EUA e políticos americanos me dizem que a Ucrânia está quase destruída, que nossos soldados fogem do inimigo, que não são heróis, que eu sou um ditador… qual é a reação que tenho?”, perguntou, fazendo referência à fala de Trump acusando Zelenski de ser um ditador por não convocar eleições durante a guerra —a legislação ucraniana permite a suspensão do pleito quando há lei marcial, como é o caso.
O presidente prosseguiu: “A reação é: onde está nossa amizade? Por isso, não quero perder os EUA como parceiro. Em Munique [na Conferência de Segurança] e em outros momentos, dissemos: ‘por favor, não erre números. Não temos milhões de perdas militares'”, continuou, reclamando de estimativas sobre as baixas das Forças Armadas ucranianas. “Cada número, cada vida importa, são pais, mães. Não é um conto de fadas.”
Zelenski começou a entrevista agradecendo ao povo, ao governo e ao Congresso americano. “A Ucrânia sobreviveu por causa de vocês”, afirmou. Em tentativa de justificar sua posição, o ucraniano repetiu diversas vezes que seu país foi agredido pela Rússia e que Moscou precisa levar a culpa pela guerra, não Kiev.
Baier perguntou a Zelenski se ele achava que devia um pedido de desculpas pelo que ocorreu na Casa Branca, ao que o ucraniano não respondeu. Ele se limitou a dizer que os ucranianos, mais do que todos, querem a paz. Quando Baier insistiu, Zelenski disse apenas que respeita Trump. “Acho que esse tipo de briga pública não é bom para nenhum dos lados”, afirmou.
Zelenski tentou transmitir sua mensagem de que busca um acordo de paz favorável para Kiev e, na emissora conservadora, citou o ícone republicano Ronald Reagan: “a paz não é só a ausência de guerra”, repetindo que precisa de garantias de segurança, como a presença de soldados de outros países europeus na Ucrânia, para que Vladimir Putin não volte a atacar.
“Falo aqui como presidente de um povo em guerra há três anos, e só o que queremos ouvir é que os EUA estão do nosso lado, e não do lado da Rússia”, afirmou.
Baier, repetindo críticas de políticos republicanos, perguntou se Zelenski é contra um acordo de paz. “A Ucrânia fará negociações. Mas precisa ser uma paz justa e duradoura, e precisamos estar em uma posição forte para negociar com a Rússia, ou seja, nossos parceiros precisam estar conosco e temos que ter garantias de segurança.”
Nesse sentido, Zelenski defendeu o acordo de minerais raros como contrapartida para que seu país receba essas garantias, esperança da diplomacia ucraniana para convencer Trump a voltar a apoiar Kiev. Ainda assim, ponderou: “a Europa está pronta para nos apoiar financeira e militarmente”.
Baier perguntou a Zelenski se ele pretende renunciar, como sugeriu o senador republicano Lindsey Graham, próximo de Trump. O ucraniano respondeu que isso não seria útil para seu país, e que apenas o povo ucraniano pode decidir se ele deve sair do poder.
O jornalista também leu críticas de políticos do Partido Democrata, que acusaram Trump de ser um “idiota útil” de Putin, e perguntou se Zelenski concordava com a avaliação de que o republicano é muito próximo do líder russo.
“Entendo que Trump quer ser um mediador”, disse o ucraniano após uma pausa. “Ele quer estar no meio para trazer Putin à mesa de negociações. Mas eu gostaria que ele estivesse mais do nosso lado, porque foram os russos que trouxeram a guerra até nós. A culpa é deles. Mas Trump sempre falou em paz por meio da força, e nós, parceiros, juntos, somos muito fortes contra a Rússia.”
Por fim, Zelenski descartou a ideia de que sua relação com Trump está irremediavelmente danificada. “São relações entre nossos povos, não apenas entre presidentes. Mas estamos tristes e lamentamos o que ocorreu.”