A Bolívia realizará o segundo turno presidencial neste domingo (19), após nenhum candidato ter obtido mais de 50% dos votos na primeira rodada de votação, em 17 de agosto.
O primeiro turno marcou uma derrota histórica para o MAS (Movimento ao Socialismo), partido de Evo Morales que dominou a política do país sul-americano por quase 20 anos.
O que mais preocupa os eleitores é a economia frágil. As exportações de gás natural, antes abundantes, despencaram, a inflação atingiu o nível mais alto em décadas, e há escassez de combustíveis.
O novo presidente assumirá o cargo em 8 de novembro. Entenda o que está em jogo e o que se sabe sobre a eleição:
O que está em jogo?
Quem vencer o segundo turno terá um mandato presidencial que marcará o fim do domínio do MAS, que governou quase continuamente desde 2005. O MAS foi fundado pelo ex-presidente Evo Morales, um ícone da esquerda latino-americana, que já contou com amplo apoio da maioria indígena da Bolívia.
O segundo turno coloca frente a frente o senador centrista Rodrigo Paz e o ex-presidente conservador Jorge Tuto Quiroga. Ambos os candidatos têm como objetivo reverter elementos do modelo estatal da era MAS, mas diferem quanto à intensidade das mudanças.
Ambos também prometeram melhorar os laços com Washington após quase duas décadas de governos socialistas alinhados mais de perto com Rússia, China e Irã.
Mudanças parecem iminentes no modelo econômico estatal da Bolívia em meio à pior crise econômica em décadas, afetada por inflação, escassez de combustíveis e dólares, e queda na arrecadação estatal.
Como funciona a eleição?
O tribunal eleitoral da Bolívia implementou um novo sistema este ano em resposta a acusações de fraude feitas após a eleição presidencial de 2019, que levou a protestos generalizados e à renúncia do então presidente Evo Morales.
Sob o novo sistema, as atas de votação serão fotografadas nas seções eleitorais e transmitidas diretamente para os centros de apuração. Observadores internacionais da União Europeia e da Organização dos Estados Americanos devem acompanhar o processo.
As urnas abrem às 9 de Brasília e fecham às 17h (a Bolívia está com 1h a menos de fuso). O tribunal pretende publicar 80% dos resultados preliminares por volta das 21h de Brasília. Os resultados oficiais devem ser divulgados em até sete dias.
Quem são os candidatos e quais suas plataformas?
A corrida promete ser acirrada, de acordo com pesquisas de opinião.
Quiroga, 65, um conservador que ocupou brevemente a Presidência de 2001 a 2002, está ligeiramente à frente. Seu companheiro de chapa é um executivo de tecnologia, Juan Pablo Velasco, reforçando a mensagem pró-negócios do partido. A plataforma de Quiroga inclui expansão do comércio livre, corte de gastos e restauração dos direitos de propriedade privada.
Seu oponente é Paz, 58, centrista e filho de um ex-presidente. Seu companheiro de chapa, ex-capitão da polícia e agora ativista de mídia social Edman Lara, mobilizou parte do eleitorado mais jovem. Suas principais propostas incluem descentralizar o governo e promover o crescimento do setor privado, mantendo programas sociais.
Paz contrariou expectativas ao vencer o primeiro turno com 32% dos votos. Quiroga obteve 27%.
O que a eleição poderia significar para a produção de lítio?
Os vastos salares da Bolívia abrigam as maiores reservas mundiais do metal-chave para baterias, o lítio, mas o país há muito tempo enfrenta dificuldades para aumentar a produção ou desenvolver reservas comercialmente viáveis.
Empresas russas e chinesas estão entre as poucas que avançaram com propostas de desenvolvimento, mas os acordos ficaram paralisados no Legislativo devido a disputas políticas.
Alguns investidores estão esperançosos de que qualquer um dos candidatos facilitaria regulamentações e melhoraria o acesso às reservas, em grande parte inexploradas.